E o dia acorda...
Já era bem tarde quando gaivotas desciam pelas minhas costas, peixes pulavam de meus olhos e carneirinhos corriam no feltro verde de meus cabelos.
Já atravessava mais uma primavera, o cheiro da rosa atravessando os livros, cavalos pelas colinas de espumas. Fios de luz escorrendo de meus dedos e crescendo em meus pés os mistérios mais longos. O prazer cortando o tempo, na calma superfície do meu pensamento.
Explodindo nos meus lábios vaga lumes, vão e vem como flechas atiradas no silencio, preenchendo o espaço noturno que se movia.
Já era bem mais tarde ainda quando a grande bola azul quase desaparecia entre os lençóis de lírios, situados não muito longe do rubro lago, que ficava depois dos meus braços.
Breve, tangendo os beirais do meu coração, onde apresento ao mundo este impulso de viver livre, o sol vai surgir, lançando seus raios feitos pássaros de fogos, abrindo caminhos, invocando o vento do meu sopro, e o dia acorda...