A FLOR DOS UMBRAIS
 

     O  imenso castelo era cercado de florestas milenares e fontes que se lançavam das alturas, tão altas que se esvaiam nebulosas aos ventos, aumentando a luxuriante vegetação. As grandes arcadas e altos umbrais davam para o maravilhoso vale receptor das cascatas, formando um rio que bem ao fundo, serpenteava como um fio de prata. Em uma varanda, cercada de leves cortinas de levíssimas sedas em cores pasteis, predominando os tons rosas, esvoaçavam aos ventos das alturas em que se punha o castelo. Silenciosa e tranquila a princesa aguarda, o patriarca, que lhe trará a coroa de flores.
Naquele reino, as flores eram as maiores jóias de valor da Criação . Uma coroa de pétalas e flores... seu valor símbólico para aquele povo, excedia a qualquer tesouro imaginável! Era uma coroa de flores para uma preciosa flor! 
      Era a princesa, dotada de pensamentos  lúcidos, transcendentes, leveza de espírito e de alma pejada de filial ardor.
     - Ó flor venturosa, filha unigênita de um velho pai, ninguém além de Rosa princesa,  restava-me de laços de sangue a  assistir-me neste transpor da Grande Ponte sobre o Vale de Luz! - baixinho dizia o velho rei.  Embora em leito de dor, seu sorriso era de terno e resignado amor! 
     Disse: - Ventura, jovialidade, ó flor, minha Rosa. Beleza vestida de sol e luar, tendes todos os dias e noites vindouros para ser amada e amar. A lua banhará seus alvos pés, e seus longos cabelos negros nas fontes, e o sol com seu calor, nas manhãs os enxugará. Tal é a princesa eleita pela Natureza! Sua coroa de flores foi abençoada e escolhida pelas estrelas obedientes a ti desde a tua concepção. Tu estivestes sempre no âmago do coração do Criador, coroada sempre do Infinito Pensamento, desde antes que o tempo fosse, eliminando o que era nada ao derredor. Antes que tu mesma fosses consciente do que virias a ser. Tu eras o contentamento do Alto, no topo da Arquitetura dos mundos.
    
     Toda esta visão o velho rei teve ao se despedir. Viu descortinar tudo nitidamente perante seus olhos, - e só a ele e à princesa realmente importava - abençoando-a, se fez abençoar.
     Um súbito vento entrou pelos arcos ogivais das altas janelas, esvoaçando as cortinas e mantos patriarcais, deixando um misterioso perfume floral pairando no ar!
     Setenta anos de paz e harmonia contemplaram aquele reino, que se seguiram afora daqueles umbrais até os confins dos horizontes.




 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 31/10/2013
Reeditado em 03/03/2015
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