Maus pensamentos
Estou novamente no restaurante do Quibe. Chego pontualmente às 19,00h. O Beto, que me serve, nem me pergunta mais o que eu quero. Ele já sabe que peço sempre cinco merches de repolho, sem esquecer o azeite.
Súbito, entra uma senhora no recinto que não conheço. Fica numa mesa distante de mim. Olha pra mim e sua boca mostra um "ritus" de dor. Continua olhando para mim bem seriamente. Disfarço, e olho para ela de vez em quando. Começo a especular a atitude da senhora. Penso: “com certeza está me achando detestável, com cara de cínico. Deve estar me xingando. Palavrões horríveis, como f.d.p para cima ou para baixo. Resolvo encarar. Também xingo a senhora. Mando-lhe à merda três vezes. E ainda penso: deve ser mais uma daquelas mal-amadas e que cismou comigo. Está descontando a briga com o marido em mim, xingando-me de tudo que eu possa imaginar.
O Beto fala com ela. Ela olha para mim. Com olhar duro, quase me fuzilando. Fala algo no ouvido do Beto e aponta o dedo para mim.
Lógico, mando-lhe mentalmente mais palavrões: “O que que há minha senhora, vá pra porra, antes que eu me esqueça".
A mulher paga ao Beto e vem em minha direção. Ponho-me em guarda. Vai me dizer desaforos ao vivo. Surpresa! A senhora vem agradecer o meu olhar. Diz que se tranquilizou com meu olhar sereno. Que está com aquela doença que não tem cura. Que até parou de sentir dores. E atribui a mim esse momento bom. Despede-se e sai rebolando do restaurante. Na mais perfeita paz.
E eu, incrédulo, penso: Deus, que vida paradoxal a nossa. Pensando mal da mulher eu a curei. Se pensasse bem, onde eu estaria hoje?
Nota: Viajando e exercitando minhas fantasias.