ENCONTRO CLÁSSICO

NOTA: esta história é uma fanfic cruzada, mesclando elementos de três universos ficcionais: o de Batman, criado por Bob Kane, o de Sailor Moon, criado por Naoko Takeushi, e o do Necronomicon ou "Mitos de Cthulhu", criado por H.P. Lovecraft. Os direitos autorais dos personagens e elementos pertencem aos respectivos criadores; no caso de Lovecraft, falecido em 1937, encontram-se em domínio público.
Fanfics são homenagens dos fãs aos personagens e universos que focalizam.




ENCONTRO CLÁSSICO


Miguel Carqueija


- Em Gotham City, as pessoas não têm o hábito de olhar para cima.
- E quando nos vêem, devem achar natural.
Batman e Robin estavam sentados junto a uma janelinha de sótão, a uma altura não muito grande. Gotham City fervilhava de vida noturna mas eles estavam particularmente interessados numa janela esverdeada, no outro lado da rua.
- Não consigo uma visão clara – disse Batman, espiando com seu binóculo. – Esse homem é muito prudente. Afinal, faz calor e ele deveria abrir a janela.
- Você acha mesmo, Bruce, que essas feitiçarias têm alguma coisa a ver conosco?
- Não esqueça que os Antiguistas praticam sacrifícios humanos, Dick. Não temos evidência de que o Professor Barrymore as pratique, mas eu quero saber o que ele tem em mente. O furto do Necronomicon, lá da Universidade Miskatonic, é muito preocupante. Os diretores estavam preocupadíssimos quando me chamaram no maior segredo. Pelo que eles deram a entender, o livro não é uma simples curiosidade, mas por outro lado eles não podem revelar ao mundo, ou admitir no círculo acadêmico, que os rituais ali contidos são eficazes, que abrem as portas para o mundo das trevas...
- Então o que você sugere?
- Vamos ter que entrar lá... esperar que ele saia...
- Ora, Batman! Se sabem que foi ele quem roubou o livro, porque não o recuperam às claras? Porque não imprensam o sujeito...
- Porque, Robin, isso precipitaria as coisas. Não, o Professor Wilibrordo quer que a gente recupere o livro discretamente, e é o que nós vamos fazer.
- Olhe ali, Batman...
Bruce Wayne olhou: na portaria do prédio davam entrada cinco jovenzinhas aparentando uns dezesseis anos.
- Que grupo de japonesinhas bonitas, uau! – disse Robin – Uma delas é altona...
Batman, com seu habitual mau-humor, considerou o grupinho: uma das mais baixas usava maria-chiquinhas enormes; outra tinha cabelos curtinhos, outras duas os tinham bem longos, sendo uma loura e outra morena; e havia a mais alta, de cabelos castanhos. Mas
elas entraram e deixaram de ser visíveis.
Batman se desinteressou delas.
- Aí está o professor. Vamos aproveitar assim que ele se afastar!
- São essas coisas que só em Gotham City... – começou a falar Dick, mas Batman o interrompeu.
- Vamos logo! Ele tomou um táxi!
Naquela época Batman e Robin circulavam normalmente pelas ruas, de modo que desceram e foram caminhando até a entrada do prédio. O porteiro ficou espantado ao reconhecê-los:
- Batman e Robin! Que surpresa vê-los aqui! Querem me dar os seus autógrafos?
Embora estivessem com pressa eles deram, e Batman comentou displicentemente:
- Viemos visitar um velho amigo...
- A propósito – disse Robin, interrompendo o Homem-Morcego. – Que grupo simpático de meninas entrou aqui!
- Não temos nada com isso – disse Batman, de mau humor (como sempre).
- Ah, sim - disse o porteiro, sem se dar por achado. – Elas foram no apartamento de cobertura, ver o tio de uma delas...
BATMAN – Hein?
- Sim, o Professor Barrymore... um velho muito esquisito...
- É, deve ser. Venha, Robin. Obrigado, meu amigo.
- Oh, não há de que. Aliás, nem sei porque me agradecem...
A Dupla Dinâmica afastou-se e penetrou no elevador, então por sorte vazio.
- Santa coincidência, Batman! O que é que aquelas gatas foram fazer na casa do professor...
- Não sei. Acho que deveríamos ter usado as bat-cordas.
- Bem, como vamos passar despercebidos agora?
- Não dá mais para recuar. Lá em cima daremos um jeito.
- Quem serão elas?
- Não faço a menor idéia e é melhor você seguir as minhas instruções.
- Será que elas são espiãs atrás do Necronomicon?
- O grupo é muito grande e elas não têm idade para isso.
Saíram na cobertura, ainda sem notar sinal de vida no corredor escuro e forrado com passadeira.
- Batman, há qualquer coisa muito esquisita nisso tudo! A presença delas não bate!
- Deixa eu tentar primeiro com o meu bat-auscultador.
O Homem-Morcego tirou um aparelhinho de seu cinturão de utilidades, colocou uma ponta no ouvido esquerdo e a outra, aderente à parede. Pôs-se então a escutar, e era algo de muito estranho:
- Vai logo! Se achou, traz logo para baixo!
- Espera, Rei! Pombas! Isso aqui pesa!
- Pô, eu é que tinha que ter subido...
- Relaxa, Makoto. Porque você não apara a coisa então?
- Espere!
- Lá vai!
PLAFT!
- Minako, você ainda vai ver comigo!
- Ah! Ah! Pronto, me ajudem a descer!
- Ai! Ai! Minako, tome cuidado! Não vá se machucar!
- Você não me conhece, Serena! Eu sou uma atleta, lembra?
- Calma, Serena. Ela sabe o que faz.
- Lá vou eu. Serena, sai de baixo...
TUMP!
- Ui! Ui! Precisava cair em cima de mim? Você é muito desastrada!
- Olhem só quem está falando...
- Cala a boca, Rei! Não estou com paciência hoje!
- Serena, controle-se! Temos coisas mais importantes a fazer do que brigar!
- Eu sei, Ami... mas é que... a Rei sempre consegue me irritar...
- Gente, vamos parar com essas bobagens e abrir a coisa. Temos que examiná-la...
- Amigas, um momentinho por favor. Preciso examinar isso com o meu visor, medir a energia maligna...
- Tá, então examine! E depois vamos levar daqui, pois certamente não teremos tempo de ler tudo...
- Ler? Está brincando. São mais de mil páginas!
- E aí, Ami?
- Esperem. A energia maligna é tremenda... não entendo... como pode um objeto inanimado...
- Amigas, esperem! Fechem esse livro, rápidas!
- Mas o que...
- O que é isso, meu Deus?
O Cavaleiro das Trevas escutou algo que pareceu uma pequena explosão, e em seguida gritos de pavor de adolescentes.
ROBIN – Que há, Batman? Afinal o que você está escutando?
- Nada que faça muito sentido, Dick. Vamos entrar que é melhor, algo de grave está acontecendo!
Os dois investiram ombro a ombro na sólida porta e conseguiram arrombá-la. Sem ligar para a decoração da ante-sala na meia luz, correram para o interior do apartamento, até chegar na biblioteca... onde depararam com uma cena espantosa.
Em meio a emanações de enxofre, flutuando sobre um imenso livro aberto sobre o carpete, uma sombra sinistra e tridimensional, armada com uma grande espada também feita de sombra, acuava cinco garotas que, apavoradas, encostavam-se nas paredes e estantes.

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Em cima da estante de ferro, sobre livros que, por falta de espaço, estavam deitados e não em pé, Minako Aino, sem sapatos, tentava segurar com jeito um pesado alfarrábio.
- Vai logo! Se achou, traz logo para baixo!
- Espera, Rei! Pombas! Isso aqui pesa!
Makoto, olhando para cima e cerrando o punho direito, observou impaciente:
- Pô, eu é que tinha que ter subido...
- Relaxa, Makoto... por que você não apara a coisa então?
- Espere!
- Lá vai!
Minako deixou cair o livrão, que Makoto aparou com dificuldade.
PLAFT!
- Minako, você ainda vai ver comigo!
A garota, lá em cima da estante, sacudiu os bastos cabelos louros e riu:
- Ah! Ah! Pronto, me ajudem a descer!
Estendeu as pernas para baixo, derrubando alguns livros, e a menina das imensas maria-chiquinhas assustou-se:
- Ai! Ai! Minako, tome cuidado! Não vá se machucar!
- Você não me conhece, Serena! Eu sou uma atleta, lembra?
Ami, a moreninha de cabelos curtos, tocou o ombro da Serena, com gentileza:
- Calma, Serena. Ela sabe o que faz!
- Lá vou eu! Serena, sai de baixo...
Mas, na hora H, Serena paralisou de medo que Minako se ferisse, e não saiu a tempo.
TUMP!
Ami, Rei e Makoto se uniram para socorrer as duas amigas.
- Ui! Ui! Precisava cair em cima de mim? Você é muito desastrada!
- Olha só quem está falando... – observou Hino Rei, que não costumava perder oportunidade para alfinetar Serena Tsukino.
- Cala a boca, Rei! Não estou com paciência hoje!
- Serena, controle-se! Temos coisas mais importantes a fazer do que brigar!
- Eu sei, Ami... mas é que... a Rei sempre consegue me irritar...
MAKOTO – Gente, vamos parar com essa bobagem e abrir a coisa. Temos que examiná-la...
Ami, com seu jeitinho “zen”, pediu atenção:
- Amigas, um momentinho por favor. Preciso examinar isso com o meu visor, medir a energia maligna...
E colocou o volume sobre uma mesinha.
Rei olhou-a com a expressão de quem quer resolver tudo com presteza:
- Tá, então examine! E depois vamos levar daqui, pois certamente não teremos tempo de ler tudo...
Minako observou:
- Ler? Está brincando. São mais de mil páginas!
- E aí, Ami? – indagou Makoto.
Ami, subitamente, tornou-se muito séria (mais ainda do que já era):
- Esperem. A energia maligna é tremenda... não entendo... como pode um objeto inanimado...
Rei sobressaltou-se:
- Amigas, esperem! Fechem esse livro, rápidas!
- Mas o que... – começou Serena.
MINAKO – O que é isso, meu Deus?
Algo como uma nebulosidade azul-escuro, cor de nuvem de tempestade, estava emanando das páginas do livro. Ami tentou fechá-lo, mas uma explosão como de magnésio ofuscou-as... as cinco garotas gritaram, e algo terrível materializou-se sobre o
livrão aberto ao meio, já agora caído sobre o carpete: uma sombra em três dimensões, com a aparência de um homem de porte médio, com um chapelão de mosqueteiro, botas de cano alto, cinturão, casaco aberto, e uma alfange na mão direita – tudo em negro, e as feições indistinguíveis.
Elas se afastaram em cinco direções diferentes, até suas costas esbarrarem em obstáculos.
Foi aí que ouviram o barulho da porta sendo forçada, os passos rápidos no corredor... e Batman e Robin entraram em cena.

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Decididamente, pensou Batman, não era hora de perguntar às pequenas o que elas tinham vindo fazer naquele apartamento. Certamente, não fôra para se encontrarem com aquela coisa.
- Santa assombração, Batman! O que é isso?
- Isso é uma sombra maligna! Tomem cuidado! – exclamou Rei.
A criatura maligna mediu Batman da cabeça aos pés. Este, talvez por ser, por sua vez, o Cavaleiro das Trevas, não demonstrou medo.
A sombra ergueu a espada e atacou, na direção de Batman. Este, com a velocidade que lhe era peculiar, pegou uma lanterna de seu cinturão e lançou o facho de luz sobre o monstro, paralisando-o momentaneamente. A sombra pôs-se a recuar, incapaz de enfrentar a luz. As garotas aproveitaram para se esgueirar e escaparam por uma porta que levava para os fundos.
- Batman, elas vão escapar!
- O que posso fazer? Tenho que controlar essa criatura.
A sombra foi recuando e encostou-se na parede, entre duas estantes.
- Quem é você? Qual é o seu nome? – interrogou o Menino Prodígio.
Não houve resposta. Batman tentava pensar rapidamente quando a mesma porta, por onde as meninas tinham fugido, foi reaberta e uma estranha figura apareceu. Uma garota de saiote, sapatos vermelhos de salto alto, longos cabelos negros e soltos. A figura em seu conjunto era muito original: uma gola de marinheira, luvas brancas com barra vermelha sanfonada na altura dos cotovelos, um broche segurando quatro grandes fitas azuis (gravata borboleta) no peito, uma saiazinha vermelha toda debruada, uma blusa branca com sanfonas nos ombros, um diadema triangular na testa, um aro vermelho, de pano, no
pescoço. Segurava um papel com sinais esquisitos.
- Não adianta interrogar. Isso aí não fala!
ROBIN – Então o que fazer?
Sem responder, ela pôs o papel diante dos olhos e recitou:
- Pelos poderes que recebi dos meus antepassados, eu ordeno, espírito maligno... saia daqui! Desapareça!
Ela soltou o papel que, voando com grande rapidez, foi aderir à testa da criatura. Esta entrou em desespero e, ignorando a lanterna de Batman, disparou para o meio da sala e mergulhou no Necronomicon, sumindo nas páginas do livro enfeitiçado...
Batman desligou a lanterna.
- O que significa isso afinal? E quem é você?
- Eu sou uma guerreira da Lua. Sou Sailor Marte, e luto pelo amor e pela justiça.
Robin, impressionado pela beleza da menina, entrou na conversa:
- O que houve com as cinco meninas que estavam aqui?
- Provavelmente estão a quilômetros de distância – Marte desconversou. – O que importa agora é dar destino a esse livro.
- É verdade! Precisamos dele!
Assim dizendo, Robin caminhou na direção do livro de Abdul al-Azred, porém Sailor Marte, prevendo esse movimento, já se antecipara e agilmente se abaixou, enlaçou o volume e se ergueu, recuando em seguida.
- Robin, espere – disse Batman.
- Mas, Batman, não podemos deixar isso com ela...
- Deixa que eu resolvo.
Robin, que estivera prestes a tentar tomar o livro de Sailor Marte, afastou-se, e o Cavaleiro das Trevas dirigiu-se à pequena:
- O que você quer com isso? A criatura maligna não foi destruída, está aí dentro.
- Eu ia lhe perguntar a mesma coisa, Batman. O que você quer com isso? Não é assunto seu.
- Para início de conversa você nem está em seu país. Esse livro pertence à Universidade Miskatonic, de Arkham, e certamente você não pode roubá-lo.
- Sou tão boa quanto você para devolver o livro. Só que a melhor coisa a fazer com ele é destruí-lo. Não vê que o mal está dentro dele? Só Deus sabe o que pode sair daqui.
- Alguma coisa vocês fizeram. Essa obra está há muitas décadas na biblioteca de Miskatonic e, que eu saiba, nunca saltou sombra nenhuma dela...
- Vocês? Que vocês?
- Você deve estar associada às cinco garotas que estavam aqui e que fugiram.
Marte sorriu, desafiadora:
- Não importa. Não tenho que lhe dar satisfações. A minha missão transcende fronteiras nacionais, refere-se ao mundo inteiro e até mais do que isso.
- Se você está do lado do bem, porque não nos acompanha até a bat-caverna? Lá eu tenho os recursos para analisar este livro e decidir o que fazer com ele.
- Quem chamou vocês aqui? Suponho que possam me dizer.
Por trás da porta, as outras quatro guerreiras aguardavam ansiosas o desfecho da negociação.
MINAKO – Ela está demorando muito.
SERENA – Ai, ai, vou acabar entrando lá.
MAKOTO – Controle-se, Serena. Se eles virem cinco “sailors”, vão relacionar com as cinco estudantes. É por isso que Marte quer resolver sozinha.
AMI – É. Também não queremos chamar muita atenção.
Batman optou por esclarecer a guerreira do fogo:
- A direção de Miskatonic pediu que recuperássemos sigilosamente este livro, pois o ladrão é um homem de prestígio e a universidade não quer escândalos.
- Tsc! Tsc! No Japão não costumamos lidar com esses subterfúgios. O homem é um ladrão, não é? Porque vocês dois não o prendem? Mas roubar esse livro é o menos. Sabem para que Barrymore o quer?
- Pode nos esclarecer?
- Sim. O Necronomicon é um tratado maligno e um livro ritualístico que contém invocações a entidades cósmicas demoníacas de tremendo poder, os Grandes Antigos. Os seguidores da seita dos Antigüistas querem reunir o maior número possível de exemplares desse livro maldito e executar em várias partes do mundo os ritos que abrirão o portal dimensional para a invasão das trevas. É isso, Batman e Robin. Vocês vêem, diante do perigo que se configura, é muito mais útil destruir esse livro do que devolvê-lo aos seus legítimos donos. Eles não têm o direito de conservar uma coisa que está colocando o mundo em perigo!
Batman sorriu.
- E você naturalmente tem certeza do que diz, não é? Lamento, mas não posso aceitar uma coisa dessas sem provas concretas.
- Provas! Que provas você quer? Não viu com seus próprios olhos de morcego aquela criatura? Estou começando a me irritar com você!
- Se você tentar destruir esse livro, o resultado pode ser desastroso. Podemos arranjar
quem o exorcize e depois devolvê-lo ao Reitor de Miskatonic. Parece-me o mais correto.
- Eu estou credenciada para exorcizar maus espíritos. Você mesmo viu.
- Batman!
O alerta de Robin fez com que Batman se voltasse a tempo de ver o homem de paletó segurando um revólver.
- Que vocês querem aqui? Não admito invasões no meu apartamento!
Batman, porém, com seus reflexos rapidíssimos, já atirava um dos seus dardos-morcego na direção do Professor Barrymore, que gritou de dor ao ter o dorso da mão cortado. A arma caiu ao chão e Batman, num pulo rápido, apanhou-a. Nesse momento Sailor Marte recuou até a porta para os fundos. Robin precipitou-se sobre a guerreira, mas só conseguiu se arrebentar contra a porta de madeira de lei.
- Batman, ela está fugindo!
- Maldição! Vá atrás dela, Robin! Veja se faz alguma coisa de útil!
Robin tentou, mas primeiro teve que forçar a porta, já que um trinco fôra passado no outro lado. Dick Grayson deu um forte pontapé, deslocando as bisagras da porta, e disparou pelo corredor, escutando um tropel de fuga que não podia ser produzido só pela Sailor Marte.
O Cruzado de Capa voltou-se para o Professor Barrymore:
- Sente-se, professor. Vamos conversar!
- Conversar? Vou mandar prendê-lo, Batman. Vou processá-lo até o último tostão de prejuízo que está me causando esta sua visita. Já são duas portas quebradas...
- Acho que não é hora de ser arrogante, professor. O senhor está mais do que encrencado e vai ser pior se eu o entregar ao Comissário Gordon e ao Chefe O’ Hara. Portanto sente-se!
Ele procurou uma poltrona e sentou, cruzando as pernas.
- Pois bem. Diga então o que tem em mente, Homem-Morcego.
Ignorando o tom de desprezo, Batman começou:
- Professor, é melhor colaborar e não procurar negar o que eu já sei. Eu sei que o senhor roubou o Necronomicon da Universidade Miskatonic, em Arkham.
Ele se ergueu, furioso:
- Está me chamando de ladrão? Isso é calúnia! É mais um processo que eu vou lhe meter!
- Vá para o diabo com os seus processos e sente-se – disse Batman, parando bem em frente ao velho. – Não julga certamente que vai conseguir me amedrontar com ameaças
ridículas!
Barrymore voltou a sentar.
- Para seu governo – prosseguiu implacavelmente o Morcego – o seu furto foi gravado pelas câmeras de vídeo da biblioteca de Miskatonic. E para sua sorte, o Reitor Wilibrordo é seu amigo e não quer comprometê-lo. Ele até deixou comigo uma carta para lhe ser entregue, se houvesse oportunidade.
- Uma carta para mim? Deixe-me ler!
- Aqui está ela – e Batman passou um envelope branco ao outro.
Nesse momento Robin retornou ao aposento.
- E então? – indagou Batman.
- Elas escaparam. As cinco – disse Robin, embaraçado, de cabeça baixa.
- As cinco?
- Sim, Batman. Cinco marinheiras-guerreiras, cada uma com uniforme diferente. Cheguei até o terraço, quando as vi todas já no parapeito...
- E aí?
- Saíram todas em grandes saltos pelo ar, ou voando mesmo. Aliás, uma delas tem asas.
- Asas?
- Sim, Batman, parece até um anjo. Eu nunca vi uma coisa igual...
- Isso é loucura! – interrompeu Barrymore, erguendo o olhar da carta.
- Eu não diria – comentou Batman, passeando pela sala. - Elas não são seres humanos normais. Aliás, acho que nem são propriamente seres humanos.
- Como assim, Batman? Não só elas me parecem humanas, como são lindas.
- Você desistiu de persegui-las?
- Ah, sim. Elas se espalharam bastante nos ares e persegui-las com as bat-cordas não seria prático.
- Não, só mesmo com o batcóptero. Bom, depois trataremos desse assunto. Já leu a carta, professor?
- Já.
Com esse comentário conciso, o professor olhou para Batman. O Homem-Morcego viu que ele empalidecera.
- Vocês já tinham lido?
- Já, Professor Barrymore. Eu até decorei o texto, que diz assim:
“Meu velho amigo Barrymore:
Lamentavelmente sei que foi você quem retirou às escondidas de nossa biblioteca, o
volume conhecido como Necronomicon, ou o Livro dos Nomes Mortos. Não sei o que levou um velho amigo como você a fazer isso, mas eu o aviso que está lidando com algo perigoso, muito perigoso. Por favor, devolva o exemplar a Batman e Robin, que envio como meus representantes. Não sabe as desgraças que podem lhe ocorrer, é melhor que esse livro nefasto permaneça ignorado pelo mundo. Se você está sendo chantageado ou pressionado por alguém, para fazer o que fez, conte tudo a Batman e Robin, que eles darão solução.
Isso é o que eu lhe peço e até imploro, em nome da nossa velha amizade.


Wilibrordo”


Barrymore passou a mão pela testa, incomodado.
- E aí, Professor? – indagou Batman.
- O meu interesse pelo esoterismo... pediram muito que eu furtasse esse livro... olhe, eu juro que estou arrependido por ter me prestado a isso! Mas disseram que era tão importante...
- Disseram quem, professor?
- Suponho que eles me matarão, se eu contar a vocês.
- Isso são ossos do ofício. A culpa é sua e não minha. Sugiro que peça ao Comissário Gordon para lhe dar proteção.
- Está bem. Direi os nomes.


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Elas se reorganizaram no alto de uma das torres gêmeas de Gotham.
- Ai, que arquitetura horrorosa! – exclamou Marte, entediada. – Essa cidade é gótica, é feia, na verdade é lúgubre!
- É – respondeu Minako. – Essas gárgulas das torres, por exemplo, são abomináveis.
- Você foi brilhante, Sailor Marte – disse Serena, com sinceridade. Nem eu teria feito melhor.
- Ah, você passaria uma das suas descomposturas palavrosas no Batman. Algo me diz que ele vai tornar a se atravessar no nosso caminho.
- Deveríamos fazer uma aliança com ele – observou Ami, judiciosa. – Afinal ele também é contra o mal...
- Isso é complicado. O nosso amigo segue métodos e até objetivos diferentes. Ele está comprometido com a direção de Miskatonic, que quer o livro de volta. Se devolvermos o livro, podemos estar facilitando o avanço do mal. O livro é maligno.
- Mas você não vai exorcizá-lo? – lembrou Serena.
- Posso afastar os maus espíritos do Necronomicon, mas e o texto? Os rituais demoníacos continuam nele, e aí um mago negro como Janus pode usá-lo para conjurar os Grandes Antigos.
- O Grande Cthulhu... – sussurrou Kino Makoto, a Sailor Júpiter.
AMI – Eu penso, amigas... parece uma barbárie, destruir livros.
REI – Este livro tem que ser destruído. Ele pode abrir as portas do mal em estado puro... para que este domine o mundo.
Serena fez um esforço para ser prática:
- Como vamos fazer? Não podemos permanecer aqui muito tempo. Não temos onde ficar e vão acabar dando pela nossa falta em nossas casas. É melhor a gente se teleportar, voltar para o templo, e resolver tudo lá.
REI – Levando o Livro dos Nomes Mortos na teleportação? Sem chance, Sailor Moon. Você esquece que ele pode escapar ao nosso controle na teleportação. Nós temos que destruí-lo agora, antes de voltarmos.
VÊNUS – E como faremos para destruí-lo?
- Chamarei o fogo de Marte, Minako. Mas antes vou exorcizá-lo, para evitar alguma reação das sombras malignas.
Sentada numa cornija, Júpiter observou:
- Rei, qualquer coisa me diz que aqui, nessas alturas cheias de pontas, não é o melhor lugar para fazer o exorcismo.
- Vamos para a praia. Lá teremos espaço bastante, e creio que encontraremos lugares desertos.
AMI – Também, se nos flagrarem, escaparemos com facilidade.
Com a audaciosa Sailor Marte sobraçando o volume maligno, as marinheiras-guerreiras deslocaram-se pelos ares, Sailor Moon com as suas grandes asas brancas em graciosos flap-flaps.
Infelizmente para elas, não eram invisíveis.


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Bruce Wayne, ou melhor, Batman, retirou a venda que cobria os olhos de Elton Barrymore. Ele olhou em volta, super-admirado.
- Confesso... nunca pensei, jamais, que um dia iria conhecer a lendária bat-caverna!
Fitou então o gigantesco painel do bat-computador e já não pareceu tão entusiasmado:
- Você está desatualizado, Batman. Hoje em dia não se usam mais esses monstrengos. É tudo na base do micro, ocupam menos espaço!
- Cale a boca – disse Robin, irritado. – Batman, você acha mesmo que consegue localizá-las?
- Já as localizei – respondeu o Homem-Morcego. – Coisas que sobrevoam Gotham eu localizo facilmente.
- Suponho – disse o professor, com ironia – que você está certíssimo de conseguir tomar o livro delas. Deixou que elas escapassem só para brincar de gato e rato.
- O seu senso de humor é horroroso – respondeu o Cavaleiro das Trevas, sêco. – Olhe nas telas panorâmicas e veja se um micro faria isso.
Batman digitava febrilmente. Logo a grande tela central da parede focalizou uma visão crescente de Gotham City que se aproximava, enquanto as laterais limitavam-se a mostrar a progressão de cinco pontos luminosos.
Finalmente uma grande ponte rodoviária foi mostrada, sobre o Rio Gotham, logo antes do seu estuário na praia.
- Lá estão elas, nas longarinas da ponte – concluiu o Morcego. – Não dá para obter uma aproximação maior.
Desta vez o Professor Barrymore ficou estupefato diante do poder do Homem-Morcego, e perdeu a disposição de chalacear.
ROBIN – E agora, Batman? O que você vai fazer?
- Para início de conversa, imprimir o Necronomicon, utilizando papel previamente envelhecido. Já estou digitando o comando para isso.
- Santa falsificação, Batman! Você já possuía o texto?
- Integral, Robin. Há muito que pesquiso o Necronomicon. Se não pudermos recuperar aquele exemplar, Wilibrordo terá outro parecido... e talvez nem note a diferença. Além
disso, neste aqui eu colocarei cruzes ocultas na granulação do papel, de tal maneira que será impossível utilizar o exemplar para conjurar demônios.
- Batman, se estou entendendo bem... você vai deixar que as sailors destruam o livro?
- Talvez seja a solução. Talvez a Sailor Marte esteja com a razão – e o Homem-Morcego deu de ombros.
- Naturalmente – acrescentou, dirigindo-se a Barrymore – você guardará segredo de tudo isso.
- Pode ficar tranqüilo, Batman; também é do meu interesse. Mas depois me mostre o exemplar pronto, tenho curiosidade em vê-lo.


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Numa praia deserta, oculta pelas pedras e pela escuridão da noite, as marinheiras-guerreiras uniam-se em volta do Livro dos Nomes Mortos, colocado sobre a areia. Sailor Marte comandava o espetáculo, com os seus papéis chineses.
- Nós vamos nos unir em “sailor-planet”, depois que eu jogar os exorcismos; faremos um círculo de poder para que as coisas não escapem em nosso mundo.
- Está bem – disse Sailor Moon, com o seu olhar de determinação. – Vamos acabar com isso, que eu tenho que fazer o dever de casa!
Marte fez uma cara de enfado e começou o seu encantamento de exorcismo. Por via das dúvidas, jogou logo três papéis entre flamas amarelas, que foram aderir à capa vermelha do livro. Então, as cinco formaram uma roda de mãos dadas em torno do volume.
As avantesmas ergueram-se do livro, que estremeceu e sacudiu as suas folhas. Transfiguradas, as garotas lançaram o seu poder mágico sobre os espectros, que se dispersaram e desfizeram em fumaça. Então a Sailor Mercúrio, alertada pelo reflexo do seu visor, volveu o rosto para trás.
- Um homem e duas mulheres estão vindo para cá, descendo as pedras, e usam mantos negros.
MINAKO – Estou vendo daqui. Janus e suas duas assistentes. Eles já deviam estar nos Estados Unidos.
REI – É claro. Sabíamos que queriam este exemplar, é com Janus que Barrymore estava comprometido.
MAKOTO – Continuem firmes, garotas. Não podemos fraquejar agora!
SERENA – Só que aquilo ali é uma metralhadora!
- Não importa! – disse a Sailor Marte. – Continuem, vamos expulsar essas coisas!
Barbado e com olhar cruel, Janus pareceria um homem comum, se não fossem o manto e o chapéu negros, e a metralhadora. Friamente ele fez mira e disparou sobre as sailors, uma a uma. Inutilmente, porém, pois as rajadas esbarravam no campo energético que as envolvia e não iam além.
- Não adianta, bruxo! – exclamou Makoto. – Está derrotado, nós já exorcizamos esse maldito livro!
As duas mulheres, com seus olhos verdes aparentemente faiscando, ergueram bastões de ponta de cristal e lançaram raios energéticos sobre as garotas, mas estes também ricochetearam.
- Vamos nos separar e enfrentá-los – disse Serena. – Não podemos manter esta formação por muito tempo, e já expulsamos as sombras do livro!
Separaram-se e se voltaram na direção do trio, que se encontrava a uns dez metros.
- Pensam que venceram? – exclamou Janus, com seu olhar feroz. – Pois olhem o que eu tenho aqui!
Jogou de seu manto um enorme livro no chão; Misato e Rumiko, as duas bruxas, concentraram-se em proteger o objeto, e aí ele jogou outro livro.
- Que horror! – disse Serena. – Como é que podem caber tantos necronomicons dentro de um manto?
- Vejam! – disse Ami, mexendo em seu computador. – Ele está chamando as criaturas que nós expulsamos...
MINAKO – Sim, estão se reorganizando!
- O que você pretende? – exclamou Sailor Moon, indignada e fazendo a sua gesticulação característica. – Não admito que fique brincando com espíritos malignos, trazendo-os para o nosso mundo, só para perturbar as pessoas de bem e tudo o que existe de bom e belo na Terra! Não perdôo isso! Não perdôo, e punirei você em nome da Lua!
- Com três exemplares do Necronomicon, forma-se a trindade satânica – respondeu Janus, jogando um pó de enxofre nos dois livros que tinha diante de si, enquanto as sombras formavam um redemoinho no ar. – O que eu precisava para libertar as criaturas malignas, e abrir o portal dimensional do reino das trevas, como deveria ter sido feito por Tomoe!
Súbito apareceu um helicóptero vindo de além das rochas que isolavam aquela praia, e diante do espanto geral pousou a pouca distância dos dois grupos. Batman saltou, e sacou
uma pistola:
- Já basta!
O Homem-Morcego fez fogo várias vezes, e o mago negro tombou varado de balas. Robin e Barrymore também saltaram, e o Menino Prodígio exclamou, espantado:
- Batman! Desde quando você usa armas de fogo?
- Desde que foi preciso usá-las!
As duas bruxas, utilizando seus bastões, fizeram uma desesperada tentativa de ativar as criaturas malignas.
- Sailor Moon, agora – sussurrou Ami.
- Silver Crystal Power Kiss! – disse Serena, e lançou o poder do cristal de prata sobre os monstros que saíam dos dois livros, e os que haviam saído do outro. As duas mulheres escaparam do ataque e uma delas, portando a metralhadora de Janus, tentou alvejar a Princesa da Lua, mas Batman fez fogo novamente, de forma certeira.
As sombras malignas desfizeram-se em pó e três cadáveres jaziam estendidos na areia.
- Ele usa métodos bem radicais, não acham? – ponderou Sailor Júpiter, cruzando os braços.
Sailor Marte correu e juntou, aos dois livros na areia, o volume que fôra confiscado a Barrymore.
- Agora eu vou destruir tudo isso, e quero ver ele me impedir!
Porém Batman, Robin e o Professor Barrymore não se aproximaram, enquanto Rei chamava o fogo de Marte e reduzia os livros a cinzas.
Quando tudo acabou, Serena encaminhou-se na direção do Cruzado de Capa.
- Serena, cuidado – observou Minako. – Ele está armado!
Sailor Moon sorriu, como se aquilo não tivesse a mínima importância:
- E daí?
- O que você vai fazer?
- Vou falar com ele.
Ela se aproximou sem temor do Homem-Morcego, que a contemplava sisudo e impassível, parou diante dele e observou singelamente:
- Então, você é o famoso Batman.
- Acho que sim. E você é a famosa Sailor Moon.
Ela sorriu:
- Tenho uma coisa muito importante a lhe falar.
- Pois fale.
Ela tirou da roupa um bloquinho e uma caneta e estendeu-os:
- Me dá o seu autógrafo?
Muito a contragosto, o mal-humorado Cavaleiro das Trevas sorriu.

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(imagens google - Batman e Sailor Moon)