ENSINA-ME A BONDADE

           Um jovem pastor, que adorava suas ovelhas, nunca veio a matar uma sequer, somente as criava para a tosquia, retirando a lã para o uso familiar e o restante para o comércio na feira.
           Nos rigorosos invernos todos os membros de sua família, tinham quentes e aconchegantes blusões e mantos de sobrepor, nos dias frios mais rigororosos e nas noites de tenebrosos ventos nevosos, em que a família de pastores através dos homens e rapazes, tinham por dever se revesar na vigilância das ovelhas contra predadores como: leões das montanhas, ursos e principalmente contra os ardilosos e temíveis lobos dos bosques. Suas armas de defesa eram simples mas eficientes, chuços de ferro, tridentes, arco e flecha, fundas, o tradicional cajado e, uma boa dupla de cães pastores.
           Os cães são de tanta utilidade para os pastores, como os cavalos para os vaqueiros. Assim, os cães pastores, são de infinita utilidade nos campos de pastoreio. Sabem como nenhum outro animal infernizar a vida de um predador muito maior do que eles; rodeiam um urso por exemplo, enquanto um late diante, o outro morde-o por trás, tanto o azucrinam que ele acaba por desistir da aproximação ao intento. O mesmo fazem com os demais predadores. A própria presença do homem com suas armas de dia ou a noite, mais o fogo, sempre afasta os inimigos das ovelhas. Além do que, são os cãe companhias e alarmes na solidão da noite.  
           Uma das principais funções do pastor é zelar por suas ovelhas. Não é à toa a comparação do Cristo como um Grande Pastor, que zela até por aquela que se perdeu do rebanho e estava em um despenhadeiro. Não é outra a função principal senão essa. Depois, importantes também: tanger com ajuda dos cães, conduzir ao aprisco, alimentar e dar-lhes de beber, são outras das funções do pastoreio de ovelhas.
           Mas, nos campos onde Rachid e a família pastoreavam ovelhas, existia nos bosques ao longe, uma matilha de lobos, que entre outros predadores solitários ou em grupos, era a mais temível. Era esta matilha, liderada por um descomunal lobo branco. Sua estratégia era entrar em meio ao rebanho e não ser visto, por confundir sua cor branco neve ao das ovelhas, resplandecentes à luz do luar. Os balidos é claro, denunciavam o perigo ao qual acorriam os cães, mas seu ataque ágil, traiçoeiro e camuflado era certeiro. Esse primeiro golpe sempre era do grande lobo, que incitava o resto da matilha para que atacassem a partir da retaguarda do rebanho, tendo a frente como referência o pastor.  Agiam muito rápido. A intenção não era cada um deles levar uma ovelha, mas atabalhoar o pastor e os cães, para levarem pelo menos mais uma. A refeição  daria para a matilha, até o próximo golpe.
           Rachid, não odiava o grande lobo, nem os membros da matilha; sabia que era de sua natureza, mas precisava preservar seu rebanho. Se se descuidasse os lobos iriam se tornando cada vez mais ousados. Eram capazes disso, pela astúcia que apresentam esses canídeos. Seu rebanho diminuiria; com ele seu lucro na comercialização das lãs. Sua lã era tida pelos comerciantes compradores, como uma das melhores da região. 
           O jovem pastor, tomara muitas providências,  espalhara  armadilhas na orla do bosque, que dava acesso ao seus campos de pastagens, uma vez que para o lado leste havia portentosas montanhas. O leste ficava à sua esquerda, tinha o sul à sua frente, o oeste à direita e o norte às suas costas. Rachid sabia que para o leste a matilha não iria. A esperteza de um lobo indicava que nas montanhas haviam predadores para a sua espécie. Para oeste o bosque e as pastagens terminavam em formidáveis rochedos. Após eles, um desolado ermo de campo arbustivo rareado, sem abrigos naturais.
           Da orla dos bosques seguindo para o norte eram pastagens, que Rachid alternava com seu rebanho, para  sempre ter um campo renovado. O ribeiro corria de sul para norte, o qual ainda no interior dos bosques recebia água de minas e riachos que lhe aumentavam o volume à medida que avançava.
           A topografia do terreno era favorável à criação de ovelhas, e Rachid sabia que o problema com os lobos era só mais um problema atinente ao labor pastoril. Sua cautela e estratégia só poderiam funcionar; vez que os lobos viriam do bosque em direção ao rebanho e em fuga não havia outra alternativa a não ser voltarem pelo mesmo caminho. A matilha seria surpreendida pelo número de armadilhas distribuídas. Os que não fossem pegos vindo, seriam pegos voltando. 
- Perfeito: - Disse Rachid, voltando-se para os cães. Só vamos ter trabalho enterrando os lobos - concluiu. 
Porém houve uma coisa com que Rachid não contava. Ao verificar as armadilhas no amanhecer se condoeu até a alma, por ter visto mortos degolados ou com os longos e afiados grampos atravessados no pescoço e corpos, quase uma totalidade de filhotes de lobos que bobinhos ainda, sem a astúcia dos adultos, pagaram com a vida pela falta de experiência e malícia. Com isto os adultos, em especial o grande lobo branco "conheceu" mais um truque dos humanos a ser evitado.
           Rachid não achou justo "as crianças" de lobos, jovens e inexperientes, que não eram os assassinos de ovelhas, pagarem com suas pequenas vidas a astúcia e esperteza de Wolf, o grande e temível lider, que sabia se camuflar com a neve e com as ovelhas, usando sua brancura.
           Então Rachid resolveu consultar seu velho pai e experiente pastor: Eliad ben Acar, patriarca da Casa de Eliaquim Ussur Al Fadad, da aldeia de Uzned Fahir.
           Disse Rachid: - Transmita-me com vossas bençãos o ensino da Bondade e do Perdão, da Perspicácia, Tirocínio e Sabedoria, para que possa ser o melhor pastor, sem cometer desatinos e ter o domínio sobre meu rebanho, mantendo-o em segurança. Que possa eu, meu pai Eliad, orgulhar-te como de ti tenho orgulho, nas longas vigílias contra Wolf, o rei dos bosques. Que possa eu sobrepujá-lo na sagacidade e sutileza.
           A ti amado filho Rachid Al Fahir digo: - já me julgo um abençoado por receber de ti o amor que retorna ao coração de teu velho pai. A semeadura sob o teto desta casa foi pródigo e meus dias correrão em alegria e fartura de afetos. Vos ofertei as maiores virtudes: a Obediência a teu velho pai, a Coragem, admirada em toda Uzned Fahir, e, a Persistência em tudo aquilo que fazes.
           Acrescento-te agora mais este ensinamento: - Sê bom de coração a todos os necessitados, homens ou animais, mas que tua bondade jamais deixe qualquer lobo astuto tornar-se audacioso a ponto de se aproximar de tuas ovelhas à distância de um tiro de arco, usando tua melhor flecha de caças.

 

SÊ BOM, MAS JAMAIS PERMITA QUE UM LOBO FIQUE A TAL PONTO AUDACIOSO DE NÃO MAIS TEMER SE APROXIMAR DE TEU REBANHO.

           
           


           
           
 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 01/10/2013
Reeditado em 03/03/2015
Código do texto: T4506924
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