SONHO E REALIDADE.

Da janela do meu computador contemplo o início da conversa. Ele, um garotão no auge dos seus vividos anos de experiência, ela, garota bonita e convicta de que o agrada. A conversa é amena, cheia de lembranças recentes, onde a tônica mesmo é a aproximação. Ele tenta demonstrar sua paixão desde que a viu, ela tenta demonstrar que não percebia o que era óbvio.

O jogo é sedutor e faz parte do clima daqueles que estão loucos para se doarem, mesmo que seja apenas por breves momentos e rápidas aventuras. Ah, Aventura! Palavra mágica, cheia de significados e tão tentada pelos amantes. O que seria dos amantes se não houvesse a sedução, a aventura, o risco?

Leio que ela tem medo e não quer se aventurar mesmo estando atraída, tentada a se entregar àquele homem com fama de mulherengo. A paixão fala mais alto. Aos poucos ela vai se entregando ao convencimento do futuro parceiro, mesmo porque ela não quer oferecer muita resistência. Ele fala com suavidade através das linhas digitadas, mostrando o que sentiu quando a viu pela primeira vez, do susto que levou ao contemplá-la olhos nos olhos. Foi mágico para ele. Foi como tivesse sido atingido por uma corrente elétrica de um dardo desferido por um anjo. Anjo bom. Só tinha olhos para ela, não para mais ninguém.

Foram alguns dias de convivência, apenas isso. Não tivera coragem de dizer-lhe o que estava sentindo, muito menos insinuar alguma coisa. Não podia. Ela era comprometida. Ele também. O máximo que conseguiu foi ficar ao seu lado, quase que colados, separados apenas pelo temor de que alguém pudesse notar o clima. O respirar entrecortado de ansiedade evidenciava o desejo contido nos corpos e deixava claro que, se não fosse pelo local público e cheio, os corpos se fundiriam num só corpo, buscando avidamente o prazer, o gozo, o orgasmo.

Olhei para o relógio. Eram mais de 2h30 da madrugada. Precisava dormir, mas não podia perder o resto do diálogo. A curiosidade me impedia de sair; desligar a máquina. Queria saber do resto, do final daquela conquista. Voltei a ler o que ele escrevia no momento em que o jovem enamorado dizia de como tentou passar algo para servir de pretexto para um novo encontro. Não foi bem-sucedido no seu intento. Ficara sem vê-la por um longo período - o que é pior - sem saber se ainda iria encontrá-la de novo. Encontrou-a quase sem querer.

Era no meio da semana, num evento público - de novo - e lá estava ela. Do alto da janela do seu castelo e, de sua beleza, ela o chamou. O coração daquele jovem apaixonado bateu mais forte quando a reconheceu. Subiu rapidamente os degraus daquela escada íngreme, a cumprimentou e não hesitou em beijá-la com o gosto multiplicado de desejo. Ela estava linda! Tinha se preparado para aquele encontro. Era uma garota nova, renovada, radiante, exalando felicidade e esperança. Foi emocionante, dissera ele para ela. Eu li. O olhar dela denunciava a alegria e o desejo contido querendo aflorar por entre lábios e corpo. Estiveram juntinhos por alguns segundos. Valeu a pena - disse ele. Foi por esse espaço de segundo que ele e ela puderam sentir o que tanto os atraia; o porquê de quererem tanto estar juntos e quererem se amar pela primeira vez, com loucura, sem medir as conseqüências. Foi confirmado por ela.

Olhei para o relógio novamente. Estava tarde. Precisava dormir. Se pudesse aplaudiria o diálogo romântico. Não podia. Nada podia me denunciar a não ser que eu teclasse. Isso eu não iria fazer. Não podia interferir no que é belo, único. Aquilo jamais voltaria a acontecer. Por isso o aqui e agora é eterno. Se você viu, olhou, presenciou e guardou em sua mente, ótimo! Jamais você terá a oportunidade de ver novamente o primeiro detalhe que lhe chamou a atenção; olhar o que os seus olhos captaram; presenciar o local e guardá-lo como recordação para o seu sempre. Resolvi esperar o desfecho.

Desceram juntas as escadas do imponente castelo. Ele ao lado dela pronto para ampará-la se necessário fosse. Não foi preciso. Que pena! Ficaram os dois, um de frente para o outro, a se olhar. Palavra não substituiria o que os olhos falavam. Puro sincronismo de pensamentos transmitidos via telepatia da libido. Finalmente, ele conseguiu passar o pretexto de um novo encontro. Ela que ficara escutando o que ele dizia, convenceu-se. Também queria, dissera. E queria muito, porém era necessário cautela.

Acabara por confessar o quanto precisava daquilo, daquela paixão. Precisava viver uma grande paixão, uma loucura inesquecível onde as conseqüências fossem apenas o começo da grande aventura entre eles. Quem sabe, dissera ela, não lhe ensine a amar na areia da praia. Ele suplicou por esse momento quando escreveu de volta e completou: uma carona... Uma tarde e a liberdade de ser feliz.

Não resisti mais. Não precisava ser mais testemunha daquela obra de arte. Estava consumado entre os dois e só me restava iniciar, em seguida, clicar e desligar e fechar as cortinas de uma noite em que dois amantes começaram a viver de novo.





 
Obs. Imagem da internet


Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 15/04/2007
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T450418
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