Fora do tempo
Pedro saiu mais tarde do seu emprego, as escritas estavam atrasadas, e era necessário colocar tudo em dia, o patrão não tolerava pouco caso nos serviço, como costumava dizer.Devido a hora, talvez, não havia ninguem na rua, alem de Pedro que com a cabeça cheia de preocupações não deu atenção ao fato,não é nada fácil a vida de um homem, chefe de família, que ganha pouco.Um salário de fome!Ele passara a tarde criando coragem para arrancar um "vale" do patrão, não que o patrão fosse um homem mau, mas, tambem tinha os seus problemas, que a vida andava dura para todos.O importante era que o dinheirinho estava agora no seu bolso, e tinha que render até o fim do mes, já que o patrão fora categórico, nada mais de vale até o próximo mês..
Havia chovido o dia todo e o asfalto estava molhado, embora no ,momento não chovesse mais.O homem procurava evitar as poças da água cumulada na calçada, pois a sola dos seus sapatos já estava bem fina, logo teria que comprar outro.Que bom é comprar um sapato novinho!Luxo de pobre.Fazia frio e o inverno ainda não tinha chegado, mas estava prometendo que ia ser forte.Mais uma coisa para preocupar, roupas e agasalhos quentinhos.A única vantagem que ele achava do inferno era a sopa quentinha na volta do trabalho.Começou a pensar como seria um inverno com neve?Esse era o seu maior sonho, ver a neve caindo.Tudo branquinho, escondendo o encardido da vida.Desde menino sentia uma estranha obsessão por ver uma nevasca. mas sabia que isso seria vedado a ele, jamais teria condições de sair do seu pais.Era um prisioneiro da sua situação financeira, assim como tantos outros.
Saindo dos seus pensamentos, começou a perceber que a cidade parecia adormecida antes da hora, não podia ser tão tarde assim, para todo aquele silêncio.Seria o frio?Um sentimento de solidão lhe tomou, as casas fechadas deixavam passar , através das vidraças, uma luz pálida.Pedro ajeitou a bola do paletó de encontro ao seu pescoço, e meteu as mãos frias nos bolsos da calça.Que estranho frio para um país tropical!A rua, de um momento para outro , começou a ter movimento, as pessoas iam surgindo sem ele saber de onde, todos bem agasalhados nos seus casacos .Haviam criaturas em grupo ou sós, conversavam e riam, porem sem fazerem ruido nenhum.Não passavam veículos só um mundo de gente.Para ouvir algo, Pedro tossiu, mas nem sua tosse escutou.Até os seus passos eram silenciosos e ele foi ficando pertubado com aquela inusitada situação, e, com pretexto de saber as horas aproximou-se de um passante, que não lhe deu a menor atenção passou por ele como se não o visse.
Pedro ficou com mais medo, o que estaria acontecendo?Felizmente não estava longe da sua casa.Foi então, que de repente, sem esperar, sem aviso prévio, começou a cair uma neve fininha, que a princípio, Pedro pensou ser chuva, mas logo viu que chuva não cai em flocos brancos,parecendo sorvete de coco meio derretido, fazendo montinhos nos seus ombros.A calçada foi se cobrindo de um branco imaculado .As pessoas continuavam passado indiferentes.Ele escorregou e a neve acumulada amorteceu a sua queda, as suas mãos afundaram na brancura e ele foi tomado de uma grande emoção.Ali estava a sonhada neve de toda a suas vida.Ele podia sentir o gelo e,principalmente a felicidade do inesperado.
A sua emoção era tão grande quem nem parou para pensar do inusitado da situação.Queria só aproveitar aquele momento, mas, depois de algum tempo pensou, como era possivel aquilo tudo? Será que ele tinha morrido?Aquele seria um outro mundo?Só podia ser isso!Ele estava tão perto da sua casa, e, chagando lá ele iria se deparar com ele deitado no caixão?Qual seria o seu aspecto de morto recente?Estaria pálido, vestido com o seu melhor terno, aquele que mandara fazer para o casamento da sua irmã, calçado ainda com os seus sapatos velhos.Mais uma vez acariciou a neve, sorvete de coco,e nem pensou no que os passantes, que, na verdade não pareciam lhe ver, pensariam a respeito.Tinha que se inteirar da sua verdadeira situação e o jeito era ir para casa.
Começou quase a correr, tomando cuidado para não cair de novo e logo chegou ao portãozinho da casa, havia uma luz acessa na varada, como todas as noites, e ele maginou no farol que guia os viajantes.Procurou a chave no seu bolso mas não a encontrou, devia ter perdido quando caiu na neve.Tocou então a campainha e foi um alívio ao escutar o "dlin-dlon", e, logo a porta foi aberta pela sua filha:oi pai, como você demorou hoje!- Pedro antes de entrar olhou para trás, não havia mais chuva nem neve, embora a calçada ainda estivesse molhada , os carros passavam normalmente e alguns retardatários iam apressados , tudo como sempre, e ele sentiu-se feliz, daquele momento em diante não daria tanta importância aos problemas de dinheiro, do patrão meio-mão de vaca, da carestia da vida, recebera, sem saber por que uma dádiva inesperada, estivera pertinho da sua sonhada neve, mostrando que, nesse mundo tudo pode acontecer...
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