O SEMEADOR E O VENTO

O nome do sujeito era João. João ia com um saco na mão, um saco de sementes.

Ventava forte naquela manhã e ele se encaminhava para um terreno íngreme e ia assoviando.

Usava um roto chapéu de palha e na mão carregava um cigarro que de vez em quando rolava entre os dedos.

Ele o enrolara ao cair da tarde do dia anterior, quando seu coração era puro amor.

Levava um bornal dependurado no ombro.

Ali por certo ele carregava a boia.

João parecia contente, mas o vento soprava forte e os dois ficavam brigando.

Pronto, o cigarro caiu quando ele tentava segurar o chapéu.

Entre dentes um resmungo.

Abaixar e pegar o cigarro e deixar o chapéu voar? João optou pelo chapéu, pois faria falta quando o sol esquentasse.

Ele chegara ao tal terreno íngreme e sabia que jamais alcançaria o chapéu se saísse voando.

Virgem Santa! Aquilo parecia uma escada pro céu e o rapaz seguia com dificuldade.

Um arbusto. Pronto. Dependurou o bornal e pegou a ferramenta que ficara guardada, pois na véspera estivera trabalhando ali por várias horas.

A terra não era das melhores não e até dava pena de jogar o grão, mas era seu o chão.

Plantar o milho. Esperar crescer. E colher.

João assoviava.

Sementes jogava e com o vento brigava.

─ Vento dos diabos.

Uma ave de rapina passava voando e ele se distraia olhando.

O chapéu da cabeça escapava, pelo morro rolava.

João com o vento gritava.

Sol escaldante, cabeça exposta.

Um olhar pro céu. Cadê resposta?

Duas horas depois João ia até o arbusto, abria a marmita gelada. Parecia até piada.

Um arroz oleoso, um pedacinho de carne seca, esturricada. Num saquinho à parte uma laranja descascada. Amargara... coitada! Há horas que tinha sido cortada.

João lembrava de Tereza à mesa. De Tereza ao tanque, de Tereza na cama.

Tudo é lindo quando a gente ama.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 24/09/2013
Código do texto: T4496166
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