Os lamentos de um deus

- Minhas pernas doem. Hoje não sou mais do que uma mera sombra do que costumava ser em minha eternidade. Eu, em meu auge, quando caminhava entre os planos, quando sentia o vento em meu rosto quando voava para o Olimpo em velocidade estonteante, quando descia ao mundo dos mortos, e pelo Estige, acessava inúmeros planos, e os percorria, pela eternidade. E os mortais me louvavam. Me sentia poderoso, invencível, me sentia imortal. Porém, hoje, não tenho forças para sequer me movimentar, vagaroso como um velho, sinto minhas pernas fraquejarem, do que fui, o que era, o que pensei que sempre seria, do meu poder divino, nada restou. Em minha arrogância, imaginei, como outros deuses, que os homens mortais deviam-nos adoração, pois éramos imortais, superiores. Sim, éramos... O homem, então, deixou de nos louvar, e então nosso poder se esvaia a cada momento que um mortal desacreditava nos deuses. Com o tempo, adquiri esta sabedoria, que em incontáveis era, em incontáveis planos, jamais encontrei. Mortais sonham. E, sonhando, os m ortais remodelam o próprio mundo. E em seu sonho, foram capazes de destruir até mesmo deuses, imaginando em seus sonhos um mundo sem nós. E, que deus imaginaria, que tal poder privado até mesmo dos deuses, estaria em mãos mortais, mesmo que não soubessem disso. E, então, sem saberem sequer como fizeram, homens destruíram deuses. Com isso, tudo se foi, e o que foi não é mais. Hoje, velho e vagaroso, espero a morte que nunca chega, e de minha imortalidade só sobraram os anos vindouros, que espero ansiosamente que acabem, que chegue um dia em que se acabe esta dolorosa e fraca imortalidade. Hoje sou um velho fraco e esquecido. Mas, um dia, fui Hermes, que percorria os planos, dos mais altos céus, ao mais profundo abismo! hmm, talvez eu também possa sonhar...

Nergal
Enviado por Nergal em 24/09/2013
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