O PODER DA IMAGINAÇÃO

O PODER DA IMAGINAÇÃO

Se me perguntarem se tenho medo de alturas, vou responder sinceramente que ‘sim’. Por causa dessa fobia, deixei de realizar sonhos que brotaram em meus ideais desde os primeiros anos da minha existência. Conhecer a Europa e as Américas estavam na minha agenda há algum tempo, renunciei porém, a excursões com pessoas de meu convívio social e de trabalho. Esse trauma tomou conta de mim, desde que minha tia me chamava para ver os aviões da guerra, dizendo que queriam matar as pessoas. Se eram mesmo aviões de guerra, não sei. Na minha terra era quase impossível sobrevoar um avião desse tipo. Eu só tinha quatro ou cinco aninhos e não entendia bem o que estava acontecendo. Mas estava havendo guerra em quase todo o mundo.

Nas minhas noites de insônia, entregues aos pensamentos e à solidão, costumo preencher esse vazio, escrevendo para um conceituado site da internet, registrando o que vai pelo meu coração, sim, porque é ele que me dita o quê e como vou expressá-lo. Há pouco tempo, escrevi “Uma Valsa ao Luar”, ao sabor do luar mais doce que meus olhos já viram. Conto que saí pelo jardim e sentei-me em um banquinho onde havia esquecido meu violão. Dedilhei valsas de autores conhecidos, enquanto a branca lua prateava a terra, desfilando vagarosamente lá no alto. Lembrei-me de casa, de minha mãe, minha família que não vejo há bastante tempo. A maciez dos raios selênicos me faz bem à pele e me purifica a alma. Os olhos pesam...

Na brancura argêntea do luar, sinto-me levitar e alcançar os pontos mais elevados dos espaços siderais. Um sopro de brisa perpassa em meus cabelos, balança os galhos das roseiras e lança flores ao chão. O perfume das flores abençoa este momento de paz e magia de que tanto preciso para viver. Eis que, de repente, um belo homem vem ao meu encontro, apanha uma rosa e delicadamente m’a oferece. Assusto-me com sua presença mas controlo-me. Ao ver o violão, fala com ternura: “Continue tocando... Você toca muito bem!”... Um pouco tímida, executo “Ondas do Danúbio”, linda valsa que sempre gostei de cantar em noites de luar. Nesse momento, põe-se a dançar, primeiro sozinho, depois me pede para acompanhá-lo. Deito o violão sobre o banco e cantamos e dançamos juntos. De repente, uma rajada de vento passa pelo jardim, balança as árvores, atraindo o rapaz para o alto, sumindo entre as brancas nuvens. Meu Deus! Que estranho! Nem ao menos disse seu nome, nem de onde viera... Demorei a dormir sob o efeito daquele torpor que povoara a tela da minha imaginação de forma inusitada mas feliz.

Dias depois, tentando preencher meu tempo insone com algo interessante, resolvi escrever sobre um ‘hobby’ que fez parte da minha vida por muitos anos: Tocar acordeon. Um entretenimento que tornou minha vida mais suave, mais amena e que muito me ajudou a ser útil nas comemorações de minha terra, nos colégios onde lecionei, na paróquia a pedido do pároco. E como esquecer as serestas na calçada de casa, rodeada de familiares e de amigos nas belas noites de luar?... Título: “Meu amigo Acordeon”. E as lembranças vêm de cheio, perfumadas de flores, de emoções, de recordações que me fazem reviver momentos inesquecíveis...Parece que foi ontem!...

Onde estou? Este lugar desconhecido e estranho me assusta. Não existem pessoas aqui.

Como vim parar nestas alturas, se as alturas me apavoram? Só blocos de nuvens passam por mim tangidos pelos ventos. E meu acordeon? Pelo menos ele me serve de companhia como tem feito em todos os tempos. Aqui em meus braços, amigos para sempre. Nosso tango “La Cumparsita”, aqui nestas paragens, repercutirá como um hino à nossa amizade e fidelidade. Uma valsa que minha mãe gostava de cantar enquanto eu a acompanhava era ‘Saudades de Matão’ e vou tocar para ela, já que estou aqui mais perto do céu, embora não saiba em que lugar se escondeu. Se estivesse na terra, estaria completando cem anos de idade em ( 01/09/2013) : “Neste mundo eu choro a dor/ por uma paixão sem fim/ ninguém conhece a razão/ porque sofro no mundo assim// ...

De repente um barulho. Uma brisa leve tange blocos de nuvens e, no meio deles, um belo rapaz de semblante alegre e sorriso encantador, dirige-se a mim, dizendo ter-me ouvido tocar e fazendo-me elogios. Conheci-o logo que o clarão de um asteróide iluminou o seu rosto: - Você é o rapaz que o vento trouxe quando eu tocava violão e dançamos uma valsa?

_ Sim sou eu mesmo. Nossa! Você ainda lembra aquele dia?

_ Você não lembra que me convidou para participar de um projeto sobre dicas de Linguagem?

_ Então você é a Maria de Jesus?

_ Sim. E você é o Od L’ Aremse Peterson, o inventor de muitos estilos literários... difíceis rimas que tornam os poemas belos demais!

_ Ele mesmo. Como vieste parar aqui? Foi algum raio lunar que te transportou?

_ Não sei. Quando dei por mim, estava aqui com meu amigo acordeon... E você, que está fazendo por estas paragens?

_ Uma pesquisa. Um estudo sobre o efeito ACOPIP. Depois passo isso pra você. OK?

_ OK, amigo. Estou adorando ficar neste lugar tão distante da terra, mas tão cheio de paz! Sem estresses, assaltos, roubos, assassinatos, contas para pagar, impostos, etc. Vale a pena viver nas nuvens... E nós poetas, vivemos nas nuvens, na Lua, nos ventos, em tudo o que é belo... Sempre para o alto!...

_ Concordo com você. Toque mais uma de seu repertório para irmos embora. Pode ser? Hora de voltar... Já está muito tarde.

_ OK. Vou tocar “Relâmpagos e Trovões” de Johann Strauss, em sua homenagem, com admiração e carinho... É pra você. (tocando...). E então, toquei legal?

_ Sim, gosto muito dessa música e a interpretaste muito bem. Adorei.

_ Obrigada, amigo.

_ Vamos aproveitar e descer juntos?...

_ Vamos, OD, na carona dos relâmpagos, porque tenho medo de trovões!

_ Kkkkkkk!... Pelo menos o caminho fica mais iluminado! OK...

Four... three... two… one… LET’S GO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!.....

***

Maria de Jesus A. Carvalho

Fortaleza, 18/09/2013

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 18/09/2013
Reeditado em 18/02/2014
Código do texto: T4487445
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.