A Guilda dos Caçadores - Capítulo 5

Acordou cedo e colocou-se de pé com dificuldade. Sentia os músculos rijos e as dores do dia anterior juntaram-se com novas. Desceu as velhas escadas de madeira da antiga estalagem e encontrou Lory quebrando o jejum na sala comum. Juntou-se a ela e comeram queijo, pão amanhecido e vinho aguado para ajudar tudo a descer. A conversa minguada entre os dois girava em torno do tesouro de Nudge I, e como fariam para acha-lo. Em pouco tempo partiram rumo a borda da cidade, em direção a vegetação.

O mapa encontrava-se no mesmo local que Powling havia escondido, na frondosa árvore com uma ranhura diagonal em sua casca. Lory impressionou-se com a aparência do artefato, era diferente de todos os boatos que corriam pelas vilas. Tinha uma beleza profunda e rústica, qualquer um que visse tal objeto assumiria que algo místico estava relacionado a ele.

- Então é isso, essa é a outra metade do tão famoso mapa.

- É sim, e parece que você gostou. Eu também fiquei impressionado com sua beleza meio...obscura.

- Concordo com você. Mas e agora, o que faremos?

- Bom, acho melhor irmos pra minha vila. Encontraremos com meu superior para acertarmos quanto a isso. Até porque ele me pediu por isso depois de ter as duas partes.

- Tá certo então. É um longo caminho até lá, não é?

- Infelizmente sim, mas não temos outra escolha.

- Mas então, você não vai juntar as partes e ver o que esta dentro da segunda metade?

- Prefiro fazer isso ao lado do meu mestre se não se importa. Outra coisa; vamos separar as metades, você andará com uma e eu com outra. A qualquer sinal de perigo temos que fugir, mesmo que isso signifique deixar o parceiro para trás – Isso era o mais sensato a se fazer, porém Powling não sabia se iria conseguir fugir deixando Lory em perigo.

- Sim senhor capitão – O sarcasmo era claro em sua voz. Ela parecia sentir o mesmo que Powling.

Powling guiou-os por uma trilha estreita em meio a floresta bravia, conhecia cada curva e cada riacho pelo caminho o que deu segurança a Lory. No entanto, os salteadores continuavam a ser uma ameaça constante, com isso, nunca abaixavam suas guardas. Quando anoiteceu haviam percorrido uma larga distância, porém continuavam no interior da densa e selvagem floresta.

- Paremos por aqui, andamos bastante por um dia - O cansaço era palpável na voz de Powling, não havia se recuperado totalmente dos ferimentos do dia anterior.

- Concordo com você, arrume algo para comer que construirei um abrigo. As noites são frias nessa região.

Como antes, acender fogueiras não era uma decisão inteligente, teriam que se contentar com o abrigo. Comeram pão velho e uma carne seca puxando mais para o cinza que para o vermelho. Depois disso, Powling ficou com a primeira vigia e estranhamente sentiu-se tentado a juntar as partes do mapa e matar sua curiosidade que o corroía por dentro, aproveitando a ausência de Lory.

Seguiram-se três trocas de vigia, até que decidiram seguir caminho pouco antes do amanhecer.

Em pouco tempo de vigorosa caminhada, ambos avistaram delinear-se no horizonte sinais de civilização. Tão logo os perceberam, aceleraram mais o passo, tanto quanto possível, algo perto de um trote. Passaram pelo humilde portal de madeira e pedra da vila Fruehalf e adentraram a terra natal de Powling.

- Que tal meu canto no mundo? - Lançou um olhar penetrante a Lory - O que achou?

- É muito sereno, com um ar de tranquilidade no ar. Não que seja um lugar tedioso, mas me faz relaxar o espirito, se é que você me entende.

- Entendo sim, na verdade isso esta muito arraigado em nós Fruehalfins.

- Deve ser um privilégio crescer num lugar tão afável - Trocaram sorrisos concordando prontamente com a colocação.

Powling guiou-a pelas ruas estreitas, parte feitas de pedra, parte de terra. As construções variavam de humildes casas pequenas a médias e bem construídas habitações, porém nada que ostentasse muita riqueza. pesar disso, todos habitantes que os cruzavam lançavam calorosos cumprimentos ou largos sorrisos, Lory rapidamente sentiu-se acolhida por aquele lugar.

- Há uma boa casa de banhos aqui perto, não me parece sensato ir encontrar Azimute nessas condições de viajantes mal-cheirosos.

Após estarem a limpos, e por sugestão de Lory, bem alimentados, dirigiram-se a casa de Azimute. Apesar de figurar como um caçador mestre grau 2, sua residência em nenhum aspecto transparecia isso. Powling guiou Lory para dentro do terreno, passando por um portãozinho de madeira puída. Foram então interrompidos por uma voz de dentro da casa.

- Ora ora, quem vem lá? - Era vibrante e clara, mantendo uma certa serenidade ao ser pronunciada.

- Um certo discípulo seu que vem de uma longa e cansativa viagem.

- Permita-me testar se sua afirmação é verdadeira e se é digno de confiança, com uma simples pergunta - A voz parecia estar onipresente em certos momentos, como se viesse de todos os lados.

- Se não há outra maneira, me dobro a sua vontade.

- Pois bem. Imaginemos um cenário hipotético: por uma eventualidade do destino, ambas, sua mãe e sua esposa, encontram-se em apuros, prestes a afogarem-se num turbulento rio. Cabe a você decidir somente salvar uma das duas. Então, o que faria?

Lory pestanejou, olhando fundo nos olhos de Powling, que transparecia calma e controle da situação. Porém, passado um bom tempo, nenhuma palavra fora proferida por Powling, e Lory começava a perder a confiança em seu companheiro, desconfiando que ele não sabia a resposta. Estava prestes a indagar sobre seu silêncio quando subitamente a voz de Azimute surgiu reverberante.

- Muito bom, muito bom! Provou ser um homem sábio e digno. Entre e conversaremos.

Gabriel Freitas
Enviado por Gabriel Freitas em 16/09/2013
Reeditado em 17/09/2013
Código do texto: T4484706
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