Luzes Sem Destino
Luzes Sem Destino
A forma iluminada pendia do telhado como um morcego adormecido. A parte mais anterior lembrava uma cabeça invulgar, com uma coloração púrpura circundada por um halo esverdeado. A região mediana, o “corpo”, era mais larga e de luz branca, mostrando uma silhueta de asas. Posteriormente, colado às telhas, dois feixes longilíneos em tons de azul, assemelhavam-se a patas.
Devido à brisa que adentrava no cômodo, vinda das janelas escancaradas, a figura de luz movia-se cadenciadamente, parecendo voar sem sair do lugar, e a cada balanço, uma gama de matizes resplandeciam no quarto, como numa explosão de estrelas.
Fiquei ali, deitado em meu leito, olhando para aquela singular aparição. Hipnotizado. Perguntando-me o que seria aquilo. Não estava desconfortável ou com medo, ao contrário disso, encontrava-me relaxado e pleno. E, neste estado de espírito, perdi a noção de tempo e espaço.
Num certo instante a criatura desprendeu-se do telhado e caiu, antes de tocar o chão, dividiu-se em muitas outras estruturas aladas, e o quarto iluminou-se de tal forma, que fiquei ofuscado diante de tão intenso fulgor.
. Meu quarto agora era o universo, o cosmo se projetava nas paredes de todo o cômodo e o infinito mostrou sua face para mim.
De súbito, fui catapultado em direção a um túnel lisérgico, onde viajei com uma velocidade estonteante. Passei por muitos mundos, conheci dimensões extraordinárias, e me deparei com seres incríveis e estranhos. Voei por todas as realidades criadas, me fundindo ao todo.
Ao retornar, nada era mais como era antes. Despertei sobre as areias de um vale, às margens de um rio morto, rodeado por espigões de terra vermelha e quente. Vislumbrei o nada, levantei-me e segui adiante, sempre adiante.