O Vento Prateado - Parte II - A árvore

Floresta Profunda, Data desconhecida

A floresta era fechada e úmida, as horas pareciam se arrastar, mas a determinação do homem que a atravessa era inabalável.“A resposta está na árvore” essa frase aparentemente sem sentido era tudo que aquele homem possuía. Ela guardava sua força, sua esperança e também sua dor mais profunda.

A cada passo a floresta parecia se fechar cada vez mais ao redor do viajante, como se as arvores se movessem. O silêncio dominava e nem mesmo o som das folhas do chão se partindo a cada passada parecia ser emitido. Era um lugar estranho, desde que adentrou na floresta o homem não avistou um único animal, tudo que existia eram as árvores e elas eram todas iguais. Já não se podia ver o céu muito menos o sol tamanha era a densidade das árvores. Nesse ponto o viajante sem nome tinha de se espremer entre elas para poder continuar seguindo em frente.

Dias se passaram e o viajante não diminuiu o passo, não parou para comer ou fazer qualquer outra coisa.“A resposta está na árvore” e isso era tudo o que importava, “A resposta está na árvore” e então sua visão ficou negra “A resposta está na árvore” e foi a última coisa que ele pensou antes de desmaiar. A floresta continuou a se fechar sobre ele. E assim o tempo passou enquanto ele se tornava parte da terra, parte da floresta, parte do todo.

“A resposta está na árvore” e então ele acordou, não estava mais na floresta estava nas ruínas de uma cidade antiga, uma cidade branca, feita aparentemente de mármore. “A resposta é a árvore” e então ele se levantou e continuou a andar. As ruínas pareciam antigas mas, as pedras estavam limpas e brancas como se tivessem sido colocadas ali na véspera. Aquele lugar parecia familiar ao viajante “A resposta é a árvore” e então uma lágrima escapou e, quente como a luz do sol, ela escorreu por seu rosto até cair no chão e desaparecer.

As ruínas dos edifícios começavam a se tornar mais escassas, até que ao atravessar a única parede que restou de um prédio gigantesco elas desapareceram. O que havia além daquela parede era uma clareira com uma arvore gigantesca de folhas brancas, cercada por um grupo de arvores menores que pareciam reverencia-la.

“A resposta é a árvore” e o homem sorriu “A resposta é a árvore” e o homem começou a andar na direção da árvore de folhas brancas. As árvores ao redor da mesma se moveram, e nesse momento o homem parou, elas pareceram se levantar e então uma voz surgiu em sua mente “A resposta está na árvore” e a voz continuou “A resposta é a árvore” e a voz aumentou de tom “Eu sou uma árvore, serei eu a árvore?” e a voz se calou. O homem pareceu atônito, então um vento soprou levando as folhas brancas que estavam no chão na direção do homem. Elas pareciam dançar no ar, então o homem fechou os olhos e sentiu o vento “O vento faz eu me sentir vivo” uma frase do passado que rapidamente passou por sua mente.

E então o vento parou. Ao abrir os olhos ele estava em uma biblioteca, “A resposta é a árvore” e então ele olhou para os livros que estavam na estante a sua frente “A resposta é a árvore” estava escrito na lateral de todos. Sobre uma pequena mesa se encontrava um livro, o único diferente dos demais, sua capa era levemente cinza e seu título estava escrito em preto no centro da capa “A árvore”. Então uma dor apertou no peito do homem “A resposta está na árvore” e o homem se moveu até a mesa passando sua mão suavemente pela capa do livro.

“A resposta é a árvore” uma voz ecoou “A resposta está na árvore” a voz ficou mais próxima “Eu sou uma árvore, serei eu a árvore?” e a voz agora vinha de muito perto “O que é uma árvore? Serei eu realmente uma árvore?” E então o homem se virou e viu a si mesmo em um espelho, que tomava toda a parede atrás dele. “você é uma árvore? Serei eu uma árvore?” a voz vinha do espelho, mais especificamente de sua imagem no espelho.

O homem permaneceu parado olhando nos olhos de seu reflexo. “Eu sou uma árvore. Você é uma árvore. Eu sou você?” e então o espelho sumiu, mas a imagem continuava lá como se refletida no ar.

O homem continuou encarando a imagem até que ela se moveu em sua direção, atravessando-o como se ele não estivesse lá. A imagem atravessou a mesa e pegou o livro abrindo-o e mostrando apenas paginas em branco. “Se o paraíso existe ele é uma árvore” a imagem falou “Se o paraíso existe ele é um livro” disse a imagem “Se o paraíso existe você quer escrever nele?” continuou a imagem “Esse é meu nome. Esse é seu nome?” disse a imagem pegando uma caneta e escrevendo em uma pagina do livro. Ao ler a pagina outra lágrima escorreu pela face do homem. Uma lágrima fria como a luz da lua, uma lágrima que nunca chegou a tocar no chão , uma lágrima de tinta, uma lágrima feita de cinco palavras que o homem escreveu no livro aberto, nas mãos da imagem.

“Se o paraíso existe ele é uma árvore” , “Se o paraíso existe ele é um livro” , “Se o paraíso existe você quer escrever nele?” então o vermelho veio à mente do homem “A árvore tem flores vermelhas” escreveu o homem no livro. A imagem sorriu “Esse é meu nome. Esse é seu nome. Esse é nosso nome” Então o homem sorriu de volta. “A árvore tem folhas brancas” estava escrito no livro “A árvore tem flores vermelhas” estava escrito em baixo. Então o livro foi fechado e colocado sobre a mesa, agora o homem sabia seu nome. Então a imagem caminhou na direção do homem como que para atravessa-lo novamente,mas não o fez, simplesmente desaparecendo.

Então o vento voltou “O vento faz eu me sentir vivo” pensou o homem fechando os olhos. Ao abri-los novamente estava de volta a clareira, com uma árvore de folhas brancas e flores vermelhas na sua frente. “A resposta é a árvore” e o homem sorriu virando as costas e caminhando de volta as ruínas, com uma flor vermelha em sua mão.

P H R Garrit
Enviado por P H R Garrit em 22/08/2013
Reeditado em 09/09/2013
Código do texto: T4446835
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