AS CARTAS QUE O MÁGICO ME ENTREGOU
Eu fui tirando da cartola cada uma das sete cartas.
Na primeira havia palavras escritas numa língua estranha.
Não soube ler e deixei reservada.
Um dia quem sabe alguém a pudesse ler para mim.
Na segunda havia dois nomes guardados dentro de um coração. Uma seta atravessava-os e gotas de sangue escorriam.
Dispensava palavras. O desenho por si já falava.
Na terceira havia dois círculos e dentro de cada um nossos nomes.
Fechei, não entendi.
Na quarta carta havia muitas palavras bonitas e no final uma frase com cara de adeus.
A quinta eu nem queria abrir, mas em todo o caso...
Havia nesta um jardim desenhado e dois seres se abraçando. Das figuras saíam corações com asinhas voando...
Eu ri.
A sexta carta era bem recheada.
Era uma carta profunda. Você me falava de uma paixão que o tempo levou. Mas de uma paixão tão grande que nem a morte matou.
Você escreveu tanto. Digitou, imprimiu e as folhas, no envelope colocou.
Conheci seu estilo, mas claro que você nem assinou!
Na sétima carta que abri, eu quase caí ali.
Havia o coração, letras que eu desconhecia e que passava a conhecer, havia um círculo com os nossos nomes bem grudadinhos. Havia um coração inflado de amor. Havia um jardim e dois seres se afastando, chorando num desenho tão bem feito. Havia trechos que você dizia me amar, outros que desejava me esquecer. Havia trechos tão lindos que eu não me cansava de ler.
Descobri que dentro desta sétima carta morava você.
O mágico a minha mão segurou.
Olhou bem dentro de meus olhos e me falou:
─ Vou lhe contar porque nem tudo você entendeu. Porque você pensa que está viva, mas na verdade morreu.
Assustada, fui lhe entregando as cartas e ele se recusou a receber.
─ São suas. A ninguém mais vai pertencer. Pense em tudo que viu. Se ainda não descobriu vai descobrir. Estas cartas explicam a razão do seu existir.