Desconhecia o sabor da derrota. Todas as lutas em que se embrenhava, batalhava até ao fim, até ao momento em que a névoa de prazer lhe toldava o discernimento, até ao segundo em que num orgasmo lançava nas malhas intrincadas do vazio a sensação de ser preenchida e abusada sem pudor. Via-se de fora, entregue à mais rocambolesca volúpia, perdida no mais burlesco cenário e nunca, jamais se envergonhava do que via. Aliás, a identidade que assumia quando aproveitava os mais inóspitos prazeres, excitava-a, deixava-a orgulhosa do que havia feito de si mesma. Sabia que o Fogo que se tem dentro, difícil de apagar... e a senhora casta, de feições puras e comportamentos impecáveis que mostrava, era apenas o veículo que continha aquela que agora observava em habilidosas artes de viver o desejo, em maratonas de sexo em que ousava entrar cansando o corpo e alimentando a alma.