Aula de biologia
 
 
                         O adolescente, ainda bem imaturo, assistia a uma aula de biologia.  Havia conseguido intrometer-se entre os adultos. Afinal, era filho do dono da Faculdade e era bem visto pelos professores. Tido como um rapaz precoce, era uma personalidade carismática e com uma fértil imaginação.
                        O professor continuava a aula. Dissertava sobre o fenômeno da Miose. Acrescentava que a miose era fundamental para a manutenção da vida dos seres pluricelulares, já que através dela se formam as células de reprodução: as gametas ( espermatozóide e o óvulo).       
                        E dizia mais, o professor. A recombinação genética é infinita. As células haplóides resultantes da meiose apesar de conterem o mesmo  número de cromossomos não são iguais a nível genético, pois na metáfase, a orientação dos cromossomos é inteiramente aleatória. Como conclusão,  a meiose permite novas recombinações genéticas permitindo aumentar a variabilidade das características das espécies.
                        Carlos, o adolescente, a partir desse momento da aula, começou a fazer as suas deduções. E o pensamento voava : - “Então, está tudo explicado. É por isso que cada um de nós, desde lá  na miose, quem sabe até desde a mitose (que nem sei o que é isso) tem uma característica própria, somos todos diferentes. Deus, que loucura! Somos 6 bilhões de subjetividades. É por isso que o mundo não se entende”. E seus pensamentos também faziam combinações e recombinações com a namorada Patrícia.
                        Voltava a delirar e ria ao pensar: Deus, a Patrícia é totalmente diferente de mim, apesar do nome Patrícia. Em relação a mim é uma estrangeira.
                        Tinha vontade de perguntar ao professor (mas não podia) porque apesar das diferenças, havia o amor, havia a procura do outro,  tão diferente? Não estaria aí a resposta para o grande número dos amores fracassados? E os amores que davam certo?  Seria a tolerância, de que tanto falam os filósofos,  a explicação para o sucesso?
                        O pensamento voava alto de novo: - “ Não sei explicar isso. Só sei que não paro de pensar na Patrícia. Fico feliz por meus bastonetes se interessarem pelos belos filamentos da Patrícia (o Carlos ouviu a aula anterior sobre mitose em que os professor falara sobre bastonetes e filamentos). E sentia-se o cavalo alazão da fazenda do seu Antonio. O cavalo que perseguia sempre a bela égua Tiroleza. Os dois correndo pelas verdes pradarias desejando, sem saber, o cruzamento das gametas, mesmo sendo tão diferentes.  E acabavam se entrecruzando nervosa e gostosamente no feno macio da estrebaria...
                                   




Nota:  O trecho sobre miose foi retirado do google, evidentemente. Não sou especialista no assunto. Serviu para fazer o humor do conto.