A morte do cronista
Constantino conversava animadamente com seu amigo Horácio. De repente, Horácio pergunta: - “ Então, vai mesmo virar contista? E ainda está com aquela ideia de narrar aquela estória, com o personagem principal, ao final, matando o cronista?
- Sem dúvida – responde Constantino. Mas quero fazer uma correção, a estória já começa com a morte do cronista.
Constantino vivia acabrunhado com os blefes do tal escritor, que vivia insinuando ter tido, no passado, um caso com a Soninha. E agora Soninha estava namorando o Constantino. As cantadas do cronista, esse passado desconhecido da Soninha, deixavam irritado o Constantino. Constantino era um homem humanista, avesso à violência, daí ter tido a ideia de escrever um conto rapidíssimo onde seu pretenso rival morreria. Autor de contos tem esse privilégio: pode matar à vontade, de acordo com o nível de sua irritação. Como também pode “ avacalhar” as pessoas, deixá-las ridicularizadas, etc., etc. O contista torna-se um deus, inventa até mundos inexistentes e fecha o conto da maneira que melhor lhe aprouver.
O que doía em Constantino era a possibilidade de já ter ocorrido um encontro, mesmo que fugidio, da sua Soninha com o cronista. E o rival não se cansava de fazer crônicas narrando possíveis encontros no presente. Para atiçar bem o ciúme do Constantino, havia momentos em que o cronista dizia que havia sido abandonado pela Soninha. Mas logo em seguida lá vinha outra crônica em que contava, deliciado, o reencontro com a Soninha.
Constantino sabia que nada disso estava acontecendo. Mas se desesperava se no passado tivesse mesmo acontecido esse amor tão horrorosamente declarado pelo homem da crônica. Crônicas fracas, a bem da verdade, mas o que era contado dilacerava o coração do nosso contista. Além de considerar “sacanagem” demais por parte do cronista.
O final era mais ou menos assim: o contista e o cronista se encontram na esquina de uma determinada rua e começam a discutir. Em dado momento, o cronista saca de um revólver e quando vai atirar é violentamente empurrado pelo contista. Os dois se engalfinham no chão. O contista leva a melhor, dando uma joelhada na boca do estômago do cronista, que deixa cair a arma. Ato contínuo, o nosso contista pega o revólver e atira no peito do cronista, matando-o.
E aí? - pergunta o Horácio. – Aí se desenrola toda a trama. As peraltices da Soninha, as insinuações do cronista. Os momentos amorosos, os ataques de ciúmes, essa coisas de todos os romances. (esse é o lado que os leitores adoram!) – mas, meu amigo Constantino, conheço você, não ficou forte essa morte logo no início do conto?
- não acho, sou um humanista, detesto violência. Escrevi assim como uma catarse para mim. Uma maneira civilizada de me vingar.
- E vai adiantar?
- Penso que não vai adiantar nada na vida real, mas o meu prazer de matar o meu rival, no papel, sem ir preso, é um prazer quase sexual...
- E a Soninha? - Vai adorar o meu humanismo disfarçado de machismo...
Constantino conversava animadamente com seu amigo Horácio. De repente, Horácio pergunta: - “ Então, vai mesmo virar contista? E ainda está com aquela ideia de narrar aquela estória, com o personagem principal, ao final, matando o cronista?
- Sem dúvida – responde Constantino. Mas quero fazer uma correção, a estória já começa com a morte do cronista.
Constantino vivia acabrunhado com os blefes do tal escritor, que vivia insinuando ter tido, no passado, um caso com a Soninha. E agora Soninha estava namorando o Constantino. As cantadas do cronista, esse passado desconhecido da Soninha, deixavam irritado o Constantino. Constantino era um homem humanista, avesso à violência, daí ter tido a ideia de escrever um conto rapidíssimo onde seu pretenso rival morreria. Autor de contos tem esse privilégio: pode matar à vontade, de acordo com o nível de sua irritação. Como também pode “ avacalhar” as pessoas, deixá-las ridicularizadas, etc., etc. O contista torna-se um deus, inventa até mundos inexistentes e fecha o conto da maneira que melhor lhe aprouver.
O que doía em Constantino era a possibilidade de já ter ocorrido um encontro, mesmo que fugidio, da sua Soninha com o cronista. E o rival não se cansava de fazer crônicas narrando possíveis encontros no presente. Para atiçar bem o ciúme do Constantino, havia momentos em que o cronista dizia que havia sido abandonado pela Soninha. Mas logo em seguida lá vinha outra crônica em que contava, deliciado, o reencontro com a Soninha.
Constantino sabia que nada disso estava acontecendo. Mas se desesperava se no passado tivesse mesmo acontecido esse amor tão horrorosamente declarado pelo homem da crônica. Crônicas fracas, a bem da verdade, mas o que era contado dilacerava o coração do nosso contista. Além de considerar “sacanagem” demais por parte do cronista.
O final era mais ou menos assim: o contista e o cronista se encontram na esquina de uma determinada rua e começam a discutir. Em dado momento, o cronista saca de um revólver e quando vai atirar é violentamente empurrado pelo contista. Os dois se engalfinham no chão. O contista leva a melhor, dando uma joelhada na boca do estômago do cronista, que deixa cair a arma. Ato contínuo, o nosso contista pega o revólver e atira no peito do cronista, matando-o.
E aí? - pergunta o Horácio. – Aí se desenrola toda a trama. As peraltices da Soninha, as insinuações do cronista. Os momentos amorosos, os ataques de ciúmes, essa coisas de todos os romances. (esse é o lado que os leitores adoram!) – mas, meu amigo Constantino, conheço você, não ficou forte essa morte logo no início do conto?
- não acho, sou um humanista, detesto violência. Escrevi assim como uma catarse para mim. Uma maneira civilizada de me vingar.
- E vai adiantar?
- Penso que não vai adiantar nada na vida real, mas o meu prazer de matar o meu rival, no papel, sem ir preso, é um prazer quase sexual...
- E a Soninha? - Vai adorar o meu humanismo disfarçado de machismo...