Sailor Moon em Smallville

Nota do autor: esta história é uma fanfic, ou seja, uma ficção de fã, que vale como homenagem a criações alheias. Por suas características, fanfics não devem ser publicadas em espaços profissionais, mas somente nos amadores, para não ferir direitos autorais. Na internet já existem muitos milhares de fanfics.
Temos aqui uma "crossover" ou cruzamento de universos ficcionais diferentes.
Sailor Moon foi criada no Japão por Naoko Takeushi em 1992 e hoje é a franquia japonesa de maior prestígio no mundo.
O Super-Homem (aqui na versão do Clark Kent pré-super do seriado Smallville) foi criado nos Estados Unidos em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster.


SAILOR MOON EM SMALLVILLE

Miguel Carqueija


Serena ficou muito preocupada quando começaram as teleportações espontâneas, que a faziam emergir numa terra estranha, cedo pela manhã. A primeira vez em que isso aconteceu ela se viu nos albores matutinos, com seu pijama de coelhinhos e descalça, numa estrada secundária e silenciosa. Logo ela percebeu que não se tratava de um sonho e que se encontrava em carne e osso naquele país. Os cartazes da estrada estavam em inglês e, aos poucos, ela se aproximou da entrada de uma pequena fazenda. Encabulada pelos seus trajes, Serena avistou um belo rapaz de blusa quadriculada – parecia mesmo um daqueles folclóricos caipiras americanos – que, abrindo a porteira, aproximou-se dela. - Onde eu estou? – indagou a garota. Mas fizera-o em japonês.
- Do you speak english?
- Oh, Yes... – ela estudava inglês na escola.
- Você tem algum problema? – perguntou o rapaz.
- Ah, sim. Pode parecer estranho, mas não sei onde estou. Que lugar é esse?
- Aqui é a fazenda Kent, em Smallville.
- E onde fica Smallville?
- Você perdeu a memória? – alguma coisa naquele rosto, ou naquele modo de falar, dava aflição, como se o interlocutor fosse um tipo muito estressado, angustiado ou indeciso. Serena não quis dizer que dormira na sua cama, em Tóquio, e que despertara naquela estrada.
- É, talvez, não me lembro como vim parar aqui. É como se um disco voador me tivesse abduzido e me largado aqui, mas que tolice, não acha?
Por qualquer razão o jovem fazendeiro não pareceu achar. Serena teve a nítida impressão de que ele levara um susto à simples menção de “disco voador”.
- Bem, não quer entrar e tomar alguma coisa quente? Você parece estar com frio.
- Oh, não se importe, só me diga onde fica Smallville.
- Ué, aqui é Kansas.
- Kansas? Você quer dizer que me encontro nos Estados Unidos?
- Mas é claro. Onde é que você pensou que estivesse? No Japão?
- Oh, meu Deus... o que está acontecendo?
Serena cobriu o rosto com as duas mãos. Na verdade ela mal escutou o outro falar:
- Olhe, talvez seja melhor a gente se apresentar. O meu nome é Clark Kent. E o seu, qual é?
Serena ia retirar as palmas dos olhos e responder ao rapaz, mas antes que o fizesse sentiu um enjôo e uma angústia, sentiu como se uma voragem a sugasse...
Ela despertou, sobressaltada, de volta à sua cama, ao seu quarto. Sentiu-se perplexa:
- O que aconteceu? Não passou tudo, mesmo, de um sonho?
Olhou em volta. A gata Luna sequer acordara; permanecia tranqüila em seu sono de bichana, acomodada na caminha para gatos.
- Mas não pode ter sido um sonho. Foi tão nítido!
Lembrou-se que andara descalça na estrada e olhou as plantas dos pés, à luz do abajur: estavam muito sujas. Incomodada, foi rapidamente ao banheiro e lavou os pés. Felizmente, todo mundo naquela casa tinha o sono pesado.
“O que será que eu fui fazer em Smallville? Que foi que atraiu o meu corpo para lá?”
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Não era menor a perplexidade de Clark ao narrar o ocorrido a Chloe Sullivan, enquanto lanchavam numa cafeteria.
- E foi isso o que aconteceu, Chloe. A garota sumiu no ar, desapareceu da minha vista, como se fosse um fantasma! O que pode explicar uma coisa dessas?
- Admira-me que você possa estar tão espantado, Clark. Você e eu já presenciamos tantas coisas bizarras!
- Então você crê que podemos estar diante de um novo caso de mutação causada pelos meteoros? Uma mutante com poderes telecinéticos, capaz de se teletransportar?
- Eu não sei. Você disse que era uma japonesa, mas que sabia falar inglês?
-Saber ela sabia, porém mal e porcamente.
Chloe riu.
- E como ela era, fisicamente?
- Baixinha, uns quinze ou dezesseis anos, o cabelo é que era bem característico, com grandes tranças, cada uma de um lado...
E descreveu as tranças, da melhor maneira que pôde.
- Hum... isso se chama maria-chiquinha – observou Chloe.
- Eu não entendo muito desse assunto...
- Percebo e não me admiro. Bem, Kent, o que você pretende fazer sobre isso?
- O que posso fazer? Não tenho pista alguma!
- Então vamos aguardar os acontecimentos. A não ser, é claro, que você estivesse a sonhar acordado.
- Eu não tive uma alucinação, Chloe. A garota existe mesmo.
- E qualquer coisa me diz que ela tornará a aparecer.
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Se não fosse a Serena uma pessoa de consciência tão leve, ficaria com medo de voltar a adormecer. Mas dormiu bem o resto da noite e não deixou de fazê-lo nas noites subseqüentes. Entretanto, investigou um pouco. Rei Hino percebia energias malignas pelo mundo, mas nem sempre de forma clara. Existiam, sim, emanações malignas oriundas dos Estados Unidos, mas nada identificável que pudesse justificar uma viagem das “sailors”. Serena preferiu não revelar tudo às amigas. Relatou a aventura como um sonho, omitindo a prova dos pés sujos. Rei, no templo e diante da chama, apenas confirmou que haviam forças malignas nos Estados Unidos, mas elas não faltavam nas outras partes do mundo. Elas simplesmente não podiam eliminar o Mal da superfície da Terra, apenas combatê-lo quando se tornava ostensivo.
Porém Ami com o seu “laptop” conseguiu um pouco mais de informação:
- Essa Smallville é uma cidade pequena, mas se tornou famosa anos atrás por causa de uma chuva misteriosa de meteoros. E parece que algumas pessoas de lá sofreram estranhas mutações por causa da radiação desses meteoros.
- É muito estranho... – observou Serena.
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E Serena sonhou, várias vezes. Em seus sonhos alguma coisa maligna descia do espaço sobre Smallville e representava uma grande ameaça. A Princesa da Lua Branca andava apreensiva. Não sabendo de nada ao certo, também não falava nada às amigas. Para que preocupá-las? Ela sabia por experiência própria, que premonições acabavam se esclarecendo.
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O fragmento errático acabou finalmente se dirigindo para a Terra e para Smallville, poderosamente atraído pelos pedaços de criptonita que já lá se encontravam incrustados no solo. O tropismo misterioso das pedras de meteoros fez o seu serviço e, naquela fria madrugada, mais uma vez Smallville viu-se abalada por uma chegada extraterrestre.
Clark Kent, que costumava madrugar como bom fazendeiro, estava tomando o seu desjejum americano em companhia de Kara quando a reverberação se manifestou através das vidraças. O cachorro latiu excitado e o abalo que acompanhou o estrondo jogou Clark e Kara ao chão.
- Meu Deus! O que foi isso?
- Vamos ter que ver, Clark!
Ao chegarem ao portão, porém, esbarraram com a garota das marias-chiquinhas – outra vez de pijama e descalça, outra vez com os grandes olhos esbugalhados de medo e espanto.
“Meus Deus”, pensou Clark. “Eu nunca vi olhos tão grandes!”
- O que faz aqui de novo?
- Acho que eu não te disse o meu nome quando você perguntou. O meu nome é Serena – disse ela tolamente, à guisa de explicações.
- Quem é ela? – indagou a loura Kara, impaciente. – Veja o clarão, nós não podemos perder tempo!
Realmente, não poderiam. Serena observou-os sumirem em supervelocidade. Cada vez mais espantada, chegou à conclusão de que precisaria intervir nos acontecimentos. Pegou o broche mágico que, mesmo adormecida, portava no pescoço.
- Pelo poder do prisma lunar!
Num feérico jogo de luzes que nenhum humano estava por perto para assistir, a estudante Serena flutuou no ar, perdeu as roupas e sobre a sua nudez surgiu aos poucos o traje encantado da guerreira lunar.
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A linha férrea tinha sido interrompida pela brutal queda de um meteoro imenso e fumegante, do tamanho de um caminhão basculante; e de seus veios caramelados ou negros avistavam-se cintilações esverdeadas. Apesar de ser ainda muito cedo, algumas pessoas já se acumulavam diante do fenômeno e outras iam aparecendo. Clark e Kara, estarrecidos, não se atreviam a chegar perto: tinham percebido a substância verde.
- O que é que vamos fazer, Clark?
- Aí é que está, Kara. Não podemos nem mesmo chegar perto. Nesse ponto, os terrestres são mais poderosos do que nós!
- Mas como é que essa coisa pôde aparecer? E por que é que esses meteoros sempre caem em Smallville?
- A criptonita deve se atrair... é claro que esse é um pedaço mais interior de Crypton e que chegou aqui com mais atraso.
- Põe atraso nisso!
- Os próprios terrestres vão remover essa pedra, com guindastes.
- Clark, não há tempo! O trem já está vindo!
- O que faremos? Não podemos tocar no meteoro! Vamos ter que deter o trem!
- Isso vai ser mau, Clark. Se detivermos esse trem na marra o solavanco vai machucar os passageiros!
- Sem falar que iremos nos revelar diante de todo mundo!
- Clark, temos de fazer! Se deixarmos ocorrer uma carnificina diante de nossos olhos, o remorso vai nos atormentar pelo resto das nossas vidas!
- Espere! Quem é aquela ali?
Temendo a criptonita, Kara e Kent estavam a bem mais distância do objeto que as demais pessoas. Viram chegar uma estranha e majestosa figura: uma garota pequena com uma singular roupa: um saiote, botas vermelhas de cano alto, gola de marinheiro, adereços diversos, uma tiara na testa... parecia uma princesa de outro planeta, com feições extremamente puras e belas. Em sua mão direita portava uma espécie de cetro.
Ela se aproximou majestosamente e diante dela a pequena multidão abriu caminho, aterrorizada, entre indagações de “quem é ela?”, “o que ela vai fazer?”, etc.
E ela fez. Apontou o cetro e dele saiu uma descarga de energia que atingiu o meteoro e o desfez, em fração de segundo, completamente desintegrado.
Alguns segundos depois o trem passou célere e incólume enquanto os smallvillienses aplaudiam a salvadora com entusiasmo. Ela agradeceu gentilmente e, antes que alguém chegasse perto, deu um grande pulo, mas foi parar bem em frente a Clark e Kara que, como foi dito, tinham permanecido a maior distância.
- Espere! Quem é você, afinal? – indagou Kara.
- Você é aquela garota do pijama, não é? – disse Clark.
- Quem lhe disse isso? – Serena arregalou os olhos de susto.
- Mas é evidente. Eu nunca vi na minha vida uma garota com marias-chiquinhas tão descomunais e não iria ver duas diferentes no mesmo dia.
- Ah, é mesmo? – embaraçada, Serena deu um sorriso de encabulamento e passou a mão esquerda na cabeça. – Mas que engraçado! É tão difícil alguém reparar num detalhezinho desses...
- Mas nós reparamos – falou Kara. – Então, quem é você?
Ela se animou. Afinal, sabia explicar isso de cor e salteado.
- Eu sou uma guerreira com roupa de marinheira, que luta pelo amor e pela justiça! Sou Sailor Moon! E punirei vocês em nome da Lua... ops! Esqueçam essa última parte! É só para vilões!
- E estou vendo que você agora incluiu meteoros no seu currículo – observou Kara chistosamente.
- Meteoros? Ah, sim, você quer dizer aquele pedregulho?
Clark não pôde deixar de rir ante aquele nível de inocência.
- Na verdade, você foi grande.
- Muito obrigada! Agora, me desculpem, mas tenho que ir embora!
- Mas quem é você realmente? – insistiu Kara. – Você veio de onde, como é que tem esses poderes espantosos?
- Bem... como é mesmo o seu nome?
- Eu sou a Kara.
- Vamos fazer o seguinte, Kara: guardem o meu segredo que eu guardo o de vocês. Está bem assim?
Os dois primos se entreolharam com embaraço. Com certeza, a garota vira a exibição de supervelocidade.
- Está bem – concordou Kent afinal. – Tornaremos a nos ver?
- Quem sabe?
Sailor Moon afastou-se rapidamente. Ainda a viram subir a colina e depois a sua silhueta imóvel, segurando o cetro com as duas mãos, como se rezasse; por fim uma luminosidade intensa emanou das mãos da Princesa da Lua Branca e envolveu-a completamente. Ao dissipar-se a luz, Serena tinha desaparecido em meio às primeiras pinturas do sol matinal.
- Sailor Moon... que interessante... – murmurou Clark.
- Vamos embora, Clark! As pessoas vão perder o medo e se aproximar de nós!
- Só diremos que ela se identificou como Sailor Moon. O segredo dela é outro, é a identidade da garota de pijama!
- É isso que nós precisamos, um uniforme qualquer para que não nos reconheçam! Se tivéssemos isso, teríamos podido agir!
- Ela deve ter pensado que somos frouxos! Viu os nossos poderes e viu que não fizemos nada! Não houve tempo para contar sobre a criptonita!
- Seu bobo! Não podemos sair contando as nossas fraquezas, mesmo a uma suposta amiga como ela! Nem sabemos de onde ela veio!
- Ela deve ter vindo do Japão. Não vê que ela se teleportou? Isso é uma coisa que nós não podemos fazer!
- Será que ela voltará?
- Quem sabe um dia? Mas foi uma sorte ela aparecer. Tinha tanta criptonita naquele meteoro que isso iria nos causar sérios problemas...
Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 24/07/2013
Reeditado em 11/05/2017
Código do texto: T4402576
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