Roble – Uma História Esquecida Capítulo 4 – Mudanças
Roble estava pacífica e tranquila como era o seu normal. Bartolomeu caminhava pelas casas vendo as pessoas gargalharem e conversarem animadamente, nada parecia ter mudado, a agonia que existia dentro de si se amainava até que ele relaxou por completo, via as pessoas arrumando suas casas para a festa que iria ocorrer à noite.
Todos os lares estavam repletos de luzes piscantes das mais variadas cores, grandes laços vermelhos presos nas janelas, sinos e guirlandas se encontravam na maioria das portas de entrada das residências.
Na praça central havia um majestoso pinheiro sendo enfeitado com muito capricho por vários Robles, desde luzes douradas a flores e pequenos enfeites. Em seu topo, uma grande estrela de madeira contendo o nome de todos os Robleneanos do vilarejo.
Era a grande festa comemorativa de colheita das safras e o início do extenso inverno que se seguiria.
O cheiro no ar era delicioso, pães de frutas, bolos, tortas, assados, tudo sendo levado para a grande mesa de madeira na praça e a visão era mais gloriosa ainda, dando água na boca em todos os que estavam por perto, principalmente os pequenos que rodeavam a mesa tentando roubar uma lasquinha aqui e ali, sendo reprimidos com severas broncas pelas mulheres que ajeitavam e enfeitavam tudo.
Alguns ainda conseguiam pegar alguma coisa, mas logo tinham que correr sendo ameaçados de não participarem do banquete à noite.
Bartolomeu viu Agnes ajudando sua mãe com flores que estavam sendo colocadas na mesa, e não era pra menos, sendo ela a filha do floricultor. Estava linda como sempre, usando um belíssimo vestido azul escuro com detalhes em prata, os cabelos castanhos aloirados caiam sobre os ombros, o sorriso doce e gentil cumprimentava os demais presentes, as pessoas começavam a aparecer para ajudar a terminar as tarefas e para se prepararem para a grande farra que logo se iniciaria.
Estava ansioso para cumprimentá-la, mas antes que pudesse se mexer foi detido por um grito.
-Hey, onde pensa que vai?
Era Klaus quem berrava, distraindo-o do foco.
-E desde quando eu lhe devo satisfações?
Bartolomeu respondeu fechando a cara enquanto encarava o amigo que vinha gargalhando em sua direção, lhe agarrando pelo pescoço e bagunçando todo o seu cabelo mais do que já estava.
-Por que toda essa raiva nesse coraçãozinho tão puro, hein? Hein?
Ele esfregava a cabeça de Bartolomeu com o punho fechado, que tentava a todo custo se livrar dele.
-Sai, sai Klaus!
Depois de muito empurrar e espernear o amigo finalmente se livrou com o rosto completamente vermelho e irritado.
-Sem graça!
Ele passava as mãos pela cabeça, tentando arrumar os cabelos da melhor forma possível.
-Você está horrível, acha que eu ia mesmo deixá-lo falar com a Agnes nesta situação? Vá pra casa tomar um bom banho, se vestir adequadamente e depois, à noite, pode paquerar o quanto quiser... Isso é, se dona Feliciana permitir.
Klaus tinha razão, a mãe de Agnes era muito coruja e não gostava da ideia da filha já estar sendo cortejada. Bartolomeu abaixou a cabeça, se analisando por um instante, estava uma lástima, as roupas cheias de terra, as mãos sujas, se queria ter alguma mínima chance que fosse com sua amada, teria de agradar a mãe e por tanto, ter uma aparência apresentável.
Deu uma última olhada para Agnes e correu para casa, não podia perder nem mais um minuto.
***
A noite estava espetacular, as pessoas estavam se divertindo, rindo e comendo, Bartolomeu não poderia estar mais feliz, finalmente dona Feliciana não estava implicando com o fato de sua filha e ele estarem dançando e conversando.
O ruivo Klaus também estava ajudando com a distração da mesma, conversando sobre qualquer baboseira que ele certamente inventou na hora, Bartolomeu seria eternamente grato ao amigo.
Estava tudo perfeito, perfeito até demais.
Um vento forte e gelado vindo do oeste assustou a todos, que não esperavam aquela friagem que trazia junto de si o gosto da morte.
O Robleneano sabia o que aquilo significava, sentiu um profundo calafrio e então tudo se escureceu.
continua...