O PALHAÇO
(Conto)
Ele vinha para o seu picadeiro de sempre.
Não era um palhaço comum, desses de circo explícito, sob tendas coloridas, desses de nariz vermelho, postiço, de cara maquiada que encanta as crianças e que faz todo mundo sorrir, mesmo que ele esteja a chorar.
Era um palhaço às avessas...
Vinha de risca de giz, passo forte ,decisivo, postura altiva.
Vinha de cara lavada, algo ainda menino, jeito de bondade,disposto a dar a outra face dissimulada para qualquer oportunidade desvalida a reluzir sua confiança fosca num palco combalido pela própria multidão viciada.
Comercializava propósitos a se perder de vista como um malabarista das ocasiões..
Então, sem nariz postiço , de boca muda , sem ciência e sequer consciência de si mesmo , fez todo mundo rir da própria vida energúmena, tragédia da má sorte que denuncia e comemora a agonia de si mesma.