As viagens de Capitão, a bordo do sabre de prata
Após todo esse tempo em alto mar sem ver uma mulher, me veio a cabeça Soraia e Dallila. São duas ciganas-feiticeiras, uma de cabelo loiro como o sol nascente e outra de cabelo ruivo como o poente. A primeira com olhos feitos com a própria safira de Nakir e a segunda com os olhos feitos com a poeira da criação. As duas de sorriso brilhante e risadas obscuras, no fim duas criaturas magnificas.
Lembro quando conheci Dallila com seus cabelos vermelhos e sua dança estonteante. Era alvorada e num circo armado perto da minha casa estava ela, jovem, linda. Eu pelo menos era jovem naquela época, como os jovens fazem amizades facilmente, porque nem lembro como nos conhecemos, só me lembro de estar com ela e mais três ciganas em uma pequena tenta nos arredores do circo.
Bebíamos o furor rubro da guerra e do amor, conversávamos sobre as estrelas, os deuses e nossos atos, foram as horas mais rápidas da minha vida, quando vi já estava amanhecendo e não havia mais jarras de vinho, por fim tive que ir embora porque assim que amanhecesse eu teria que ajudar a calafetar o navio do meu tio.
Depois disso começamos uma grande amizade, porém ela se mudou para um circo de uma outra cidade. Essa ficava a apenas dois dias de viagem, mas mesmo sendo tão próxima eu nunca a visitei, continuamos amigos e trocávamos algumas correspondências.
Ela acabou voltando para minha cidade, só não estava mais com o circo. Foi ai que conheci Soraia, que era de sorriso farto e contagiante quando alegre, mas que tremia corações de cavaleiros com sua carranca quando chateada. Soraia veio de algum lugar no vento, de vez que eu nunca soube de onde e talvez nem ela soubesse, veio pra morar com Dallila que nesse tempo já era enrolada de um pensador, desses que acham que precisam saber de tudo, e foram felizes os três por algum tempo.
O pensador eu já conhecia, era um amigo meu de longa data, já éramos aliados antes de Dallila e até mesmo antes dos pelos no rosto e até hoje somos grandes amigos.
A casa de Dallila era habitada por festins, suas danças, canções e orações ciganas juntamente com a possessão do vinho e de uma agua envenenada trazida do norte por Soraia era o combustível para acontecimentos mágicos.
O mar meio que me distancio desses meus amigos, e dessa magia, mas carrego essas lembranças como força para resistir a tanto tempo no mar.