A Loucura
A noite é longa e os suspiros gritam na respiração sôfrega do hospedeiro. O branco é cinza à noite, e as sombras se perdem diluídas na escuridão. Vultos passam e morrem pelos cantos dos olhos, e não adianta virar e revirá-los, eles são mais rápido, e quando mais agitado estiver, mais vivas elas ficam, pois é do medo que elas se alimentam.
O mundo é uma pintura do que queremos ver, e tudo que foge da aquarela do mensurável e inteligível assusta e desperta nossos medos. A coluna gela, os passos uivam em desespero abaixo dos pés. São eles, as coisas mortas que vivem na cabeça dos que temem o mundo que não se pode tocar. A dúvida do que se perdeu na penumbra do pensamento sombrio, aquilo que se levanta quando tudo dorme.
Sombras dançam à meia luz, leem os pensamentos e se transfiguram nos medos mais sombrios. Aquilo que mais se teme toma corpo e movimento, habita os pensamentos assustados e faz a cabeça revirar, perder a linha do que é real e do que não é. Tudo parece o mesmo desespero, os vivos se arrastam no chão puxados por suas sombras, a parede que virou o chão.
A noite é longa no tempo dos loucos, e o noctâmbulo passeia na sua ironia do que está atrás do espelho. Somente algo pode libertá-lo, sim. Um espelho estilhaçado, um punho ensanguentado, o sangue morno pingando no chão e a dor que ainda existe. Enfim, aí está você, morte. Veio reclamar meu último lampejo de juízo, me arrastando para o sono eterno, e só à beira da morte pude sentir minha vida escoar, e sentir, que de fato, estava vivo e não sabia.