O misterio da escuridão Pte 04
O passado nunca me pareceu tão claro quanto aquele momento caído ao chão, ouvindo os passos de meu irmão se afastar. Quando meus olhos viram a estrelas percebi que estava fora da caverna, meu corpo estava envolvido em uma manta ao lado de uma fogueira e Irina. Ela ficou ali, imóvel, apreensiva, até que sorriu e me abraçou, deitou seu corpo encima do meu e, através dele pude sentir meu coração batendo.
Seus lábios encontraram os meus enquanto os nossos dedos percorriam as curvas perigosas de nossos corpos.
-Achei que tinha te perdido. Disse enquanto acariciava meus cabelos.
-Eu não desistiria tão fácil assim de você.
-Como sabia que eu havia voltado? Perguntei.
-Eu nao sabia. Disse se sentando ao meu lado. -Eu só nao aguentava mais fingir que nao te conhecia. Depois que seu irmão arrancou seu coração, ou a parte boa dele, você se tornou mais forte e mais ágil. Mas tambem se tornou mais arrogante, mais temivel e, oque voce sentia por mim acabou se perdendo.
-E ainda assim voce me esperou. Conclui.
-Aquela historia de que voce era serva de Audric era tudo mentira nao?
-Eu nao podia simplesmente falar que nos amavamos, seu irmao me mataria e, Alastor disse que com tempo voce retornaria.
-E ele estava certo.
Ela assentiu.
-Ei, onde está seu irmão? Perguntei.
-O mandei caçar para ficarmos a sós...
-... Shhh. Coloquei o dedo em seus lábios a impedindo de falar.
Nos abraçamos e, eu a envolvi em meus braços. Queria permanecer preso aquele momento quanto tempo me fosse permitido.
-Eu te amo Irina.
-Nao mais do que eu amo voce Adraenn.
Aquela foi nossa primeira vez, pelo menos a que eu pudesse me lembrar. Naquela mesma noite o céu pareceu chorar de felicidade.
Algum tempo depois de nos recompormos, Viktor surgiu com a caça e, mais alguns gravetos para fogueira. Ao nos ver abraçados logo percebeu oque havia acontecido.
-Adraenn? Você...
-Sim meu amigo. Terminei a frase para o garoto tremulo a minha frente.
-Mas como? Insistiu absorto.
-Audric. Afirmei e me calei fitando as chamas e ouvindo os estalos da fogueira.
-O que tem seu irmão com isso?
-Quando vocês caíram, dentro da caverna, surgiu uma figura na entrada, no início era Tanya, logo depois era Alastor e, alguns mais. -Daí senti minha existência voltar a mim e, quando percebi Audric segurava em suas mãos um coração, o meu coração.
Os dois trocaram olhares.
-Nós caímos porque a sereia nos atacou Adraenn. Disse Viktor confuso.
-Isso é impossível, eu o vi.
-Mas porque seu irmão te devolveria o coração que pegou como trunfo de sua batalha? Perguntou Viktor.
Neguei com a cabeça e me levantei.
-Vou dar uma volta. Coloquei minhas botas e caminhei floresta adentro. Irina se levantou em seguida, me olhando, eu estendi a mao para que nao me seguisse.
Andei por longos minutos até um desfiladeiro que dava para uma enorme cascata. Lá me sentei e memorias que preferia nao lembrar, insistiam em ficar presas a mim. Fazia um tempo que nao sentia a entidade dentro de mim, teria sido Reichwein enfim domado? Era uma resposta que eu descobriria com o tempo.
-Vamos logo irmao. Disse a Audric antes de partir para o grande campo de treino abaixo do castelo.
-Nao tenha pressa irmãozinho, afinal voce nao consegue me vencer. Disse se gabando.
-Andei treinando. Disse sorrindo com o canino.
Enfim depois de andar em círculos, saímos dos estreitos degraus da escadaria em forma de espiral que dava para o campo.
Já estava no chao pela sétima vez se nao tinha perdido a conta. Audric lutava comigo sem usar seu espirito guerreiro Dominis, um dragao que possuia segundo nosso falecido pai o dom de esmagar meio planeta se desse um unico rugido.
Audric se empenhou a cuidar de mim desde o dia fatídico, mas começou com a arrogância, depois de sabermos do testamento de nosso pai, deixando todo reino sobre meu poder, o filho mais novo. Isso provocou completamente sua ira, seguindo assim, a ira de Dominis.
-Se me golpear. Disse Audric enquanto apontava o indicador para a testa. -Eu te deixo brincar com Dominis.
-Entao prepare-se para sentir o poder disso. Disse estendendo meu punho envolto por chamas em sua direçao.
Correndo e me desviando de seus ataques, me cansando enquanto ele simplesmente se desfazia de meus esforços.
Afastei-me rapidamente a uma distancia de vinte três metros e meio, era perfeita a velocidade que Reichwein me fornecia. Saltei por sobre as colunas que sustentavam o templo e, me coloquei na escuridão profunda onde as chamas das tochas não alcançavam.
Sempre soube do imenso medo de meu irmao do escuro, então ordenei a Reichwein que drenasse toda luz que houvesse ali. Pude notar em seus olhos o pânico, quando, todas as chamas se extinguiram, envolvendo o cenário com seu manto sombrio.
-Então pensa em se esconder nas sombras Adraenn? Disse com a voz trêmula. –Será neste mundo uma sombra assim como o verme de nosso pai.
Suas palavras surtiram efeito, meus dentes rangeram e ficaram expostos. Uma chama negra azulada se formou em um dos cantos do mórbido ambiente a nossa volta, aparecendo e desaparecendo em lugares distintos.
-Uma sombra, eu? Minha voz era tênue e macabra, ecoou por toda parte.
Apareci atrás dele e o golpeei.
-Eu não sou uma sombra. Eu sou as trevas iminentes, aquelas que surgiram antes do mundo ser criado pelos primordiais.
Estava envolto por meu espírito protetor me movendo com destreza, como se flutuasse.
-Eu sou aquele que irá te destruir. Sussurrei ao seu ouvido. –Aquele que arrancará de você seus sonhos. Desapareci e reapareci a sua frente. –E aniquilará toda a sua existência.
O golpeei com todas as forças que continha Reichwein, ele se chocou contra algumas paredes atravessando-as. Levantou logo em seguida envolto por Dominis, este, era um espirito atormentador, alas e olhos como metal derretido. Tentei em vão me desviar de seu ataque, quando me vi de joelhos.
-Antes que isso aconteça, farei o mesmo com você, e irei começar arrancando seus sonhos.
Ele atravessou meu peito com as mãos envoltas por metal derretido, e simplesmente deu meu coração de refeição para seu mascote.
Eu só me lembro de dormir profundamente e, do nada despertar de um sono que eu esperava não mais acordar.
Foi assim que aconteceu até este momento, as lembranças que antes estavam guardadas nos abismos da minha mente, se reergueram como um dragao em chamas. Agora eu tinha um motivo para seguir em frente, uma razao para destruir meu inimigo, meu proprio irmao.
Fiquei de pé e observei o precipicio abaixo de mim, estendi minha mao e uma e uma leve chama apareceu, ao olhar para trás, percebi que escondida entre as arvores estava Irina, fechei meus olhos e dei um passo a frente para que meu corpo caisse livre pela escuridao. Podia ouvir, sentir e, talvez até tocar o vento que passava por mim como laminas sobre seda fina. Ha alguns metros do chao, meus olhos se abriram e, minha vida nao havia passado diante dos meus olhos como muitos diziam. A lua pareceu brilhar com mais intensidade, meus olhos se reviraram e meu corpo ficou envolto em brasas fumegantes, asas negras flamejavam a minhas costas e me levaram ao inicio de minha jornada vertical.
Pairei por sobre a grande rocha e, lentamente, como se caminhasse no ar me dirigi até ela, que agora acompanhada de seu irmao lamentava minha perda.
Andei até Irina e coloquei minha mao sobre seu ombro.
-Eu disse que te amo, lembra?
Ela girou com velocidade e voracidade, agarrou meu braço e me envolveu nos seus.
-Nao faça isso, Adraenn, eu amo voce mais que tudo.
-Opa! E euzinho aqui? Disse Viktor.
-Amo a voces mais que tudo, mas de formas difetentes. Sorriu ao nos abraçar.
-Porque voce saltou? Indagou o garoto.
-Precisava ter certeza de que Reichewein foi finalmente domado, ele tem medo assim como eu, medo de perdermos um ao outro. -Agora estamos prontos. Afirmei.
-Prontos para oque? Irina disse olhando em meus olhos.
-Prontos para vencer a tudo e todos que se opuserem em nosso caminho! Disse com convicçao. -Adraenn Cordovam despertou novamente, está na hora de fazer meus inimigos sentirem medo. A lua estava em seu apice no céu, quando começou a ser coberta, formando um eclipse. Olhamos para ela durante algum tempo. -Todos vao me temer!
Desmontamos acampamento e nos adentramos nas profundezas. Irina novamente queria lançar seu feitiço de luzc segurei seu braço e neguei com a cabeça, ela se afastou e entao um dança de chamas começou a emanar de minhas maos, iluminando tudo oque tocava.
-Lá está ela! Gritou Viktor quando viu a sereia se aproximando, formando volume onde passava por sob a terra.
-Irina, convoque Nawa para brincar com ela! Ela logo entendeu o recado, invocou seu espirito e enfim começou a dominar as rochas a sua volta, forçando a criatura a atacar somente exposta.
-Entao é isso! Percebeu Viktor minha ideia.
Invocando Windar para batalha, surgiu o obelisco da nevoa e raios, fazendo-os golpear sem piedade a fera. Girei meus dedos pedindo um furacao, ele tentou mas a criatura era rapida demais.
Esquivou-se para lá e para cá como uma sombra, invoquei finalmente ele, Reichwein resplandeceu como nunca.
-Agora Adraenn! Irina estava mantendo a criatura presa por dois braços de pedra que havia forjado, jamais vi algo igual, parecia com um titan, ou pelo menos tao grande quanto.
-Adraenn, essa é a hora! Viktor laçava uma lufada de ar comprimido na direçao da criatura, era a arma perfeita, ar comprimido com fogo em seu interior, em contato com as rochas feitas por sua irma, seriam como um choque de asteroides no solo ta terra. Uma enorme bomba.
-Reichwein! Disse olhando em seus olhos, ele assentiu pela primira vez, lançou pelos ares a maior bola de fogo ja vista, meus olhos encheram de luz e, nossos corpos estremeceram com a explosao.
Gritamos de felicidade ao mesmo tempo. Nawa, Windar e Reichwein parados ali como uma equipe, fizeram meus olhos lacrimejarem. Só entao, nos demos conta da figura parada um pouco mais ao fundo das catacumbas rochosas, era ele, o mago por traz de tudo, o verdadeiro inimigo enfim havia mostrado sua cara, ele desapareceu e nós o seguimos.