O nascimento de um par de asas

Aquela coisa que humanos sempre dizem sobre "Contos de fadas" é real. Mas não é o que a maioria pensa. O nosso conto de fada é geralmente uma história que tenha acontecido com alguma de nós e toda a noite contamos para todas as outras com vaga-lumes iluminando as nossas casas-flores.

Uma dessas histórias ficou na minha cabeça. Uma fada mais velha de uns 200 anos talvez, contou como foi o dia em que suas asas nasceram. Dizem que quando se chega perto dessa idade, o que deve ser mais ou menos na fase adulta em anos humanos, as fadas começam a esquecer boa parte do que acontecia na infância. Mas aquela em particular jamais se esquecera. E era assim que eu gostaria de ser quando chegasse a essa idade.

"Eu lembro quando era pequena que todas as minhas amigas já tinham recebido seu par de asas. Eu me sentia excluía quando elas falavam sobre isso, pois mal podia dizer alguma coisa que não fosse "eu imagino que deve ser incrível" - ela começou enquanto eu viajava na minha própria história.

Eu já tinha asas aquele dia, mas não fazia muito tempo que as tinha conseguido. Quando fiz uns 50 anos me senti top porque tinha finalmente chegado a adolescência onde o ritual "asalítico" podia acontecer. Eu esperei muito tempo e nada. Minha amigas também já tinham as delas.

Em um dia qualquer eu passei a barreira que separava o meu mudo com o dos seres humanos, logo após a parede que deixava o reino das fadas invisível havia uma cerca viva bem verde. Encontrei uma pessoa lá. Era uma menina mais baixa do que eu. E estava chorando.

Tentei parecer amigável e conversei um pouco com ela. Sei que ela não queria me contar nada no começo, mas acabei fazendo com que ela me dissesse. Assim que terminou ela me ouviu. As vezes as vidas de pessoas como ela são tão estranhas. Os pais estavam gritando pela casa um com o outro e ela se sentia culpada pela separação dos dois. No meu mundo não havia separação, talvez desentendimento mas sempre havia uma solução. Foi exatamente o que eu disse. Convenci-a a tentar conversar com eles.

No dia seguinte fui visitá-la no mesmo bosque em que a encontrei. Tinha um sorriso em seu rosto. Um sorriso bonito que me fez sentir orgulhosa dela. Deu certo. Senti-me como uma mentora, pois toda vez que ela precisava de ajuda eu a dizia como deveria fazer.

Em uma noite de lua minguante, onde o céu parecia mais escuro do que normalmente, eu senti uma dor muito grande nas minhas costas, parecia que alguém estava enfiando uma faca em mim. Quando toquei onde doía gritei de dor e medo. Havia um caroço gigante. Ouvi uma voz dizer no meu ouvido tão calma quanto o som do vento "Floral, você completou a sua missão, a natureza está com você. Para sempre..."

A dor me agoniou ao ponto de eu não saber mais o que fazer. Caí em uma pétala de flor do outono e minhas costas pareciam explodir. O caroço foi aumentando. Um membro novo crescia nas minhas costas. Era uma sensação horrível e única. Minha visão ficou fraca. A coisas pareciam tão escuras. Meu corpo caiu totalmente e eu não tinha mais consciência.

Acordei e estava em um tronco de árvore enrolada em uma folha laranja. Havia muitos olhos curiosos me observando com atenção.

"Eu sabia que tudo ia correr bem." - uma dessas pessoas me disse - "Uma fada de outono recebendo seu par de asas de um jeito bravo. Como dizem os humanos 'algumas coisas parecem ruins no começo, mas no fim te levam a uma coisa boa'."

E eu sabia bem daquilo. Era o que tinha acabado de acontecer comigo.

Bec
Enviado por Bec em 21/04/2013
Reeditado em 21/04/2013
Código do texto: T4252292
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