O perfume das abelhas

luizcarloslemefranco

Uma colmeia selvagem foi instalada naturalmente por grandes abelhas amarelas e pretas numa zona de mata em uma região temperada no sul de Goiás.

Sob o comando experto de uma astuta e sábia rainha, as operárias conseguiram ter um sítio limpo, confortável e produtivo para viver seus poucos dias.

A região era rica em flores silvestres perfumadas e possuía árvores angiospermas que embelezavam e sombreavam também o entorno com suas flores pré-fruto.

O local era ermo, calmo, com um riacho barulhento que deixava o lugar aprazível e fresco. Em sua margem direita havia capins vários, floreiras rasteiras, crajirus cujas flores são rosa-lilases, e ananases com floradas lilases e bráqueas brancas, Na esquerda, um pouco mais alta, além das árvores que estavam em ambas as margens, existia touceiras de arbustos típicos do cerrado, como mandevila com as flores rosa; romãzeiras floradas em vermelho; carqueja que tem flores brancas; guanxuma - flores amareladas - e até um peqeno (ibi) pitangueiro, que enchiam o espaço de cores e odores silvestres na primavera, decâmetros ao redor.

A colméia vivia á largas, haja vista, apesar das flores, não haver ali muitos outros insetos, pela presença de pássaros de vários calibres e matizes, que se alimentavam de insetos, mas não das abelhas. Viviam, então, despreocupadas em relação a este detalhe vital.

O cortiço cresceu. Seu mel atraia mais pássaros e insetos e até alguns animais pouco maiores.

A rainha morreu, e as abelhas tiveram outras e outras e outras. As operárias também se foram, substituídas pelas que cresciam. Surgiram e morreram zângãos, e a casa/fábrica das abelhas estava cada vez mais produtiva. As bichinhas iam e vinham velozes, várias vezes ao dia, sempre trazendo pólen de alguma planta vizinha – e até longínqua, já que se aventuravam a distâncias – que se multiplicavam também pelo encontro entre plantas masculinas e femininas que seus contatos promoviam. Assim, sempre tinham matéria-prima, flores.

Os animais gostavam, ficavam e acasalavam-se, porque tinham, mel, flores e plantas à vontade e uma fonte de água sempre renovada. Assim o entorno crescia em vida e em números de indivíduos.

Num momento, bem depois, algumas abelhas não voltaram. Mais alguns dias e outra leva não veio de volta. Estas ausências repetiram-se e a colmeia preocupadas com as faltas, estressada, começou a enviar um segundo grupo após a ida do primeiro, para tentar descobrir o que se passava e as que foram enviadas ao encalço dele para ajudá-lo em algum pormenor, também ficavam pelo caminho. As poucas que regressavam informavam que as irmãs que iam mais longe simplesmente sumiam no ar após uma ventada forte, como se algo se movimentasse de balde no ar. À chamar à atenção, presença de seres que não conheciam.

Algumas abelhas, depois destes incidentes, já saiam com receio e vinham de volta prematuramente, ou faziam menos viagens e mais curtas. O cortiço de mel não mais se repletava. A rainha de então, num descomparinho qualquer resolveu ela mesma ir saber o que se passava. Voltou cansada e disse que as abelhas estavam sendo apanhadas por uma grande rede de filó fino em um jardim distante .por uma alguma pessoa a duas léguas dali, aproximadamente.

Não puderam fazer nada a não ser programar uma dieta e não mais colher néctar nos alecrins - cheirosos – do-campo com suas flores branco-amareladas que tanto gostavam e que eram bastante comum nas cercanias do perigo. Outras flores aromadas também tiveram que ser esquecidas. Adaptaram- se e conseguiram, após algum tempo, quase cessar o êxodo, mas as flores das cercanias já não vicejavam como antes, depois que as abelhinhas pararam de visitar algumas delas. Os animais já não se interessam tanto pelas plantas. O mel não mais variava de cor e doçura porque não havia mais tanta variedades de floreiras sugadas. A vizinhança parecia não estar mais harmonizada como dantes.

Era tempo de mudança, e as melíferas mudaram de espaço, viajando para outras plagas.

As abelhas estavam sendo, esquisitamente, capturadas por seu perfume, já que suas patas estavam sempre em contato com a parte mais bem cheirosa das flores e se impregnavam de odores diversos, mais de alecrim.