O Sonho
Esta noite tive um sonho e gostaria de compartilhar. Foi um sonho bem intenso e preciso de uma ajuda para conseguir decifrá-lo. Espero que possa me ajudar! Foi assim:
Em um dia comum, igual a todos os outros, fui dormir. Coloquei o despertador para tocar e sem nada de especial caí no sono.
Tudo começou no meu trabalho. Estava no meu escritório em uma partição com umas 10 pessoas. Cada um resolvendo suas particularidades. Havia algo diferente no ar. A sensação de que algo ia acontecer. Conversei algumas palavras com meu supervisor e voltei para meu computador. O escritório ficava em um prédio e da onde eu estava podia ver a cidade lá fora com um horizonte não muito bonito, mas uma vista de alguma forma privilegiada. O céu estava bonito num dia de sol sem nuvens. Alguma coisa acinzentada unia o céu e a terra, mas que de costume já nem se reparava mais. Parei alguns instantes contemplando a paisagem. Imóvel. Intensa. Meu olhar perdido se aprofundava mais e mais. Meu corpo começou a vibrar. Como se fosse algum tremor. Pensei estar com algum problema de saúde. A vibração começou a piorar. A mesa tremeu. Comecei a sentir medo e percebi que todos notaram. Algumas pessoas pareciam estar num princípio de pânico. A janela tremia mais e mais. Os vidros quebraram e no horizonte o céu começou a avermelhar. De longe uma onda de vibração muito forte parecia vir distorcendo todo o ar. Como um arco no céu que se move varrendo todo o espaço. Um som ensurdecedor vinha junto. De olhos arregalados e sem conseguir me mover assistia desesperado meus últimos segundos de vida. Aquilo ia destruir tudo! E foi se aproximando mais e mais. Mais e mais tremor, mais e mais vibração até que VRUMMMMM. Fomos engolidos. Fechei os olhos sem coragem de abrir. Ficou um silêncio eterno. Não senti nada. Apenas meu cabelo que balançou por uns instantes. Aquele tempo de silêncio durou uns mil anos. Até que percebi estar vivo. E sem coragem nenhuma decidi abrir os olhos.
A luz penetrou pela fresta que se abria entre minhas palpebras e uma imagem começou a se formar. A janela. A parede. O escritório. As pessoas. Todos estavam trabalhando normalmente. O vidro intacto. Chamei meu colega e perguntei se ele tinha visto aquilo. Ele não respondeu. Parecia que não tinha me ouvido. Chamei de novo. Nem um sinal. Fui até ele e ele me ignorou. Alias, todos me ignoravam. Não sei se desviavam de mim ou se eu não estava lá. Estaria vivo? O que houve? Não sei. Acho que estava sonhando acordado. Talvez tivesse saído do meu corpo. Um pouco assustado comecei a andar pelo escritório. Realmente eu estava lá e ao mesmo tempo não estava. Decidi sair pelas ruas para ver o que acontecia. Nas ruas era a mesma coisa. Eu estava em um grande cenário de coisas acontecendo, mas não estava mais participando. Apenas assistindo. Decidi visitar minha família. Peguei meu carro e fui até a casa dos meus pais. Eles estavam lá. Minha mãe cuidando das suas coisas, meu pai e meus irmãos. Nenhum deles me viu, nem sequer falou comigo. Talvez eu estivesse em algum lugar, talvez meu corpo estivesse dormindo, talvez eu estivesse lá e minha consciência fugido de mim. Algo em minha mente dizia para eu buscar por mim. Foi então que decidi ir para minha casa procurar meu corpo.
Chegando em casa vi a sala bem arrumada, meu ar estava lá. Eu não estava lá, mas ao mesmo tempo estava. Fui até meu quarto para me procurar em minha cama, mas estava vazio. Ouvi uns passos lá fora de alguém assobiando. Alguém passou uma carta debaixo da porta. Na carta o número de minha casa: 12. Abri para ver quem entregou. Era meu vizinho maluco do lado. Estava com seu jeito estranho de ator de teatro. Uma roupa esquisita de mais de mil anos. Não me viu. Apenas entrou em sua casa. Estava em paz.
Eu, ali na porta, procurava meu corpo que sumiu. Veio então em minha mente visitar a casa em que nasci. Há tempos não ia para lá. Era um sítio distante da cidade. Alguns quilômetros de estrada de terra além da estrada. Íamos sempre para lá, mas com o passar o tempo o custo e a distância nos fez ficar na cidade. Eu nasci em casa. Não houve tempo de ir ao hospital. Quando viram eu já tinha nascido. Era uma história muito feliz que minha mãe contava com muito orgulho. Ela falava do medo de acontecer algo comigo por não estar no hospital, da dificuldade por não saber o que fazer. Minha mãe dizia que apenas foi a natureza de Deus que me fez nascer. Eu sentia que isso era algo especial. Que eu era especial. Havia nascido longe das buzinas e dos prédios. Sentia que eu era importante. Isso na prática nunca me fez diferente, sempre fui uma pessoa comum.
Fui então até o sítio. Chegando lá pude ver o que esperava. A casa estava esquecida. O mato cobria quase todo o chão e entrava por todas as frestas possíveis. Tudo continha os sinais do tempo. A pintura gasta. Algumas rachaduras, as portas já com pedaços podres. Com algum esforço abri a porta dos fundos e entrei. Estava vazia e abandonada. Sinais de que talvez algum animalzinho tivesse feito ninho por lá e já não morava mais ali. Eu também não estava lá.
A noite surgia e decidi fazer uma fogueira. Na frente havia uma grama alta que com algum esforço abri um espaço para eu ficar. Um espaço suficiente para fazer fogo e deitar. Juntei alguns galhos secos e acendi. O fogo aquecia o frio que o anoitecer trazia. Contemplei a chama. A beleza das labaredas. A beleza da natureza. E após algum tempo deitei e fui lentamente adormecendo. E o fogo foi lentamente se tornando brasa. E quando mais sentia o sono chegar, meu corpo foi ficando leve e mais leve. Começou a subir lentamente. Virei-me no ar para ver a terra e vi as brasas se alimentando do vento. E continuei subindo. Quanto mais alto e mais distante, meu corpo ia ficando maior e maior. A casa virou uma casinha. A cidade, uma cidadezinha. O país, um paisinho. O mundo, um planetinha. Estava no espaço. Solto no universo. Tive medo. Aonde iria parar? Não poderia ficar distante de toda minha vida. E de súbito agarrei a terra com as mãos. Ela era do tamanho de uma bola de futebol nesse instante e quando toquei nela, senti ela tocar em mim. Fui ficando azul, as mãos azuis, me transformando naquele planeta azul. E o calor do sol aquecia a lua e a minha pele. Sentia o sol ao meu lado através do seu toque. Olhei para ele e parte de mim começou a ficar dourada. E quanto mais diretamente eu me voltava para sua luz menos enxergava. Um clarão imenso apagou tudo que não fosse sua energia. Isso me dava medo por não me sentir mais eu, mas era uma sensação boa de estar junto com toda aquela força. A iluminação cegava mais e mais e quanto mais forte se tornava mais eu via e me sentia parte daquilo, estava me tornando aquilo.
Acordei na minha cama com o sol batendo na minha cara amassada. Esqueci a janela aberta. Fechei e fiquei algum tempo deitado pensando naquilo.
Ouvi o som de alguém assobiando lá fora. Fui ver. Uma carta passou por baixo da porta: 12. Abri para ver quem era. Era meu vizinho maluco com uma roupa estranha de mais de mil anos. Chamei ele, mas acho que ele não me ouviu. Fechei a porta e fui até a varanda. O céu continuava lá, a cidade continuava lá, eu continuava lá.