O retorno da Flor Sabiá
Era mais uma manhã de sábado. Mili acordou, tomou café e seguiria sua rotina de fim de semana. A semana não tinha sido fácil para ela: trabalhos da escola para fazer, matéria para estudar, discussão com amigos. Desejou que a semana acabasse, queria brincar, sair, divertir-se, pois o seu pequeno mundo estava muito agitado ultimamente.

Mili percebeu que o seu pássaro não cantara ainda hoje e geralmente o canto era tão alto e magnífico que ela acordava e ia verificar o que estava ocorrendo com seu pequeno amigo e às vezes voltava a dormir aliviada vendo que o mesmo só estava anunciando que o dia maravilhosamente começara.

Quando Mili aproximou-se da gaiola, sentiu ausência de vida, e o seu coração começou a bater acelerado imaginando que algo ruim tinha acontecido ali. Rapidamente foi pegar uma cadeira para subir, pois a gaiola estava num lugar alto e aparentemente seguro.

Os olhos de Mili confirmaram o que seu coração temia. O seu amado sabiá estava morto. Que havia ocorrido lá? Será que ele havia chamado por ela? Será que o seu pequeno amigo pedira ajuda antes de partir?

Muitas vezes Mili teve vontade de abrir a gaiola para seu amigo voar, mas lembrava de que ele já estava vivendo em cativeiro quando ela o ganhou. Ele era uma companhia leal e conversavam enquanto Mili limpava a gaiola, trocava sua água e dava-lhe comida. Por que o tempo não poderia dar-lhe uma chance para encontrar seu amiguinho vivo? Por quê?
 
Não sabia ainda definir tudo que estava sentindo e só sentia vontade de chorar. Desejava que o tempo voltasse, queria seu amiguinho vivo.
Mili pensava que sabia sobre a perda, pensava que já compreendia a morte, mas seu coração infantil chorou e sentiu uma grande dor por nada compreender. Não sabia onde enterrar o seu pequeno amigo, não queria ele longe.
 
 
Resolveu então chamar seu amigo Téo, companheiro de tantas aventuras, um amigo inteligente que aparentemente tinha solução para tudo.
Téo brincava com Mili no quintal, às vezes pegavam a mangueira e ficavam espirrando água para que o pássaro sentisse o frescor da água cristalina e eram momentos de pura felicidade e encantamento.

Mili, Téo e o Sabiá conheciam o significado da palavra amizade, não as definições dos dicionários e enciclopédias, mas a experiência de compartilhar momentos, de sorrir, cantar juntos, de tomar banho de mangueira imaginando dançar na chuva.

E o momento mais difícil chegou, os amigos decidiram enterrar o pequeno sabiá em um vaso, e plantaram uma flor. Assim nasceu a linda Flor Sabiá regada por lágrimas infantis eternizadas pela amizade. Linda flor mágica que voa, canta, encanta e retorna sempre para relembrar da divindade da vida.

A Flor Sabiá quando aparece nos sonhos de Mili torna a vida mais colorida e acordar após sentir seu perfume e cantoria é divino como o amanhecer da primavera.