As letras rebeldes
luizcarloslemefranco
Um alfabeto rebelde descontente com as palavras que uma professora formava com suas letras cada vez que alfabetizava um piá, resolveram pregar-lhe peça.
Combinando com as letrinhas, que também não estavam contentes com as ajuntadas que a ensinadora realizava, resolveram que iriam distorcer as palavras assinaladas com mudança de sua ordem nas fileiras.
Na aula seguinte, assim que colocou algumas letras e palavras simples no quadro de giz a professora, como sempre fazia, virou as costas para o quadro e compareceu às crianças para ensiná-las a copiar corretamente o que pensava ter escrito.
Escreveu – frase um - O galo não bota ovo.
dois - A cor azul é clara.
três – O boi é mansa.
As crianças leram e escreveram – O voo não galotabo.
A roc zula Carol.
O bio é sonam.
António, no fundo da sala, riu, assim que via a primeira frase.
A mestra, irritada, chamou à atenção o menino.
- Que se passa António, precisa de ajuda? Ri de quê? Não está a entender?
Outro guri, e outro, mais um e uma menina troçam das sentenças do quadro.
- O que foi, meninos? pergunta a orientadora, sem perceber o que os alunos veem na lousa.
Laura diz: profe, que palavras engraçadas. A mestra volta-se e lê o que ela escrevera originalmente ( as letras refizeram o original para ela, mas as crianças continuavam a ver o que viam anteriormente e se divertiam).
A professora continuava a não saber de nada, impacientava-se, ralhava com a classe, tentava por ordem no pedaço.
Cada vez que ela voltava-se ao quadro as palavras estavam escorreitas para sua visão. Para os demais, tudo era estranho.
Um dos estudantes, mais sério, contou para a professora o que liam e ela voltava-se e não percebia nada de anormal. Sentiu-se estranha na sala de aula.
Tentou apagar tudo e teve outra surpresa : percebeu que não conseguia, com as letras agora afrontando-a diretamente, fixando-se firmemente na parede.
A ‘educadora’ dispensou as crianças, por não poder contê-las e foi á sala contígua pedir
ajuda. Chamou pelo amigo prof. Marcus, que veio em seu socorro e não viu nada no quadro - as letras apagaram-se. Surpreso, olhou para a colega, para os moleques que estavam fora e que riam muito, e como a dizer - sou bobo? e pensando tratar-se de trote voltou á sala que ocupava.
Imediatamente as letras se formaram de novo, na brincadeira.
A professora captou este troca/troça que as letras lhe arranjavam. Riu desesperada, sem saber o por quê do acontecendo. Os miúdos também perceberam a mágica e aí os risos aumentaram e os comentários também. Alguns, os menores, assustaram-se a pensar em magia negra.
A professora, agora como que se desculpando, rechamou o colega e mostrou, com os endossos dos alunos o que ocorria.
Na classe, agora muda, os pequenos arrepiaram-se quando a mestre não conseguiu, de novo apagar.
Transtorno vai, desconforto vem, o diretor apareceu e a história se repetiu.
Dispensaram as aulas. Esperaram o dia subseqüente.
No dia seguinte, o n’outro e em mais uns, o fenômeno repetiu-se com o tal professor mas não com outros que foram investigar o que ocorria.
Os alunos que estavam em outra sala, provisoriamente com outra instrutora, solidarizaram-se com dona Carmem - este o nome da oficial da sala – e voltaram. A mestra passou a ditar os texto, os alunos entenderam o trabalho e a intenção , mas o ambiente não era mais o mesmo, desgringolando-se e a ditadora teve que se afastar após algumas semanas depois.
As crianças entristeceram-se, já que gostavam da senhora Carmem e agora escreviam trocando propositalmente as letras. O cais instalou-se, foram chamados os pais, o bedel, o coordenador do curso. A turma foi desfeita, misturando-se os alunos em outras classes
e tudo se esqueceu com o tempo.
As letras do alfabeto continuam as mesmas até hoje