Dos avessos e do próprio amor.
Subia, caminhando, e pensava confuso no que iria dizer. Poderia matá-la e assim poria fim em tudo. Mas sabia que não são simples assim as coisas e que, no fundo, nem era isso que queria. Só que queria acabar com o que lhe fazia sofrer e sentia repulsa por todo mundo porque todos se deixavam passar por aquelas situações humilhantes e depois todos fingem que está tudo bem, como se não sentissem mais nada. Parou, por alguns minutos e, pisando no cascalho na borda da valeta da estrada, olhou toda a paisagem infindável que agora se punha, pelo relevo, submissa aos seus olhos, e sentiu-se ainda mais inexistente e pensou em voltar. Continuou, se perguntando o que faria com todo amor que ainda sentava comodamente e fazia ranger os ossos do seu tórax se a resposta fosse negativa, e caminhando subia mais. E perguntava-se sobre o que realmente queria enquanto tentava organizar as várias perguntas que se atravessavam na frente dos olhos quando se aproximou, já lá no alto, da casinha torta e incolor de madeira descascada.
E disse ao curandeiro:
- Faça com que eu não ame mais, jamais.
- E porque pensas que isso lhe será útil, ou que fará com que sua vida melhore, rapaz? – retrucou o velho após um sonoro riso-tossido.
- Porque assim, eu nunca mais vou odiar como estou odiando. Não quero mais isso enquanto viver.
Com a ronquidão de uma garganta obstruída pelo grosso e cinzento catarro e machucada por muitos anos de passagem de palavras cortantes, a voz esfumaçada lhe explicou:
- Mas assim, rapaz, deixará de viver!