Filhos...!

Filhos... Ah! Como são contestadores. Na sua ótica sabem mais da vida do que seus pais que possuem um cabedal de conhecimentos adquiridos nos muitos anos vividos. Adolescentes, então, tornam-se verdadeiros donos da verdade. Uns “aborrescentes” isto é o que são. Tenho uns aqui em casa que não fogem à regra. Deixam-me dia-após-dia mais grisalho. A caçula fez uma viagem internacional de intercâmbio e retornou cheia de novos conceitos, que passou quase ditatorialmente a introduzir em nossa casa. Um deles, a reciclagem do lixo, por sinal, de salutar importância. Que ela tem o narizinho em pé, como comumente se diz de pessoas altivas, isso ela tem.

Mas achei louvável a sua atitude politicamente correta e toda a nossa família, como uma formiguinha, arregaçou as mangas e deixou de contribuir com o emporcalhamento de Soterópolis. Além de, também, dar a sua pequena parcela de contribuição para alavancar a combalida economia de Pindorama. Vale salientar que ela deu o pontapé inicial da reciclagem e todos da casa passaram a “rezar na sua cartilha”, executando a coleta seletiva. Mas, ela só deu destino ao produto da sua ação politicamente correta durante a primeira semana. A partir daí sobrou para o abestalhado do papai, aqui, que se preocupou em levar o material descartável para os recipientes coletores, que estão se tornando escassos em nossa cidade.

Hoje, após chegar de estafante viagem levei-a, juntamente com a esposa, ao Shopping para almoçarmos. Terminada a nossa refeição, ela quis levar os pratos até a ilha que os Shoppings mantêm para recolhimento dos pratos que foram utilizados nas refeições. Sugeri que ela não levasse porque o Shopping já dispunha de um ou mais funcionários fazendo este tipo de serviço. Foi o suficiente para ela recriminar-me afirmando, categoricamente, que eu estava com ideias escravagistas. Não me contive e lhe perguntei: Eu, com ideias escravagistas? Logo eu que tenho os pés na senzala?

- Você mesmo!

Tornei ao assunto dizendo-lhe que o fato de os Shoppings manterem funcionários executando o recolhimento do material sujo, após as refeições, significava mais gente empregada, contribuindo, deste modo, para a queda da taxa de desemprego em Pindorama. E que se todas as pessoas, após as refeições, levassem os pratos sujos até a ilha de recolhimento, os administradores dos Shoppings iam dispensar os empregados que executavam tal serviço, por não mais necessitarem da sua mão-de-obra.

Como boa contestadora que ela é não se deu por vencida e foi logo me dizendo: “pelo seu raciocínio, então, vai ser necessário que se jogue o lixo nas ruas para dar trabalho aos garis, ou que se matem pessoas para dar serviço ao coveiro?”.

Em poucos segundos torrei alguns neurônios e – sem qualquer resistência - sucumbi aos seus argumentos.

Filhos...!

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 04/03/2013
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