A Vita Além do Cativeiro
Vita nasceu em cativeiro, prematuramente aos sete meses, em uma sala escura com apenas uma maca, alguns papelões jogados pelo chão, e uma lâmpada piscando no teto. Vita não sabe como foi parar no cativeiro, ela só sabe que faz parte daquele lugar. Vita tem hoje 22 anos, e nunca viu um livro, nunca assistiu TV ou ouviu rádio. Vita não conhece nada além das paredes escuras do cativeiro, dos papelões jogados pelo chão, da maca já enferrujada em um canto do cômodo, da lâmpada no teto, e do quadrado no teto, que de vez em quanto é aberto, e por ele é jogado alguns mantimentos que servem como alimento.
Vita nunca viu seu próprio rosto, portanto não sabe o quão belo o rosto dela é. Vita só consegue ver seu corpo esbranquiçado e raquítico, e seus cabelos loiros que chegam até a cintura. Mas Vita não sabe da importância estética disso.
Todos nós sabemos que há algo de inusitado no modo como Vita vive. Mas ela não teve escolha, ela foi moldada pelo cativeiro, portanto não há muita dessemelhança entre ela e um chipanzé enjaulado. Vita sabe fazer alguns sons com a boca, e sabe escutar os barulhos que faz quando toca na maca, e essa é a sua diversão.
Vita teve 22 anos para pensar, para ter diferentes e ilimitadas percepções, e desenvolver ideias sobre o cativeiro. Vita já bate nas paredes, e tenta pular quando o quadrado é aberto. Vita já sobe na maca, pra tentar desvendar o além do cativeiro. Vita sabe que o alimento vem de algum lugar, e que a maca veio de algum lugar, assim como os papelões, e ela mesma. Vita quer descobrir o além do cativeiro. E quando Vita conseguir se livrar das correntes psíquicas que a mantém presa no cativeiro, Vita estará livre para desfrutar a vida do lado de fora, e poderemos dizer que o experimento foi um sucesso.