O misterio da escuridão PTE 02
Ainda tentava me recordar das lembranças vagas que se desfaziam em minha mente perturbada. A imagem de Audric atravessando meu peito e arrancando dele meu coração, me deixava inquieto. O melhor seria esfriar minha cabeça em um bom treino com Viktor Valentine, um garoto de dezessete anos que aparentava ter um espirito e segredos tão perturbadores quanto os meus.
Atravessei o grande corredor e desci até o moribundo fosso que dava para o paladium, ou arena como o chamavam. Ao ver a luz no fim do enorme fosso, bem ali do lado de fora um garoto que se vestia de homem, carregava em seu corpo uma aura tão negra quanto às trevas. Não que as dele fossem maior que as minhas, mas algo nele me intrigava.
O mago havia me alertado sobre sua força descomunal alguns minutos antes, mas sou o tipo de guerreiro que só acredita vendo. Nunca fui muito de dar ouvidos para oque os outros diziam.
Viktor não hesitou em me golpear no rosto quando não pude me defender. Estava todo esfolado, mas ainda assim me mantive de pé.
-Isso é tudo Adraenn? Se for continuamos nossa briga depois.
Passei a mão nos cabelos que me impediam a visão.
-Já posso começar? Perguntei e ele fez cara de confuso. –Estou cansado de deixar só você brincar garoto! Meu semblante se fechou assim como o tempo que nos cercava. Depois de um sol escaldante, as nuvens cobriram o azul de um negro tempestuoso.
-Prepare sua espada meu amigo. Não é só porque ainda é uma criança que terei pena de você! Sorri e ele se enraiveceu.
-Criança? Você não sabe pelo que passei até chegar aqui, então fecha sua boca! Ele ergueu sua espada em direção ao breu encima de nossas cabeças, a névoa tomou conta do lugar, depois de um breve instante ele surgiu. Wyndar, o espirito da névoa de Viktor. Suas asas formadas por suas próprias sombras, seus olhos dourados fumegantes me encaravam e eu retribuí o olhar sem temer oque estaria por vir.
-Finalmente! Gritei. –A fera surge em meio às trevas, trazendo a destruição!
Seu protetor parecia repetir seus movimentos, e como já havia visto as técnicas de Viktor, seria fácil me desviar dos ataques. Cravei minha espada no chão como em reverência a Wyndar.
-É isso mesmo Adraenn! Curve-se perante seu arrebatador! Disse Viktor se gabando.
Em meio à névoa via-se uma luz azul bem ao fundo. Um campo mágico criado por Alastor para vislumbrar a luta. Dentro dele estavam Irina, Leo e Kellen. O olhei nos olhos e ele assentiu. Voltei a encarar a fera a minha frente que esperava por uma reação. Um enorme calor tomou conta do meu espirito, meus olhos derramavam lagrimas como lava quente esculpindo rochas a volta de um vulcão. Flamejavam ódio. Só manteria a calma porque tudo não passava de um treino.
Segurei minha espada mais forte enquanto Reichwein se resplandecia atrás de mim. O fogo emanado de seu corpo o tornava mais sombrio. Mesmo eu Adraenn Cordovam, depois de décadas treinando com meu protetor, não conseguia domina-lo. Era um dos poucos espíritos que possuíam vida própria, era praticamente impossível doma-lo.
-Agora o verdadeiro treino começa criança! Ele sorriu. –Não pense que serei misericordioso, porque na guerra não existe perdão! Necessitávamos de qualquer ruído, até mesmo o tilintar de uma agulha, faria um simples treino se tornar um combate tenebroso.
Trevas e fogo eram oque se via. Quando os golpes eram desferidos com vontade um contra o outro, explosões de frio e calor surgiam em meio o combate. À vontade, a fúria, o desejo de mais, era o que nos motivava a querer sempre superar nossas próprias metas.
-Ainda não cansou seu imbecil! Viktor era bem crescido para alguém de sua idade. Percebi que sua maior fraqueza era a paciência que lhe faltava, então o chamar por nomes ofensivos o fazia ficar descontrolado.
-Vou destruir você seu verme! Indagou.
Meus olhos viram nele um pouco de mim. Flashes vieram em minha cabeça como raios ao solo. Minha atenção foi desviada e recebi um golpe em cheio, oque me fez voar por pelo menos uns vinte metros ao ar, somente com o poder emanado da espada de seu protetor.
-Muito bem Wyndar! Disse Viktor enquanto faziam uma espécie de dança de comemoração.
-Investida rápida agora! Continuou o garoto enquanto Wyndar preparava seu punho para me golpear antes que pudesse me recuperar de seu primeiro ataque.
-Reichwein, vamos mostrar a esse pirralho como queima nossa alma, como age o verdadeiro senhor do fogo!
-Eu sabia que você era meio tantã Adraenn. –Seu perturbadinho. Aquilo me feriu de verdade ele estava agindo como Audric, meu irmão.
Corri em sua direção juntamente com Reichwein. Fiz um sinal com a mão, um sinal que sabia que ele reconheceria.
Ele simplesmente desapareceu em meio à densa névoa que Wyndar fazia. Essa era a jogada, como o espirito de Viktor repetia seus movimentos, ele teria de escolher um de nós para atacar.
-Wyndar! Dispersar a névoa e planar.
Esse era o momento! Ele estava à procura do protetor, deixando sua guarda completamente desprotegida. Aumentei minha velocidade, nada mais nada menos com a ajuda de Reichwein. Pude enxergar através dos olhos de Viktor o desespero.
-Acabou Viktor! Parei a poucos centímetros dele, com um golpe rápido demais para que ele pudesse se defender, retirei de sua mão sua espada. Abri meus braços com se fossem asas, Reichwein fez igual, então uma enorme explosão de fogo atingiu meu adversário em cheio.
A névoa se desfez por completo e o corpo de Viktor ficou atirado ao chão.
-Acabou meu amigo, essa foi a melhor luta da minha vida. Disse estendendo minha mão para que ele pudesse segurar.
-Foi a melhor que já tive também, digna de um Cordovam. Disse enquanto segurava minha mão se mantendo de pé.
Ao longe vinham nossos três jurados e amigos.
-Foi uma luta e tanto irmão. Titubeou Irina enquanto pegava a espada de Viktor que ainda estava cravada no solo.
-Parabéns aos dois. –Foi de dar medo tagarelou Kellen.
-Está na hora de entrar. Parece que realmente o tempo está se fechando. Falou Alastor.
-Adraenn. Começou Viktor. –Como você fez aquilo?
-Aquilo oque?
-Primeiro seu espirito guerreiro estava planado sobre a névoa, e depois simplesmente estava atrás de você. Como você fez?
Continuamos a caminhar até que finalmente nos adentramos no castelo.
-Pergunte a sua irmã, ela com certeza sabe o que aconteceu.
-Eu também não consegui ver, e espero uma resposta. Falou duvidosa.
-Kellen? Perguntei.
-Nadinha. –Respondeu.
-Também estou curioso Adraenn. Indagou Alastor. – Todos esperaram uma resposta.
Paramos no grande salão, uma enorme mesa era preparada pelas serventes do lugar. Peguei uma taça de vinho e me sentei.
-Ele nunca esteve sobre a névoa. Assenti.
-Como assim? Perguntaram os três juntos.
-Todos nós vimos quando ele sumiu! Viktor cruzou os braços.
-Ele sumiu. –Não planou. Afirmei.
-Então... Começou Irina.
-Exatamente! Naquele momento eu selei Reichwein novamente...
...-Se deixou desprotegido de propósito. Continuou sua irmã.
-Isso é loucura. Concluiu o mago.
-Sinistro. Disse o curandeiro sorrindo.
Todos sabíamos que se Viktor tivesse descoberto meu plano e me atingisse naquele momento, eu estaria morto agora.
-Você realmente é fantástico como me falaram. –Mas vamos ver no mano a mano.
Viktor se levantou retirando sua armadura, a minha já estava no chão há algum tempo. Ele veio com um golpe já meio exausto em minha direção, eu simplesmente me desviei e o coloquei para dormir num contra-ataque perfeito.
-Também está na sua hora meu jovem guerreiro. Disse o mago se referindo a mim.
Apontou seu bastão em minha direção e tudo se apagou.