O CASTELO
Tinha chovido a noite toda. Deu até pra ouvir o ribombar dos trovões. O clarão dos relâmpagos alumiava até o alto da serra da Guaramiranga, estremecendo o chão, que dava até medo.
Logo pela manhã, bem cedinho, Zé já estava de pé, respirando com satisfação o cheiro da terra molhada e a vista descansava só em olhar para o verde da mata. Nuvens carregadas coroavam o cume da serra e as formigas de asa saltitavam aqui e ali, fazendo a alegria das galinhas e dos capotes no terreiro. Mariazinha, a mulher de Zé que estava barriguda, já estava ali no fogão à lenha fazendo o café e as tapiocas de coco. O cheiro gostoso invadia a casa toda.
- Eita, Mariazinha! Vem mais chuva por aí... – disse apontando pra serra azul. Vô apruveitá e construir o nosso castelo lá debaixo daquelas carnaubeiras.
- É bonito, lá. Vem tumá o teu café primeiro, hôme! As tapiocas tão bem quentinhas! – disse ela satisfeita, varrendo as formiguinhas espalhadas pra tudo quanto era canto da casa.
O fato é que o Zé tinha visto um castelo numa revista, quando um dia ele foi a Fortaleza resolver umas coisas. Era um castelo na Europa e ele botou na cabeça que ia construir um castelo igualzinho àquele da revista. Afinal Mariazinha era a princesa que ele sonhara. Moreninha de olhos verdes e bonita que só a gota serena! Eita morena bonita! E ainda estava esperando um filho dele.
Deu-se que um dia ele terminou de construir o castelo. Chamou Mariazinha pra ver e ficaram ali por um bom tempo, de mãos dadas, satisfeitos, admirando a construção.
- Eita, que ficou bonito, Zé!
- Eu num lhe diche que um dia ia terminar? Eu pintei ele todo de azul, que é pru mode Deus nosso Sinhô abençoá a gente lá de riba das nuvens... e ainda coloquei umas bandeirinhas brancas, tá vendo?
Mariazinha assentiu e sorriu, segurando o neném num abraço. Zé também abraçou os dois ternamente. Mariazinha já tinha parido e já tava de novo com a barriga cheia, pois o Zé queria ter uns dez filhos, que era como ele dizia, “... os meninos era pru mode ajudá na lida do roçado e as meninas pra encher a casa de rosas e ajudá a mãe na lida da cozinha”.
Nuvens carregadas coroavam o cume da serra. Um vento frio soprou de mansinho anunciando que ia chover naquela noite. Entraram e fecharam a porta do castelo.
Quem passava lá no alto da estrada, via no meio das carnaubeiras, uma casinha de taipa, pintada toda de azul. E no varal, panos brancos esvoaçavam no quintal.