Além do Fim do Mundo - Capítulo 1 - Não conte mentiras

Criei essa história, ainda não completa, há alguns anos atrás, encontrei no meu computador e vou compartilhar com vocês. Tomei como base o universo do filme "Piratas do Caribe".

No filme Piratas do Caribe 3 : O Fim do Mundo, a personagem chamada "Tia Dalva" que na verdade é a Deusa do mar "Calipso" pergunta a tripulação de Jack Sparrow se eles navegariam até o fim do mundo e além para reaver a vida de seu capitão, então me veio a pergunta, o que tem além do fim do mundo?

A minha história decorre no século XVII (1600 - 1699), e transcorre a redor de todo o mundo

--------------------------------------------------------------------

Capítulo 1: Não conte mentiras.

Aquele era um ótimo momento para se navegar, se não fosse o mar agitado, o vento imprevisível, à noite avançando e os sinais de temporais. Os marinheiros de um navio mercante estavam cautelosos, mas felizes pela aproximação de terra firme, Grand Turk era o destino do capitão. Ao longo da viagem, um dos marujos percebeu um homem ao mar em um pequeno bote, desmaiado, foi lançada uma corda e o homem foi resgatado.

- Revistem o homem e vejam se é alguém com valor. – disse o capitão que chegava por entre os marujos.

Não aparentava ser um homem que possuía muitos valores, então normalmente não receberiam nenhuma recompensa, decidiram então, por abandoná-lo na cidade quando chegarem ao destino, com o propósito do sujeito não lhes pedir por comida. E foi feito, ao ancorarem no porto da cidade arrastaram o corpo para um beco escuro.

A pessoa em questão é um homem jovem, ele aparenta ter uns 23 anos, sua barba volumosa destaca na sua pele branca, seu nome é Ewan, um pirata, Capitão Ewan, ficou conhecido como o pirata do olho vermelho. Fez grande campanha com seu navio intitulado de Arranha-Céus que foi furtado da frota inglesa em apenas seis meliantes.

Partindo da Inglaterra seu bando continha um médico e um navegador, ambos eram nobres que simpatizaram com Ewan e seu irmão Harry no tempo em que os piratas viveram em Londres, os dois ricos e jovens desejavam muito sentir o calor das aventuras ao mar e não ouvir somente histórias, o doutor era muito habilidoso e estudado e o navegador do barco tinha muita experiência adquirida no trabalho para a marinha real e ele foi o planejador do saque do Arranha-Céus. Um mestre no quesito de armas era outro dos integrantes da corriola de Ewan, fez um grande estudo das disposições dos canhões do navio e ficou impressionado com o poder de fogo da embarcação que se tratava de uma chalupa, ou seja, um barco pequeno de uma vela que permite maior velocidade e precisão nas manobras. O quarto dos cinco integrantes era o marceneiro do navio, o mais velho do bando, é especializado em veículos marítimos, já realizou vários trabalhos grandes com sucesso e é bem conhecido em seu ramo, juntou-se a tripulação pirata por simpatia e respeito aos irmãos piratas. O último tripulante era Harry, o irmão de Ewan, viveu em Londres por bastante tempo, até tempo demais em terra para um pirata, junto com o capitão aprontavam nas ruas da cidade e sempre se metiam em confusão, embora, Harry sempre foi mais centrado que seu irmão e gostava de pesquisar sobre política e ler livros, Ewan também gostava de ler, mas era raro pois gostava mais ainda de roubar algo na feira ou cortejar alguma moça.

A vida em seis pessoas em alto mar era trabalhosa demais, só que chegou a recompensa, um barco para ser saqueado. Usando toda experiência adquirida em vida pirata, Ewan e Harry conduziram os novos cães dos mares a uma emboscada perfeita onde eles tomaram o barco em apenas seis ladrões, o truque foi se infiltrar no barco e causar uma rebelião. Essa tática ajudou os piratas a recrutarem marujos para facilitar a vida ao mar. Esse recrutamento foi feito mais uma vez em uma vítima próxima a África do Sul, em seguida chegaram a Tortuga sem mais nenhum confronto. Harry, o Imediato, propôs que ao desembarcarem na cidade “pirata” ele iria se encarregar de escolher mais alguns tripulantes para que o resto do bando pudesse descansar e contar vantagens pelos bares de Tortuga, Harry tem grande poder com as palavras e consegue mostrar seus pontos de vista de forma a influenciar outras pessoas, em piratas com pouca instrução isso se torna ainda mais fácil. Durante dois dias a festa dos tripulantes de Ewan estremeceu a cidade, foram contratados mais 35 tripulantes quase excedendo a tripulação máxima suportada pelo barco. Chegando a hora de partir Ewan contente hasteava pela primeira vez sua marca, sua bandeira, um tecido preto personalizado, uma caveira com o olho direito preenchido com a cor vermelha simbolizando a alcunha que ganhou. Seu nome já era conhecido, a partir de agora sua marca acompanhará seu nome pelo resto da história.

O barco partiu da cidade para continuar sua campanha pirata, após alguns dias de viagem, os tripulantes se amotinaram ao comando de Harry, o imediato, destituindo Ewan do posto de capitão, o irmão pirata assumiu o comando do Arranha Céus e ordenou que o antigo Capitão do olho vermelho fosse lançado ao mar em um bote com provisões para alguns dias. Ewan vislumbrou o mar fora de seu navio até as provisões acabarem e ele desmaiar ao bote, só acordando em Grand Turk, em um beco escuro.

Ewan levanta-se, olha ao redor e nem acredita estar vivo, o capitão lembra-se dessa cidade, já esteve aqui, mas não tem idéia de quando e por quê. Andando sem rumo ele encontra o porto e analisando os navios ali parados percebe que não conseguiria conduzir nenhum sozinho. “O melhor a se fazer é me juntar a tripulação de algum desses barcos.” Pensou Ewan que ia deixando o porto quando percebe um outro navio chegando por entre as névoas que pairam sobre o local. “Merda, eu não acredito.” Ewan estava atordoado, a embarcação a caminho era de um corsário inglês que vinha exterminando seus inimigos um a um, o Corsário Samuel, O capitão do olho vermelho reconheceu-o pela bandeira. Ewan começou a correr para o sentido oposto, sem pensar em um caminho, sem saber o que fazer, apenas pensando “Merda, merda, merda, o que ele está fazendo aqui? Ele... justo ele.”.

Ewan estava com ótima vantagem sobre o navio que ainda iria demorar um tempo para ancorar, correndo para escapar da cidade o capitão começou a pensar e a calcular o tempo que levaria para chegar a Tortuga se roubasse um bote do outro lado da cidade/ilha, aproveitando esse fio de esperança roubou uma carruagem que estava parada próxima e fez o máximo para chegar a outra ponta da ilha. No caminho encontrou uma festa acontecendo em um bar da cidade, a aparência do local era bem ruim, ótima para o pirata se infiltrar e conseguir alguma comida e bebida para continuar a viagem, parou a carruagem ali perto e foi conferir o local entrando com cautela mas, ao entrar já foi recebido por uma pessoa que o chamava de camarada, aproveitando a deixa se passou por amigo do bêbado que o colocou para dentro e no primeiro vacilo das pessoas roubou provisões para o resto da sua viagem, na saída encontrou com duas pessoas que o surpreendeu e quase o pegaram mas Ewan ainda teve alguma força para nocautear os seus repressores e fugir na carruagem roubada, já era de noite e o ex-capitão do Arranha-Céus decidiu por dormir em um canto mais escuro que o beco em que acordou. De manhã, bem cedo resolveu partir pois não tinha a mínima vontade de encontrar o corsário naquela cidade. Percebeu que pela cidade todos estavam se organizando, conversando e gritando, Ewan resolveu passar perto das pessoas para tentar ouvir suas conversas.

- Ele é o pirata do olho vermelho. – Disse um senhor e o capitão tratou de ir parando a carruagem para escutar a conversa.

- Quê? Aquele pirata que se escondeu aqui na nossa cidade enquanto um navio de guerra britânico estava-o caçando? Esse maldito fez minha casa explodir quando o navio atirou com o canhão na nossa cidade. – Desabafou o outro morador.

- Esse mesmo, temos que encontrá-lo, mas cuidado, o resto de seus capangas devem estar por aí, dêem o alerta para a cidade inteira.

Ewan já assustado tratou de se apressar com a carruagem, sua sorte já tratou de colocar a cidade inteira atrás dele. Correndo ao máximo com a carruagem o pirata avistou uma feira grande que se arrastava por dois quarteirões, observou que um homem bem arrumado estava no meio da praça falando alto, quando esse senhor o olhou fez uma cara de assustado, Ewan gosta de prestar atenção aos detalhes e percebendo esse seu efeito ao homem decidiu aproveitar-se disso. “Talvez eu já o ameacei alguma vez.” Pensou.

- Olá meu bom homem, belo dia não? – Disse Ewan se aproximando com a carruagem.

- Bom dia senhor, vejo que tens uma bela carruagem e belos cavalos. – Ficou a fixar os olhos no pirata desconfiando que o homem a deriva daquela noite fosse alguém com algum valor na cidade. Depois de um tempo quieto decidiu ignorar seus pressentimentos e fazer seu trabalho. – Estaria interessado nas mercadorias que vendemos? Viemos navegando no nosso navio mercante desde a Índia para trazer as melhores mercadorias para o novo mundo. – Começou o capitão do navio mercante, que agora reparava nas roupas sujas e mal tratadas de Ewan que percebe o erro de tentar se misturar na cidade com roupas de piratas.

- Meu caro capitão sou apenas um pobre ajudante, essa carruagem é de um senhor importante na cidade, estou apenas buscando sua esposa. Mas ao saber da sua posição queria te pedir um favor, minha intenção e real vocação é o mar, por favor, me torne um marujo da sua tripulação, trabalho muito e preciso de pouco. – Disse Ewan querendo uma carona para fugir da cidade e pensando no seu próximo destino: Tortuga.

- Desculpe caro marujo. – Disse o capitão, o pirata se assusta, pois é uma oferta inegável para um comerciante, mão de obra barata é um sonho para esse tipo de gente. – Nesses dias está cada vez mais difícil acreditar nas pessoas, como você me prova que não é um ladrão, assassino, ou pior, um pirata. Além do mais minha tripulação está completa.

Ewan começou a ficar nervoso, mais ainda, pois percebeu um grupo de moradores se aproximando da carruagem com grande velocidade, partiu o mais rápido que pôde, quando olhou para trás viu alguns pedaços de madeira com fogo vindo em sua direção. Acelerou ainda mais os cavalos chicoteando-os com força.

A carruagem some diante dos olhos dos furiosos moradores locais, o pirata do olho vermelho tem de seguir mais alguns metros apenas para chegar a outra margem da ilha e planejar algo para sua fuga. “O que aquele comerciante estava temendo? Essa espécie de homem não pensa duas vezes nesse tipo de oferta.”. Ewan sabia da ganância sem fim dos mercadores marítimos, conheceu muitos ao longo de sua curta vida como homem e longa vida como pirata,mas, esse caso específico, o Capitão mercante renegou o marujo por superstição, um homem do mar tão experiente como ele conhecia uma infinidade de histórias e tinha bom senso para acreditar somente nas verídicas, a história em questão diz que, se um homem com o destino de morrer no mar é salvo por um homem e o ex falecido morre no mar sob o comando do salvador, este e o resto da tripulação é condenado a morte pelo próprio mar. Crime qualificado como roubo pelo oceano, roubo de alma, e acarreta pena de morte. Precisa ser muito tolo para viver no mar e não perceber que a rainha e suas regras já não mais governam.

O pirata alcança a margem da ilha com a carruagem em péssimo estado, Ewan abandona o veículo levando as provisões furtadas consigo. Havia um porto muito bem movimentado, por onde decidiu não ir, o outro lado parecia uma opção melhor, caminhando por entre as construções e o mar percebeu um pequeno bote com dois remos amarrados a margem, sem pensar, se jogou da plataforma que estava e caiu dentro do bote, Ewan cortou a corda que segurava à pequena embarcação a plataforma. Começou a remar tranqüilamente se afastando devagar da cidade, quando viu os moradores chegando a margem da cidade com armas e pedaços de madeira, assustado começou a remar o mais forte que pôde para o norte com o propósito de se afastar o máximo possível, viu alguns tiros acertarem o mar bem ao seu lado, quando cansou de remar já estava em um boa distância, estava salvo, salvo dos moradores pois o mar é perigoso por si só e as pessoas que vivem no mar fazem desse mundo um lugar pior ainda para se viver. Ewan cansado percebe que algo vem se aproximando, quando se vira vê um enorme Galeão se aproximando, o pirata analisa a bandeira hasteada, uma caveira invertida, de “ponta-cabeça”, o bom senso mostra claramente uma situação ruim, mas para Ewan foi uma enorme felicidade encontrar um antigo inimigo.

O antigo capitão do Arranha céus emparelhou com a gigantesca embarcação, começou a subir por uma corda solta vinda do castelo de polpa, ao pular dentro do barco é surpreendido por um marujo atento.

- Quem diabos é você? O que diabos está fazendo aqui? O que diabos você quer? – perguntou enquanto se alterava, na tentativa de interrogar Ewan.

- Eu invoco o direito ao parlamento. – O olho vermelho abre um grande sorriso.

- Quem Diabos você pensa que é para querer falar com o Diabo do nosso capitão? Só piratas podem Diabos pensar em invocar o código, por isso chamamos de código dos Diabos dos Piratas.

O interrogante saca sua arma e mira na cabeça da vítima que por sua vez não se meche, o experiente pirata sabe que sua posição é de extrema desvantagem, mas sua reputação cria um jeito de lhe salvar.

- Tem certeza que vai apontar sua arma para um Capitão pirata que invocou o parlamento? – Disse um homem que assistia a interrogação, sua estatura alta lhe impunha respeito entre os marujos e sua posição na hierarquia da tripulação fazia-o exercer esse respeito, além disso, ardia em sua face uma grande cicatriz, o que fazia a corriola o temer em primeiro plano. O sorriso de Ewan só aumentou.

- Mas como? O grande Thomas está a navegar com o Caveira Invertida? – Disse o encrencado pirata tentando obter informações.

- Para que ele navegue, necessita-se um navegador, estou certo? – respondeu rispidamente o navegador e imediato do bando.

- Faz sentido.

- Siga-me, o capitão está lá dentro.

Andando no barco, os marujos estavam curiosos, se haveria confronto ou acordo, estava acontecendo uma tremenda correria para tentar ouvir a conversa que iria começar na cabine do capitão. Chegando ao aposento Ewan já não estava tão contente e também não havia mais nenhum sorriso estampado em seu rosto, pelo contrário, sua expressão era de desconcerto e medo. A imponente figura que estava dentro da cabine olha invasor de seu barco e percebe um homem inquieto que está fixando seu olhar no chão, não se parece nada com o famoso Ewan de quem vem ouvindo histórias desde o começo deste ano, histórias novas, o que chamam até de ‘segundo ato do agora capitão Ewan’.

- Precisando de algum favor capitão? – Disse finalmente Eduardo, o caveira invertida.

- Bom, na verdade... – começou Ewan que levanta a cabeça, começa andar de um lado para o outro gesticulando. – Vim ao seu encontro, pois estou querendo lhe propor uma troca.

- Meu caro, pelo visto eu que acidentalmente fui ao seu encontro, você está aqui sozinho, sujo, o que acha que tem para me oferecer?

- Informação, caro capitão, valiosa informação. Vê essa cidade logo à frente? O que acha dela? Tem alguma intenção para com este rico e próspero lugar?

- Se você não percebeu ao entrar, estamos preparando homens e armas justamente para saquear essa cidade, um plano arrojado, ousado e m... – Eduardo é cortado por Ewan.

- Mal planejado... – O invasor do galeão consegue a atenção que queria. – Claro que não se pode prever que o corsário Samuel está nas proximidades, mas... – Os marujos começam a debater entre si entregando suas posições de escuta nas janelas, o capitão do navio só olhou para Ewan como se perguntasse “E qual seu ponto?”. - Corsário Samuel, grande amigo meu, por sinal, está em Grand Turk comprando vestidos para si e seus homens, não sei se o capitão sabe que Samuel é o antigo...

- Eu sei de quem se trata, sei o que vem fazendo e sei que não queremos essa briga agora, não agora. Ótima informação. – Eduardo vira-se de costa para Ewan. – Prendam-no.

- Ei Capitão, eu preciso chegar a Tortuga, ainda temos um acordo? – Dois homens que ouviam pela janela entraram no aposento e seguraram o prisioneiro um em cada braço.

- Não conte mentiras, Olho vermelho, eu vejo em seus olhos, você não só precisa chegar a Tortuga, sua vida e sua história dependem disso. – Eduardo se volta para Ewan. – Você ficará encarregado de limpar as barras de ferro das celas, gosto de manter meus prisioneiros bem acomodados. – O caveira invertida solta uma longa e irritante risada enquanto o pirata encrencado está sendo levado.

- Capitão, Você é mau até os ossos. – Ewan abre um enorme sorriso antes de sair da sala arrastado por dois marujos e seguido por mais três deles.

Desal Mado
Enviado por Desal Mado em 09/02/2013
Código do texto: T4131589
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.