Amor de gato II
Na cidade de Morros Uivantes um despertador tocou mais cedo do que de costume lembrando a Allan que ele deveria chegar um pouco mais cedo na faculdade se quisesse que aquela garota, Letícia, olhasse para ele. O rapaz não a achava a mulher mais bela que já havia visto, mas tinha algo naquela nerd que ele queria.
- Vamos Allan, reaja homem, lembre-se dos acampamentos.
O rapaz levantou cambaleante e foi para o banheiro. Debaixo do chuveiro pensava na "maldição das louças", como assim apelidou a montanha de pratos, talheres e copos em cima da pia. Como as poucas louças de dois estudantes de faculdade puderam criar um volume tão assustador em cima da pia? Saiu do banho tentando parar de pensar nas louças e se alinhou de forma melhor do que de costume.
- Força rapaz! - disse se olhando no espelho - Ela tem que gostar. - Pegou a mochila na cama e desceu as escadas torcendo para a louça ter desaparecido magicamente, passou pela sala que estava mais bagunçada do que ele se lembrava e viu a pilha de louças de relance, só a silhueta lhe assustava então ele saiu correndo para fora de casa.
No caminho da faculdade lembrou do sonho que tivera naquela noite, o que era estranho já que ele quase não sonhava e ja havia passada um tempo desde que acordara. No sonho ele via a silhueta do corpo de uma garota debaixo dos lençóis dele. ele sentado na escrivaninha enquanto ela lia um livro produzindo sons com a garganta. Quando estava quase chegando o vento aumentou e Allan pode sentir alguns pingos avisando que iria chover. apertou o passo para não se molhar.
Entrou no refeitório da faculdade e enfrentou sua segunda maldição do dia. Larissa, Letícia, ou qualquer que fosse o nome da garota não havia ido para a aula. Ele pensou indignado: Que tipo de nerd falta aula assim? Anda mais quando se precisa dela e daquele quadril!
Sentou em uma das mesas do refeitório passando os olhos nas pessoas estranhas da faculdade até que encontrou uma luz, Vitória! Como o nome lhe dizia ela trazia consigo mais uma oportunidade de alegrar seu dia. A garota olhou para Allan e ele sorriu simpáticamente, quando ela retribuiu com um risinho ele pode ver uma bela de uma chance para mostrar sua simpatia. Por sorte Thomas, seu colega de "quarto", entrava com a mesma cara de poucos amigos de sempre.
- Bom dia, Thomas! Está uma manha ótima hoje, não concorda? - Disse erradiando alegria com sua mais nova Vitória, por assim dizer
- Ah, eu não acho que essa chuva gelada, esse vento cortante e a escassez de oxigênio estejam na minha descrição de "manhã ótima" cara...- Thomas tinha um mal humor que se podia tocar, mas Allan insistiu.
- Cara, você está muito mal humorado. Você precisa de uma dose de ânimo nessa sua veia seca, meu amigo - Allan puxou Thomas em direção a cantina sorrindo para Vitória. Pagou a Thomas um cappuchino com hortelã e um pão de batata e aproveitou a distração do amigo para segurar a mão da moça. Ela saiu rindo baixo para perto de suas amigas. - Come, mano. Porque, pelo que eu te conheço, você não deve ter tido saco para lavar um copo hoje de manhã para tomar café em casa.
- E eu acho que você também não. Agente tem que lavar aquela bagaça hoje Allan. Não dá pra ficar acumulando sujeira em casa. qual foi a última vez que agente tirou o pó dos móveis?
- Quando minha mãe foi nos visitar. - Allan disse se lembrando do quão parecido sua mãe e Thomas falavam as vezes.
- Isso foi mês passado!
- A gente faz uma divisão sobre as tarefas domésticas hoje mais tarde quando voltarmos do trabalho, prometo. - Ele ergueu a mão em sinal de juramento. Olhou para Vitória e ela estava entrando na sala. - Deixa eu ir. Não quero perder minha aula de Desenhos arquitetônicos. Até mais tarde, amigo. - Deixou Thomas e correu para a sala.
Sentou na frente de sua presa e virou-se para trás com um sorriso malicioso nos lábios.
- Vitória! Alguém já te disse que nesse maravilhoso dia chuvoso você tomou facilmente o lugar do sol? - Ele tocou de leve a ponta dos cabelos loiros e cacheados da moça. - Raios de luz para aquecer meu dia.
- Allan, você é engraçado. - Ela sorriu olhando o rapaz que olhara a muito tempo mas que nunca lhe dera atenção - Eu só queria saber porque decidiu falar comigo apenas hoje.
- Ah, querida! A timidez é algo que atrapalha muito os homens da atualidade, sabe?
- Não acho que você se enquadra nessa categoria, Allan. - A professora, Olga entrou na sala com seu material nos braços. Ela era uma senhora de respeito que Allan admirava muito então ele se virou para frente e preferiu prestar atenção.
A aula de Olga sempre pareceu durar minutos para Allan e rapidamente aquele momento correu. Uma a uma as outras aulas deslizaram pelo tempo de forma bem mais sofrida e preguiçosa. O rapaz teve assim a chance de se aproximar mais da sua meta de relacionamento. Ele almoçou na cantina e foi ao escritório de sua professora preferida estagiar. Olga além de professora, era uma arquiteta renomada. Tinha muito trabalho para ele e, novamente, o tempo pareceu voar em meio a traços, colocaçoes de detalhes e maquetes.
- Você é sempre muito animado, rapaz. Não sei como aguenta trabalhar para mim com tanto empenho. - Ela trouxera um chá para Allan e parou observando a garoa. - Choveu o dia todo e parece que agora está piorando. - Olga apoiou um guarda-chuva na mesa de seu aluno sem olha-lo - Me devolva amanha. Termine isso e vá para casa, estou vendo traços tortos aí. - Ela saiu pela porta em seu ar sério e Allan sorriu para si pensando o quão boa pessoa ela era, mesmo com aquele ar ruim.
Allan mediu novamente o desenho e realmente, estava um milimetro torto. Encostou a cabeça na mesa, ela era ótima. Terminou o trabalho e arrumou tudo. Cumprimentou Edmundo, o guarda noturno, e abriu o guarda-chuva saindo para a rua. Viu que o cabo do guarda-chuva tinha desenhado um gato preto, apenas o contorno. Um gato, Allan sempre quis um gato depois que foi para Morros Uivantes. Balançou a cabeça tirando esses pensamentos, Thomas não gostava de animais, algo assim nunca aconteceria.
Entrou em casa e deu alguns pulinhos em cima do tapete para não molhar tudo por aí. tirou os sapatos e subiupara o quarto.
- Tenho que lavar pelo menos um pouco disso antes que o Thomas chegue - Allan quase deslizava escada abaixo preguiçosamente e assim que chegou ao primeiro andar sentou no sofá se sentindo acabado. Ouviu um barulho na porta e então teve uma grande surpresa.