Sonho

Era raro ir àquele parque, apesar das minhas boas lembranças que ainda permaneciam ali. Porém, hoje era o lugar ideal, mesmo o dia não sendo um dos melhores; estava nublado. A lua mantinha-se tímida por trás das nuvens cinza e a chuva logo viria, mas isso não me importava.

Sentei em um dos bancos, dos que antes eram verdes, mas que agora estavam alaranjados devido à ferrugem e ao tempo. Cobri-me com o capuz de meu moletom e coloquei os fones de ouvido, embora nenhuma daquelas músicas me animasse.

A garoa fina iniciara. Comecei então, a observar as mães que chamavam a atenção de seus filhos para que voltassem e assim pudessem ir para casa. Uma voz triste soava na voz daquelas crianças, pois sua diversão havia acabado naquela tarde. Rapidamente, aprontaram-se para que desse tempo de chegarem a suas casas.

A garoa logo se transformou em fortes gotas d’água e eu permaneci ali. Apenas o capuz me protegia, mas logo, este não seria mais suficiente. Estava ocupada demais para me preocupar com a chuva. Coloquei as mãos no bolso do moletom de modo que pudesse esconder meu celular e encostei minha cabeça no banco. Embora soubesse que seria difícil não acordar com qualquer ruído que fosse, insisti na ideia de ficar ali, acomodada.

Após um tempo, comecei a ouvir uma voz muito distante, mas ainda assim a ouvia. Tirei os fones de ouvido suavemente e tentei apurar os ouvidos para apreciá-la melhor; era grave e muito agradável. Estava certa de que se tratava de um homem. Reconheci que a música que cantava era a minha favorita: “Just the way you are”, do Bruno Mars. Abri um sorriso tímido. Pensei que se eu abrisse os olhos, talvez ele parasse de cantar e eu não queria isso, por mais curiosa que estivesse. O som de sua voz diminuía ao se aproximar e, somente agora, pude ouvir seus passos que eram suaves. Não tive medo, pois queria acreditar que era real.

A música chegou ao fim e dei um suspiro. Não queria que terminasse e eu não senti mais a chuva. Senti um toque delicado em meus curtos fios de cabelo que estavam em meu rosto e que, de certa forma, me incomodavam.

Finalmente abri os olhos. Queria saber quem seria o dono da voz tão agradável, mas não havia ninguém. Ninguém além de mim mesma, sozinha, no parque. A chuva nunca havia parado. Então, tirei a única conclusão lógica para o momento: Tudo havia passado de um sonho, um lindo sonho.

Estranhei a presença de uma rosa vermelha ao meu lado, sob o banco. Eu teria percebido se ela tivesse lá no momento em que cheguei. Junto a ela, havia um pequeno envelope. Olhei para os lados procurando por alguém que talvez pudesse tê-los deixados há pouco tempo. Confesso ter ficado um pouco assustada neste momento. Abri-o e com letras bem caprichosas, dizia: “Tudo não passou de um sonho”.

Ao ler isso, abri um sorriso e trouxe a rosa para perto do meu nariz para e senti seu perfume. Não consegui entender o sentido daquilo, mas fiquei feliz por isso. Nunca poderia contar a ninguém sobre o que aconteceu naquele fim de tarde, pois ninguém acreditaria. Eu mesma não acreditava.

Levantei-me do banco para, finalmente voltar para casa e deixei a rosa e o cartão no mesmo lugar onde os encontrei. Ainda com o capuz e os fones de ouvido, iniciei minha caminhada. Então ouvi cantarem novamente e tratava-se de uma outra música conhecida: “Night changes”, da banda One Direction. Parei e quis me virar, porém não o fiz. Apenas sorri como da outra vez e prossegui.