O Anjo e o Diabo

Como todos os anjos novos, ele tinha aquela aura de inocência e pureza que pairava sobre ele – olhos brilhantes, sorriso pacificador e todo aquele clichê. Mas acredito que seja destino de grande maioria, cair, não é?

Em uma de suas rondas, encontrou um diabo. Por mais que fossem opostos, compartilhavam um defeito: repressão. Um pela maldade, outro pela bondade. Ora, quem sabe os dois não aprendessem a se equilibrar? Vale a tentativa.

E assim foram: se conhecendo, trocando ideias e experiências do paraíso e inferno; viram que não são coisas assim tão opostas, sabe? Todos os extremos são meio parecidos, no fim das contas. Foram se influenciando cada vez mais, tornando-se cada vez mais próximos, até houve ensaio de algum romance, mas nada que durasse; sua ligação era mais forte do que essa – como poderia um demônio ser irmão de um ser divino? Alguma coisa estava errada.

Depois de muita convivência, os dois pareciam ser seres da mesma raça, o que despertava a fúria de suas famílias, que sempre os alertava que essa amizade era mais que incorreta. Mas quem liga? Incorreta ou não, os dois adoravam conhecer coisas novas e descobriram um espaço de convívio mútuo, onde poderiam andar juntos sem olhares tortos que recebiam nos portões do paraíso ou nas celas infernais: a Terra. Logo, seus encontros se tornaram cada vez mais frequentes e seus DNAs se confundindo e os tornando aberrações.

A confusão chegou ao ponto em que o corpo do anjo não suportou: suas asas quebraram, tornando-se inúteis. Sentiu-se descaracterizado, sem identidade! E quem culpar a não ser o maldito diabo? Ele que mostrou outro mundo, o trouxe a essa terra suja que sugou sua aura divina! E só ele ia sofrer as consequências? Não mesmo. Perseguiu o diabo até conseguir quebrar seu chifre direito – pronto! Agora eram iguais, descaracterizados e seriam rejeitados por seu próprio povo. Mas o anjo não esperava a resposta do outro.

Sentindo a traição de confiança, o demônio amaldiçoou-o e virou suas costas para sempre. Não era ele que tinha trazido o anjo à perdição, muito menos o persuadido a isso – o anjo quis tanto quanto ele. Talvez seus povos estivessem certos: essa amizade não é certa nem possível.

Abandonou a terra facilmente, voltando a seu país de fogo. Mas, e o anjo? Bem, não sei o que aconteceu com ele. Será que um anjo de asa quebrada poderá voar?

DG
Enviado por DG em 05/02/2013
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