A INQUILINA DO MEU CORPO

Gostava de rodear a minha orelha e aqui, acolá, dar a graça da sua presença. Tinha a mania de ficar se insinuando baixinho como se quisesse impedir que eu dormisse. Fazia isso em casa, mais precisamente no quarto e na hora mais precisa da noite.

Era insaciável e eu nunca conseguia deixa-la satisfeita. Nunca vi igual. Conseguia sugar tudo e ainda continuava insistindo. Mudava de estratégia e de posição o tempo todo só para ter cada vez mais prazer.

Acender a luz, para ela, era mesmo que nada. No entanto, com a luz apagada lá pela madrugada, inspirava-a e incentivava-a a vir cada vez com mais apetite. Deixava marcas da sua passagem no lençol e eu ficava chateado com aquilo.

A única coisa que lhe inibia, um pouco, era ligar o ventilador. Apesar disso, continuava com sua dança interminável que parecia acompanhar o giro da hélice daquele aparelho. Resistia até ao mais perfeito sinal de rechaço.

Quando eu já não aguentava mais e tentava agarra-la, fugia de um lado para o outro como se estivéssemos em um joguinho sensual. Eu cochilava e lá vinha ela de novo para interromper meu sono, tocando-me às partes mais íntimas. Não tinha pudor mesmo.

Depois do amanhecer eu ficava morrendo de sono enquanto ela dormia por tudo quanto era lugar. Era uma competição desleal. Ela estava preparada para aquilo e eu não. A violência não era meu forte, mas eu estava para perder a paciência.

Um dia, já sem forças e desesperado resolvi tomar uma decisão. Não deixaria que saísse mais vencedora das nossas batalhas noturnas. Passei a frequentar uma academia de ginástica à noite para me preparar fisicamente e, assim, enfrenta-la de igual para igual nas refregas noturnas.

Triste ilusão. Eu chegava por volta das 22:00 horas e ela não esperava nem que eu tomasse banho. Vinha logo para o ataque. Eu corria para o chuveiro e ela ficava do lado de fora só esperando. Terminado o banho, enquanto eu enxugava-me, começava a percorrer meu pescoço, demorando-se mais na minha nuca, como se isso lhe trouxesse um prazer especial.

Observando sua rotina comecei a idealizar um plano para fazê-la diminuir o ímpeto. Comecei a, todas as vezes que saía do banho, atirar a toalha na sua direção. Parecia gostar da brincadeira, mas, na verdade, não sabia da minha intenção.

Um dia destes consegui acertá-la. Pensei até que tivesse sido em cheio, mas quando penso que não, volta a brincar de gato e rato comigo. Dessa vez não fiquei abatido, nem irritado. Pelo contrário, senti-me estimulado. Continuaria com meu plano.

A atitude de jogar a toalha na sua direção ficou cada vez mais frequente. Com bastante treinamento eu via que estava chegando cada vez mais perto do momento de atingir meu objetivo. Afinal, eu tinha que vencer a nossa competição de qualquer jeito e no menor espaço de tempo possível.

Quando já entrava para o décimo dia de embate, apanhei-a desprevenida e taquei a toalha por cima da aba da cabeça, lugar preferido para me assediar. Rodopiou e caiu aos meus pés. Finalmente eu consegui superá-la e a partir daquela hora deixou de ser a inquilina do meu corpo.