A Boneca do Bosque

Ela estava sozinha, não sabia para onde ir, queria voltar, ficar com seus pais, mas não podia, era tarde demais. Sua decisão já havia sido tomada, naquela noite disse que iria embora, que não voltaria, disse tchau e deixou a porta bater atrás de suas costas. Não deu nem tempo de pedirem para que ela ficasse, já não aguentara as mentiras que eles contavam, já não sabia se eles eram realmente seus pais.

Estava só, nada a acompanhava pela rua, alem das luzes e sua pequena mochila, nem mesmo seu pensamento estava junto a ela. Andava sem rumo, sem destino. Não sabia se ficaria para sempre fora, se voltaria para casa em uma hora ou um dia. Cruzou a rua principal da pequena cidade em que vivia, estava na rodovia principal, que era cercada por grandes montanhas e chapadas com lindas visões, chegou a extremidade em um ponto da estrada, calculou qual seria o impacto se pulasse, preparou-se, respirou fundo, hesitou por alguns segundos. Juntou coragem, olhou para baixo e desabou em lágrimas desesperadas, já não aguentava o fardo que a vida lhe impunha, o estresse da rotina, as brigas e ainda mais: não aguentava mais as mentiras que sustentavam aquela casa e que foi desmascarada na noite passada, ouvira ele dizer que não aguentava mais mentir para ela, que ela precisaria saber a verdade sobre sua vida, mesmo que isto trouxesse sequelas a ela.

Fechou os olhos, pensou em si, a única coisa que ainda fazia sentido em sua vida, cruzou os braços e saltou rumo ao desconhecido. Em queda livre sentiu o ar a abraçando e despenteando seus cabelos loiros, não sentia mais nada a segurando naquela vida, não sentia suas roupas nem seus medos. Apagou antes que sentisse o impacto. Então acordou em um súbito suspiro, sentou-se em sua cama, respirou aliviada: era somente um sonho? Andou até a cozinha que estava vazia, os móveis haviam sumido, saiu pela porta da cozinha, que dava acesso a rua: ninguém, subiu a rua em direção a rua principal: nada; invadiu uma casa e não havia nada exceto as paredes cruas e as portas secas.

Novamente sozinha, sem rumo e agora sem poder voltar pois não tinha para onde voltar, todos haviam sumido. De repente uma ritmada musica começou a tocar, baixinho, como se a chamasse, “ Sim, jazz”, caminhou em direção a musica, deixando todos seus sentidos de lado, exceto a audição de lado, seguiu o som, cruzou as esquinas vazias, as casas desertas, sem vida até chegar a uma pequena casinha amarela com telhado laranja. Hesitou,como sempre hesitara para fazer todas as coisas de sua vida. Até que decidiu entrar, bateu na porta, chamou por alguém e mesmo sem resposta entrou na casa, girou a maçaneta, abriu a porta e entrou.

Dentro da casa viu uma pequena mesinha com um luxuoso toca discos, quando entrou ele parou, ela então o examinou, olhou para os lados, chamou por alguém, sem resposta decidiu explorar aquele pequena casinha. Havia duas portas, olhou para elas, seguiu seus instintos e abriu a da direita, para sua surpresa atrás da porta não existia nada além de uma parede fria de tijolos. Sem escolha foi para a porta da esquerda, hesitou e então entrou.

A porta dava acesso a um grande corredor, com vários quartos. Quando entrou a porta se fechou por trás de suas costas, ela tentou abri-la mas não conseguiu. Decidiu então seguir. Deveriam existir centenas, ou então milhares de quartos naquele lugar. A musica voltou, mas agora era impossível saber de que quarto viera. Uma luz se acende dentro de um quarto, ela corre, finalmente alguém que poderia conversar, correu pelo corredor, entrou no quarto e então viu uma pequena silhueta em frente a um espelho, imóvel. “Olá?”, disse enquanto se aproximava, “olá?”, conforme chegava perto percebia que era muito pequena para ser alguém. Quando olhara aquele quarto pela primeira vez não tinha percebido o quão grande era aquele quarto, chegou mais perto e percebeu que não era ninguém, era uma boneca. A menina olhou para os lados, não havia ninguém mesmos e a companhia de uma boneca seria melhor do que não ter companhia. A colocou em seus braços e caminhou para fora do quarto.

Mais para frente no mesmo corredor uma luz se abriu, ela correu, queria saber que estava abrindo aquelas portas, contudo desta vez quando chegou perto da porta esta se fechou, tentou abri-la de todas as formas, estava emperrada, ou alguém a segurava do outro lado. Até que então a porta se abriu e num subido ela caiu para dentro deste quarto, que agora estava escuro. A porta se fechou. Ela, caída, encontrou sua companheira, levantou por uma das mãos e tentou procurar a porta, porém ela já não estava lá, invés dela havia uma corda, como as de um abajur, receosa, puxou-a. A luz acendeu-se e para sua surpresa não estava num quarto e nem havia portas: estava num jardim, cercado por montanhas e com aquela musica chamando-a para algum lugar atrás das arvores que ficavam a direita.

Marcelo Marques Júnior
Enviado por Marcelo Marques Júnior em 26/01/2013
Reeditado em 26/01/2013
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