A CANETA
Nasci na Itália, numa fábrica de canetas. De lá vim de navio para o Brasil e fui colocada numa vitrine de loja de shopping. As pessoas paravam para me ver, até me desejavam, mas não me compravam.
Algumas pessoas nem perguntavam meu preço, pois deduziam que eu era deveria ser muito cara, dada a minha aparência. Outros já arriscavam a perguntar, mas ficavam desiludidos, pois eu sou importada, e de marca.
Não via a hora de ser comprada e minha tinta estar presente em documentos importantes, cheques de valor alto, contratos, em dedicatórias de livros, em cartas e declarações de amor. Ai sim eu me eternizaria como caneta.
Um dia um homem, aparentando uns 40 anos, me viu, gostou, entrou na loja, perguntou o preço e sem regatear acabou por me levar. Nem era para presente, era para seu próprio uso. Estranhei, pois eu normalmente, era presenteada.
Saiu da loja comigo numa bela embalagem, e chegando no carro retirou-me da caixinha, me olhou com admiração e colocou-me no bolso. Chegando em seu escritório percebi que era uma pessoa importante, algum empresário bem sucedido.
Pensei, -Finalmente me perpetuarei em documentos importantes !
Em pouco tempo lá estava eu presente em contratos, cartas comerciais, cheques e outros documentos.
O tempo foi passando e nunca fui utilizada para algo mais romántico, mais sensível, apenas e tão somente para negócios.
Fui ficando cada vez mais insensível e mais materialista.
Um dia esse empresário me esqueceu no balcão de atendimento de um Banco.
Fiquei lá por uns 10 minutos, até que se aproximou de mim um outro homem, que olhou para um lado, olhou para o outro, notou que não havia ninguém próximo, me pegou na mão e foi embora. Chegando próximo à porta resolveu voltar ao balcão. Pegou um papel e escreveu em letras enormes:
- Achei sua caneta, não deixei no balcão pois alguém poderia pega-la e não devolve-la, mas está comigo, meu nome é João, meu telefone é xxx-xxxx.
Depois deixou o papel no lugar da caneta, preso com uma pedaço de fita adesiva. Foi até o balcão de informações e falou para a moça que se alguém pedisse informação sobre uma caneta estaria com ele, e foi embora.
Achei muito honesto da parte dele essa preocupação..
Meu antigo dono deu por falta da caneta, mas nem imaginava onde poderia ter me esquecido. Como tinha posses compraria outra igual provavelmente.
Meu novo dono dificilmente teria uma caneta como eu.
A segunda coisa que meu novo dono fez comigo foi assinar um recibo, ai vi o nome dele completo João Honorato Barbarov, apesar do nome bonito ele levava uma vida simples.
Gostou muito de mim, provavelmente ele pensava:
- Se o dono não aparecer vou ficar com essa caneta como que guardando para ele. E manteve-me em seu bolso. Em todo lugar que ia me levava. Comigo no bolso notei que ele sentia-se importante.
Chegou a escrever comigo até em porta de banheiro. Era totalmente diferente de me dono original; rico, elegante, sério, astuto. O João era simples, rude, bondoso, alegre, feliz.
Comigo o João fez muitas declarações de amor para sua amada. Passei por poucas e boas com ele.
Escrevemos centenas de cartas. Algumas tristes outras alegres.
Escrevemos muitos recados, anotamos muitos telefones.
De tanto o João me usar acabou esgotando minha tinta. Como ele gostava muito de mim foi numa papelaria para comprar uma carga nova, mas para sua surpresa a carga era tão cara que ele já ia desistindo quando a moça disse que havia uma carga mais barata, e que poderia eventualmente servir. Testaram, deu certo, e ele pagou e fomos embora.
João já estava com muita idade quando resolveu me usar para algo muito triste. Apesar de pobre ele tinha dois casebres, e como andava meio sem saúde fez um testamento onde deixava os bens para os filhos. Inclusive no testamento fez questão de mencionar-me, deixando-me para um neto que ainda estaria por nascer.
Uma noite, sentado numa cadeira de balanço, contemplando as estrelas do céu. João estava comigo no bolso. Eu sentia o coração dele bater, devido a proximidade. Repentinamente começou a bater muito, muito depressa, em seguida silenciou. Tombou para o lado e ali ficou.
Assim, cumprindo seu pedido, fui guardada a sete chaves, aguardando o nascimento daquele que viria a ser meu novo proprietário, e com ele continuaria a assinar, anotar, enfim escrever sobre nossas vidas.
Nasci na Itália, numa fábrica de canetas. De lá vim de navio para o Brasil e fui colocada numa vitrine de loja de shopping. As pessoas paravam para me ver, até me desejavam, mas não me compravam.
Algumas pessoas nem perguntavam meu preço, pois deduziam que eu era deveria ser muito cara, dada a minha aparência. Outros já arriscavam a perguntar, mas ficavam desiludidos, pois eu sou importada, e de marca.
Não via a hora de ser comprada e minha tinta estar presente em documentos importantes, cheques de valor alto, contratos, em dedicatórias de livros, em cartas e declarações de amor. Ai sim eu me eternizaria como caneta.
Um dia um homem, aparentando uns 40 anos, me viu, gostou, entrou na loja, perguntou o preço e sem regatear acabou por me levar. Nem era para presente, era para seu próprio uso. Estranhei, pois eu normalmente, era presenteada.
Saiu da loja comigo numa bela embalagem, e chegando no carro retirou-me da caixinha, me olhou com admiração e colocou-me no bolso. Chegando em seu escritório percebi que era uma pessoa importante, algum empresário bem sucedido.
Pensei, -Finalmente me perpetuarei em documentos importantes !
Em pouco tempo lá estava eu presente em contratos, cartas comerciais, cheques e outros documentos.
O tempo foi passando e nunca fui utilizada para algo mais romántico, mais sensível, apenas e tão somente para negócios.
Fui ficando cada vez mais insensível e mais materialista.
Um dia esse empresário me esqueceu no balcão de atendimento de um Banco.
Fiquei lá por uns 10 minutos, até que se aproximou de mim um outro homem, que olhou para um lado, olhou para o outro, notou que não havia ninguém próximo, me pegou na mão e foi embora. Chegando próximo à porta resolveu voltar ao balcão. Pegou um papel e escreveu em letras enormes:
- Achei sua caneta, não deixei no balcão pois alguém poderia pega-la e não devolve-la, mas está comigo, meu nome é João, meu telefone é xxx-xxxx.
Depois deixou o papel no lugar da caneta, preso com uma pedaço de fita adesiva. Foi até o balcão de informações e falou para a moça que se alguém pedisse informação sobre uma caneta estaria com ele, e foi embora.
Achei muito honesto da parte dele essa preocupação..
Meu antigo dono deu por falta da caneta, mas nem imaginava onde poderia ter me esquecido. Como tinha posses compraria outra igual provavelmente.
Meu novo dono dificilmente teria uma caneta como eu.
A segunda coisa que meu novo dono fez comigo foi assinar um recibo, ai vi o nome dele completo João Honorato Barbarov, apesar do nome bonito ele levava uma vida simples.
Gostou muito de mim, provavelmente ele pensava:
- Se o dono não aparecer vou ficar com essa caneta como que guardando para ele. E manteve-me em seu bolso. Em todo lugar que ia me levava. Comigo no bolso notei que ele sentia-se importante.
Chegou a escrever comigo até em porta de banheiro. Era totalmente diferente de me dono original; rico, elegante, sério, astuto. O João era simples, rude, bondoso, alegre, feliz.
Comigo o João fez muitas declarações de amor para sua amada. Passei por poucas e boas com ele.
Escrevemos centenas de cartas. Algumas tristes outras alegres.
Escrevemos muitos recados, anotamos muitos telefones.
De tanto o João me usar acabou esgotando minha tinta. Como ele gostava muito de mim foi numa papelaria para comprar uma carga nova, mas para sua surpresa a carga era tão cara que ele já ia desistindo quando a moça disse que havia uma carga mais barata, e que poderia eventualmente servir. Testaram, deu certo, e ele pagou e fomos embora.
João já estava com muita idade quando resolveu me usar para algo muito triste. Apesar de pobre ele tinha dois casebres, e como andava meio sem saúde fez um testamento onde deixava os bens para os filhos. Inclusive no testamento fez questão de mencionar-me, deixando-me para um neto que ainda estaria por nascer.
Uma noite, sentado numa cadeira de balanço, contemplando as estrelas do céu. João estava comigo no bolso. Eu sentia o coração dele bater, devido a proximidade. Repentinamente começou a bater muito, muito depressa, em seguida silenciou. Tombou para o lado e ali ficou.
Assim, cumprindo seu pedido, fui guardada a sete chaves, aguardando o nascimento daquele que viria a ser meu novo proprietário, e com ele continuaria a assinar, anotar, enfim escrever sobre nossas vidas.