Histórias de Brasília 
As piores doenças acontecem aos dirigentes das nações. Elas tendem a contaminar, com efeito multiplicador, repassando para seus subordinados diretos, para o terceiro e quarto escalões, e finalmente toda a população fica contaminada. O pior, é que, essa classe costuma ter a doença de forma imperceptível, aquela em que eles próprios não se tocam que estão doentes, e como ficam encastelados nos seus palácios, não há ninguém para lhes dizer que estão doentes...
 
Ousar dizer a um dirigente que ele está sofrendo de algum distúrbio, é mais perigoso que pegar um touro à unha. Palavra por palavra, a do dirigente tem muito mais valor, e aquele que rompendo as barreiras naturais que protegem os dirigentes, tentam lhes mostrar o mal que os afligem, com certeza vai sofrer drástica represália, saindo do palácio, em alguns casos, encarcerado e em outros, internado em clínica psiquiátrica, na unidade de tratamento intensivo.
 
Conta-se que houve um caso, em que o dirigente começou a apresentar sinais significativos de alterações no comportamento, isolava-se nas dependências do palácio, desaparecia no meio daquela imensidão de salas, trancava-se atrás das portas, admirava-se demoradamente em frente ao mundo de espelhos que encontrava, quando repetia gestos de quem estava discursando para multidões imaginárias.
 
Em outras ocasiões, descia a rampa do palácio de madrugada, e sem cumprimentar a nenhum dos guardas que estavam no seu caminho, ia diretamente para o grande lago, onde ficava até o sol se levantar e iniciar o movimento do dia. Em frente ao lago, cismado em seus pensamentos, e admirando-se no espelho d'água, ficava durante horas...
Aquele ritual diário, notado pelos que o cercavam, foi sendo comentado pelos ministros, assessores e áulicos.
 
Não muito tempo se passou, e soube-se que o Ministro das Relações Exteriores também tinha aderido ao estranho ritual, os comentários intensificaram-se, e logo, já participavam do ritual os três ministros militares que, juntos, marchavam em ordem unida em frente ao ministério, antes de pararem para se mirar no lago.
O Ministro dos Esportes, por sua vez, antes de se admirar em frente ao espelho d'água do lago, realizava uma corrida triunfal em volta do grande circuito, levando nas mãos a tocha olímpica.
 
Nos corredores do palácio, assessores ministeriais começaram a ser vistos dando entrevistas para imaginários repórteres de televisão... Empostavam-se, ajeitavam suas gravatas e danavam a falar, sem parar. Estava implantada a síndrome da doença multiplicativa...
 
De repente, na terra de Cabral, todos começaram a repetir o ritual, as pessoas se matriculavam em massa nas academias, mas ficavam muito mais tempo se admirando em frente aos espelhos do que mesmo fazendo ginástica. Algumas academias, rendendo-se ao modismo vigente, implantaram laguinhos, onde os ginastas faziam filas para se admirar.
 
A síndrome do presidente alastrou-se entre mulheres e afeminados, que postavam-se em frente ao palácio para ver seu ídolo em pleno ritual. Até que o presidente, encantado por uma de suas muitas fãs, teve um caso com ela. Aquilo se transformou em um escândalo e foi então, que a ex mulher do presidente, em entrevista à televisão, contou toda a história dos bastidores, com um laudo médico nas mãos, mostrando que o presidente era paranoico...
 
Há pouco tempo atrás o caso  se repetiu e descobriu-se que o presidente, além de alcoólatra, era cleptomaníaco...