Se há uma estrada amarga...
Era uma vez uma estrada amarga, por onde passavam os vencidos; todos que por ela transitavam olhavam para frente, nunca se soube se alguém que por ali passara já sorrira alguma vez, e se alguém o fez, ninguém viu.
Era uma vez um fazendeiro, cuja fazenda acompanhava, pelos dois lados a estrada amarga, e ele plantou em todas as áreas que ladeavam a estrada um alto capim, de folhas ásperas, com fio cortante e talo grosso, dividido em gomos.
Crianças apanham o capim e mordem a haste que prende o vegetal ao csolo, insípido, inexpressivo, mas atrai a todas as crianças. O menino soltando-se da mão da mãe, deixou a estrada e apanhou um daqueles capins altos e em gomos e o fazendeiro, que à cena assistia, sacou de um canivete, com pretensões menos violenta do que aquele que tem sua propriedade invadida, e descascou um gomo, que gentilmente ofereceu ao garoto.
O menino, que sempre trilhara pela estrada amarga, puxado pelas mãos e pela mãe, também amarga, sorveu o doce encanto e caldo da cana, que lhe fora oferecido.
Doces se fizeram as margens do caminho; canaviais das canas coloniais; do açúcar, antes da beterraba; e do etanol, sumo alternativo, que conduz mais rápido, os que viajam pela estrada.
Como o trigo, como o milho e como o arroz, aquele doce capim via suas folhas balançadas pelo vento, e fez sorrir muitos outros meninos, que também se soltavam das mãos e de suas mães para sorverem o suco doce daquela magia, aliviados que ficavam ao se libertarem, por instantes de uma estrada amarga, que antes só se prestava a ligar pontos cardeais.