O BRINQUEDO
Era mais uma das muitas manhãs tranquilas naquela pequenina cidade situada numa planície entre as montanhas e o deserto onde o tempo parecia passar bem mais lento que na capital sempre agitada pelos acontecimentos políticos que deixavam o povo em verdadeiro estado de angústia e constante apreensão. Porem ali quase nada de anormal acontecia. As notícias das outras cidades da região e também do mundo chegavam através dos raros viajantes que se aventuravam a transitar pelos seus íngremes e perigosos caminhos quase sempre desertos.
Mas naquela cidadezinha não; a calma de suas ruas estreitas e sem calçamento só era cortada pela conversa dos moradores, pelo balido das ovelhas, pelo latido dos cães e ainda pela algazarra que as crianças faziam quando brincavam.
Naquela manhã um grupo de cinco meninos da vizinhança brincava despreocupadamente correndo atrás dos cordeirinhos que, amedrontados, davam acrobáticos saltos por sobre as pedras para escapar das crianças. Um transeunte vendo a aflição dos carneirinhos os repreendeu por molestarem os animais e sugeriu que procurassem outro divertimento que não prejudicasse ninguém.
- Então vamos brincar de surpresa? Sugeriu um dos meninos.
- Surpresa! mas como é que se brinca disso? Perguntaram os demais.
- A gente se separa e cada um faz um brinquedo com o que encontrar, pedra, pau, folha, fio, qualquer coisa. Depois nós vamos ver quem montou o melhor brinquedo.
- Certo, vamos! responderam os outros. E cada um foi para um lugar onde ficasse longe da vista dos demais e o processo de criação ou de montagem dos brinquedos teve início.
Depois de certo tempo, após todos terem confirmado a conclusão das suas tarefas, os meninos iniciaram a apresentação e julgamento dos trabalhos.
- Primeiro o seu, Efraim. Foi você quem sugeriu a brincadeira, o que você fez? Disseram as crianças em uma só voz.
- Fiz um muro de pedras, pois quando for adulto quero ser construtor de casas e também de muralhas para proteger a nossa cidade.
- Muito bem, disseram os seus amigos. E você Isaac, agora chegou a sua vez?
- Fiz este vaso de argila, pois quero ser oleiro como o meu pai para fabricar muitas vasilhas para vender aqui na cidade e na região.
- Muito bom, disseram os outros, e o seu Rubens?
- Fiz esta mó, pois quero plantar trigo para alimentar todos os moradores da nossa cidade e vou precisar de um moinho.
- Sua vez Eli, o que você preparou?
- Fiz este cajado. Quando crescer quero ser pastor e para cuidar das ovelhas vou precisar de um cajado para defender o meu rebanho dos ataques das feras.
- É muito simples mas valeu, disseram os meninos. Agora só falta ...
Nesse momento, interrompendo a brincadeira, uma mulher ainda jovem apareceu na porta de uma das casas humildes e disse:
- Crianças o sol está muito alto e o sol forte não é bom! Entrem!
O último dos meninos que ainda não havia apresentado o seu trabalho mostrou aos demais dois pedaços de madeira e quando tentava explicar o que aquilo significava foi interrompido pela zombaria dos demais:
- Mas é isso ai? Isso não é trabalho, dois pedaços de pau. Essa é boa. Para que serve isso?
Sem se deixar abater pela zombaria o menino disse suavemente:
- Vocês não sabem a importância do meu trabalho. No futuro o mundo inteiro há de reconhecer este símbolo que agora parece não possuir qualquer significado. Isso que estão vendo é uma cruz e é com ela que salvarei o mundo.
Os demais meninos ouviam atônitos pois não compreendiam o significado daquelas palavras. A jovem mulher reaparecendo na porta voltou a chamar:
- Jesus! Jesus! Entre meu filho o teu pai e eu te esperamos, o almoço já está servido.