As cronicas de Luz e Trevas, Lucas Benjamim e o Livro Necronomicon (Cap.4-Uma triste Garia)

4.UMA TRISTE GARIA

A travessia é algo ruim, não é tão simples como atravessar uma simples porta. O primeiro sintoma que uma pessoa que não é acostumado sente é náusea seguida por uma leve tontura. Os irmãos Benjamins não foram os únicos que de uma primeira travessia colocaram o que tinham no estomago pra fora, como estavam desprevenidos correram logo para uma lixeira e trataram de botar os sorvetes pra fora.

-Não se preocupem – fala Allan – É normal acontecer isso na primeira viajem depois o corpo acostuma.

-Onde estamos? – diz Lucas limpando a boca

-Garia. A capital de Arvon

-Quem é você? – pergunta Lucas já recuperado dos vômitos.

-Sou Allan Siberian Terceiro, seu padrinho e amigo de seus pais – disse o Justicar – A ultima vez que o vi, você era um bebe. Você se parece muito com seu pai, já seu irmão tem a doçura nos olhos de sua mãe – diz admirado com as semelhanças.

Samuel estava ainda meio aturdido e com o gosto ruim de quem acabara de vomitar, ele odiava ficar com a boca suja e amarga mesmo assim ouviu Allan comentar sobre sua mãe e logo um aperto no coração lhe veio.

-Ela está mal! – diz Sam em um tom tristonho – eu posso sentir.

-Me parece que não é só os olhos gentis de sua mãe que você herdou – Allan não disfarçou a tristeza da noticia que teria quer dar para os meninos – Não sabemos ao certo o que atacou Sylvia e o porquê desse ataque.

-Me desculpe, continuo sem saber quem é você – diz já impaciente Lucas – Diz que nossa mãe foi atacada, então sabe onde ela está agora né?

-Me desculpe garoto, me chame de Allan é como todos me chamam. Sou um Ordinário Justicar do Ocidente guardião da paz e justiça na Terra Alta, herdeiro das terras de Buquis em Lisarb, mestre dos relâmpagos e tempestades e seu padrinho.

-Allan ser amigo de antiga mestra! – fala Irish dando uma pétala de alguma folha ou planta para os irmãos – Allan sempre ajudar a família dos mestres, Irish confia em Allan.

-O que é isso? – pergunta Samuel

-Os pequenos mestres devem mascar e depois colocar em baixo da língua. Isso ser Fluorratar uma planta de minha terra, bom para hálito e recupera o vigor dos pequeninos mestres.

O perfume da pétala era agradável, lembrava hortelã só que mais suave e com um tom mais cítrico. O gosto era bastante agradável e rapidamente retirou todo o mal estar dos dois.

-Nem acredito que vocês não saibam de nada sobre o nosso mundo. Seu pai foi um herói sabia? Sua mãe era uma verdadeira celebridade nessa cidade, eles ajudaram a destruir o Necromante alguns anos atrás.

-Meu pai um herói? – Lucas balança a cabeça como quem não acredita no que acabou de ouvir.

-E onde ele está agora? – Samuel solta quase que sem querer

Lucas de repente acha a voz.

-Pare! Não importa o que tenha acontecido Sam, ele nos abandonou eu nunca vou perdoa-lo por isso.

Allan procurou a melhor forma de dizer aquilo, sabia que agora não tinha mais volta. Não podia deixa-los sem saber o que aconteceu com seu pai.

-Não será possível perdoa-lo Lucas. Ele está morto. Morreu alguns anos atrás quando investigava as minas Barundar.

Aquela noticia foi como um banho de agua fria em Lucas, Samuel apesar de nem ter conhecido seu pai fica com os olhos cheios d’água, mas não chora.

-Eu sei que ninguém e nem Sylvia deve ter contado pra vocês, mas vocês são especiais – Allan tentava amenizar – Não são como seus amigos do outro mundo, vocês são Magos.

A sala da Ponte da Lua mergulhou em um silencio, os irmãos se entreolham como se não acreditassem no que acabaram de ouvir.

-Haahahahaa, eu sou um mago? Você deve estar de brincadeira – debocha Lucas

-Sim, talvez um feiticeiro quem saiba, ou um precógnito. O que importa é que vocês não são adormecidos como a maioria das pessoas, se não todas, que vocês conhecem – Allan olha a sua volta e percebe que dois homens de terno preto e óculos escuros se aproximam.

-Vocês não tem permissão para sair dessa sala – fala um dos homens

-A é? Acho que aqui vocês não têm autoridade suficiente para fazer isso. Quero só ver tecnomantes como vocês me impedirem. - respondeu

-Tecno o quê? – pergunta interessado Samuel

-Tecnomantes – fala Allan – é como chamamos os magos que usam a tecnologia como mágica, eles têm outro tipo de paradigma diferente do nosso. Preferem a segurança e o controle em vez da poderosa e versátil mágica verdadeira.

-Recebemos um aviso do Inquisitor que um Justicar acabou de quebrar os protocolos de segurança, fez motim e atacaram paladinos e Inquisitores da nova ordem mundial – disse um dos homens – Allan Siberian Terceiro, Ordinário Mestre Justicar do Ocidente você está preso!

-Primeiro, eu tinha permissão para fazer magias – mostra a permissão – segundo não fiz motim algum, apenas mantive a paz entre os dois mundos. Pelo que sei as Pontes da Lua são estações neutras que nenhuma das partes pode negar acesso, a não serem em caso de Guerra, Ameaças externas ou calamidades de nível mundial e como não existiram nenhum dos três fatores, me senti no direito de voltar pra casa juntamente com meus conterrâneos. E digo mais, se tentarem me prender eu devo usar minha autoridade de Justicar e leva-los para o pátio da Justiça para serem julgados por desordem, abuso de autoridade, desacato e fomentadores de guerra.

Nesse instante Allan sentiu a hesitação no coração dos paladinos e continuou.

-Estou lhe avisando, Senhores Paladinos, estou lhe avisando de antemão que se tentarem me prender injustamente, serão os senhores que se darão mal...

Ameaçados por Allan a coragem dos paladinos deixou no mesmo momento em que Allan disse que “Serão os senhores que se darão mal” e foi por isso que não deram uma palavra quando Allan, os garotos e Irish saíram da estação sem mais problemas.

Para Samuel e Lucas aquela estação parecia muito com o aeroporto, só que tinham algumas modificações mágicas e as pessoas que frequentavam eram de um tipo totalmente diferente da que frequentam os nossos aeroportos. Um exemplo bem gritante era as escadas, no nosso mundo existiam muitas escadas, rolantes ou imóveis já em Garia existia uma única escadaria e duas rampas, em vez de muitas escadas ou elevadores, em Garia existem os levaportes. Eles pareciam muito com uma porta comum a única diferença estaria nas runas escritas com os números dos andares que existiam no edifício, assim os eleportes davam acesso direto aos andares superiores, eram portais feitos para dobrar o curto espaço que existiam entre um andar e outro, bastava a pessoa escolher uma das runas de destino e abrir a porta e entrar na porta que tinha a runa “4° andar”, então quando atravessasse a porta estaria ali no quarto andar sem subir todos aqueles andares, era uma espécie de atalho.

A maior surpresa na verdade foi ao saírem do aeroporto, o fluxo de transito era composto em sua maioria por carruagens, animais de transporte (diga-se de passagem, alguns bem exóticos até), pessoas ia e vinham de seus afazeres diários, as ruas eram limpas e de ladrilhos perfeitamente cortados, sua arquitetura é linda, com casas bem construídas e jardins belíssimos, diga-se de passagem, a melhor casa que a ciência da terra pode construir seria a pior que a verdadeira magia poderia erguer. Ao longe se erguia o imponente castelo do rei Thorn bem no coração da cidade, de dentro das nuvens sai o que parece ser uma montanha que levita bem a cima de Starwind (o nome do castelo do rei Thorn) na base da montanha flutuantes quatro antigos grão mestres da ordem dos Justicares do Ocidente estavam esculpidos, esses foram os antigos diretores de Arcania que antes de se formarem estudaram em Arcania, cada um deles teve feitos memoráveis para estarem ali esculpidos, de onde os garotos estavam só dava para ver as sete torres do grande castelo que funciona a universidade para as Artes: Arcanas, de Feitiçaria e Adivinhação que se chama Arcania, lá também funciona uma espécie de recrutamento para a academia dos Justicares do Ocidente e muitos dos seus melhores professores e coordenadores são (ou eram) também Justicares, alguns estão aposentados de seus deveres e preferem ficar na segurança de se tornar um acadêmico brilhante e passar suas experiências, outros fazem os dois, dando aula nos tempos livres que tem entre uma missão ou outra.

-Estão vendo? – Allan aponta para Arcania – Ali fica Arcania, a universidade que Cristopher e Sylvia estudaram.

-Desculpe – disse Samuel – mais queria ver minha mãe

Lucas parecia estar muito pensativo com a notícia de que Cristopher havia morrido no fundo ele queria ter de volta seu pai e por isso não aceitava que Cristopher havia realmente abandonado sua família, e realmente não abandonou o destino pra ele foi mais cruel e por isso o menino estava com o imenso remorso por todos esses anos ter cultivado esse sentimento.

-Certo – suspira o Justicar – vocês venceram, mas não podem ficar lá por muito tempo. Irish você poderia encontrar a Senhora Reine e pegar as chaves da casa dos Benjamins?

-Irish sempre gostar de servir a antiga casa da mestra. Irish ir numa chuva e voltar num arco-íris. – então se separa em passos rápidos e ágeis.

Allan leva os irmãos Benjamins pelas ruas de Garia, andam por algum tempo vendo todo tipo estruturas, lojas de roupas, curtumeira, lojas de especiarias mágicas, as ferrarias e suas incansáveis chaminés, na praça principal tinha um tipo de feira que parecia atrair as pessoas como abelha no meleiro, o Justicar evitou passar pelo engarrafamento de pessoas, logo depois de atravessarem a Rua Esmeraldina, entram em uma grande estrutura sem paredes com vários quiosques, o teto era do tipo de abóboda, tinha corredores apertados e logo na entrada alguns vendedores tinham joias de pratas expostas em lençóis no chão mesmo, aqui é o que os Garianos chamam de Beco da Poeira, lá você poderia achar qualquer coisa que seu dinheiro pudesse comprar legal ou ilegal, pelo menos era o que as más línguas diziam e se tivesse alguém para te mostrar os artigos ilegais, ali não era um bom canto para se andar sem ao menos ter alguém experiente ou com autoridade suficiente que meta medo nas pessoas que não tenham boas intenções. Alguns dizem que o chefe do Beco é um mafioso que tem um tesouro que daria para comprar toda Garia, obvio que isso não passa de rumores exagerados e ninguém realmente sabia quem ele era. Muitos dos Meios-Homens trabalhavam no Beco da Poeira para o tal mafioso ou alugava um espaço para praticar seus negócios. Os Meio-Homens eram ladinos natos e tão ágil que poderia estar conversando com você e retirar na sua frente a bolsa de moedas ou uma pulseira de seu braço, lógico que esses talentos não era bem visto pelas autoridades de nenhuma cidade e nenhum cidadão, eles têm a média de altura de noventa centímetros e devem pesar em torno de 15 a 19 quilos, suas orelhas são levemente pontudas, rostos afilados e não crescem pelos no rosto, por preferirem conforto a ostentação dificilmente não verá um Meio-Homem vestido com roupas pomposas elegantes e desconfortáveis eles preferem roupas práticas e leves, a expectativa de vida deles é de 150 anos.

Algumas dezenas de Meios-Homens identificam Allan como um Justicar e logo cochichos e boatos estavam circulando por todo o Beco, alguns até foram inventados para tirar proveito em uma venda ou coisa pior.

-Não saiam perto de mim – diz Allan

Muitos gritos de mercadores oferecendo suas mercadorias ecoavam, e aquilo não diferia muito de uma grande feira. O Justicar entra em um quiosque que havia varias sacas empilhadas e um cheiro forte de ração com carne, um Meio-Homem estava em um banco que deveria ter o seu tamanho, ele estava lendo um jornal no balcão e brincando com um lápis em sua mão desocupada, sua agilidade era sobre-humana.

Allan pigarreia para alertar o vendedor do quiosque a sua presença.

-Desculpe senhor e que... Allan? Allan meu amigo há quanto tempo? Separei a ração da Ágata, como você havia me pedido.

-Não estou aqui por causa disso – diz Allan

-Não? – o Meio-Homem fica confuso e um tanto receoso onde aquela conversa poderia chegar

-Não Wimbly. Vim requisitar seus serviços. – Allan sabia que não podia entrar direto no assunto, o que ele pediria seria algo muito difícil e arriscado e não podia ser direto.

-Meus... meus serviços – gagueja Wimbly – Eu não posso senhor Justicar, não faço isso há pelo menos uns sessenta anos.

-Não Wimbly, não esse tipo de serviço! – Allan ri da confusão mesmo sabendo que eram exatamente esses os serviços que pretendia contratar – Esse é o meu afilhado Lucas e o outro é seu irmão Samuel.

-Sim o que têm eles?

-São filhos de Sylvia. Lembra-se dela?

-Como iria me esquecer da única pessoa que foi capaz de me descobrir – essas palavras soaram como uma lembrança misteriosa, ninguém seria capaz de descobrir se isso foi um elogio ou uma ofensa.

-Serei breve, Sylvia foi atacada e está em péssimas condições – os garotos não receberam bem essas ultimas informações.

-Quê? Sylvia está mal? Diga-me Allan o que posso fazer para ajuda-la? – o Meio-Homem pula de sua cadeira alta incomodado com a situação.

-O que aconteceu com nossa mãe? Quero saber! – Lucas interrompe preocupado – Por que não diz de uma vez por todas?

-Bom, é melhor saber o que eu puder lhe contar, mas não aqui. Aqui as paredes têm ouvidos – Allan olha ao redor da lojinha de Wimbly.

-É verdade meninos, aqui não é canto para se contar esse tipo de história – complementa o Meio-Homem – Allan o que quer que seja eu topo em ajudar. Venham tenho um canto seguro.

Wimbly se dirige a porta de seu estabelecimento e começa a fecha-lo, então volta para o balcão e aciona o mecanismo secreto por debaixo do balcão, uma porta surge no que seria uma saca de ração falsa, um alçapão com escadas surge mostrando um caminho escondido.

-O que estão esperando? – diz Wimbly ao entrar e ver que estava sozinho no corredor – Vamos é seguro, não precisam ter medo.

Allan e os irmãos Benjamins entram no pequeno e apertado corredor, quando o último deles entra a passagem se fecha e a escuridão toma conta, não o suficiente para os olhos se acostumarem já que Wimbly tinha uma pedra solar em sua mão, ela cabia perfeitamente na mão do Meio-Homem era bem polida, com uma temperatura morna e tinha luz própria. A luz que a pedra emitia era o suficiente para continuarem, prosseguiram por algum tempo pelos corredores apertados seguindo aquele Meio-Homem de cabelos castanhos, tão ágil e esguio como um coelho. Logo o corredor fica maior e um barulho de agua corrente fica audível. Eles estavam ali em um emaranhado de túneis por onde passava uma agua turva com um cheiro não muito agradável.

-Tenham cuidado, aqui é pra onde toda sujeira de Garia vai parar! – fala Wimbly se referindo ao sistema de esgotos, se escorregassem e caíssem em um dos túneis seria uma morte bem nojenta. Vários ratos e baratas viviam ali mais não se importavam com os visitantes. Samuel logo percebeu que estava debaixo da cidade e alguns dos túneis traziam nitidamente as conversas de várias pessoas, alguns deles traziam brigas outros conversas de cotidiano, na verdade ali seria um bom canto para fofoqueiros de plantão (não tão agradável e cheiroso na verdade). Depois de andarem por uma variedade de túneis, pegaram um que parecia ser limpo e com um cheiro agradável de mato, nas paredes alguns galhos e plantas se arriscavam colocar seus braços pra fora procurando alguma luz, no teto uma grade iluminava aquele corredor com a luz natural da superfície, então logo a frente uma porta bem trabalhada e circular, alguns musgos davam o tom esverdeado da porta ela não tinha nenhuma fechadura só alguns sistemas mecânicos que o único que conhecia era Wimbley, ali era bem mais agradável do que todo o percurso que fizeram.

-Sejam bem vindos ao meu humilde e doce lar - fala Wimbley ao abrir a porta.

Ali não parecia nada com o esgoto sujo e fedorento que ficou pra trás, as janelas ficavam no teto recoberto por galhos, as paredes tinham um acabamento fino e simples, uma chaminé crepitava no canto da sala, e uma estande com que parecia ser troços inúteis se erguiam como verdadeiros troféus, o que chamava mais a atenção dos garotos era uma folha de pergaminho em branco, parecia ter sido rasgada de algum livro, ela ficava acima de todas as outras.

-Vamos sentem, vou preparar um bolo de milho com erva doce, um bom café e chá branco – Wimbley tenta ser um bom anfitrião como a maioria dos Meios-Homens e sai em direção a despensa para ver o que poderia oferecer.

-Acho que vocês devem saber da verdade, não devo ser a melhor pessoa pra contar-lhes, mais precisa ser dito antes que reencontre Sylvia.

Allan se aconchega em uma poltrona confortável, apesar de ser menor do que seria considerado o normal para seu tamanho.

-Eu nunca esperei por isso – diz em uma voz preocupada – Não sei o real perigo que vocês e Sylvia estão correndo. Espero que não seja tarde.

Allan fitou o fogo por alguns segundos e começou:

-Começa, eu acho, com...Com o necromante que causou a guerra dos quatro reinos.

-Guerra dos quatro reinos? – pergunta Samuel

-Kobolds me mordam! Esqueci que não sabem de nada do nosso mundo... Bem então por onde devo começar? Sim acho que sobre o necromante.

-Quem? – Lucas fica curioso

-Sobre o Necromante que iniciou toda a guerra, ele é um mago perverso que há muito tempo perdeu a humanidade servindo os propósitos mais cruéis que alguém possa imaginar ninguém sabe a verdadeira identidade dele, mas esse necromante em questão chama-se Kaz’Mor, que na língua maligna e ferina dos demônios quer dizer o Senhor do Apocalipse. Até hoje ninguém sabe qual o propósito e as verdadeiras intenções dessa guerra. Gostaria de acreditar que sua única ambição seria o de causar dor e sofrimento, só que não é tão simples assim apesar de isso ser o que ele sabe fazer de melhor, meninos, esse Kaz’Mor era muito perverso e maligno até que sua mãe e seu pai – Allan faz uma pausa – ajudaram Karavajal e Lugus a derrotar Kaz’Mor.

-Sim então qual é o problema disso? – indaga Lucas – isso não é uma coisa boa?

-O problema Lucas é que quando isso ocorreu sua mãe estava grávida, e era você que era a criança no ventre de Sylvia. Não sabemos ao certo qual era a extensão dos poderes de Kaz’Mor, o espirito maligno de Kaz’Mor ainda vive e está esperando só uma oportunidade pra retornar.

-Não entendi o que tem haver Lucas com esse homem mau? – agora era a vez de Sam perguntar.

-Sam esse necromante era poderoso e sabia o que estava fazendo, ele teve a oportunidade de matar Sylvia e Cristopher, e ninguém soube o motivo de Kaz’Mor deixa-los vivos, pelo menos até uns 13 anos atrás quando Karavajal com os Celestiais descobriram que o necromante havia implantado a marca da maldição em você, quando ainda era apenas um feto, por isso vocês foram criados no outro mundo para que a marca da perdição não se desenvolvesse e você não fosse alvo dos Darkstalkers.

Nesse momento Wimbley vinha da cozinha com uma bandeja que continha um prato com um saboroso bolo de milho, quatro xícaras em pires pequenos, uma chaleira com o chá branco quentinho, um pote de manteiga e um pote de mel para adoçar a gosto o chá.

-O que foi que perdi? – diz servindo Allan e os irmãos

-Nada do que você ainda não saiba – comenta o Justicar

-Desculpem o café acabou, mas se preferirem outra bebida posso trazer leite com mel, suco, vitamina de frutas vermelhas, ou o famoso suco Gamgi esse faço bem rápido e o sirvo bem geladinho.

-Não, obrigado Wimbley – os três agradeceram a hospitalidade do Meio-Homem. O chá estava no ponto certo, somente Samuel passou do ponto ao passar na dosagem do mel, o que ficou delicioso mais arranhou a garganta de tão doce que ficou seu chá, logo no primeiro gole tossiu e em seguida devorou um pedaço do bolo para tentar tirar um pouco da sensação de garganta arranhada.

Allan tomou um gole do chá e tratou de falar:

-O que não conseguimos entender é que você morando fora da Terra Alta, os Darksatalkers iriam voltar para as terras amaldiçoadas de Iréxias por não terem um alvo a procurar, o que não aconteceu, pelo contrário parece que dobrou as aparições deles. Pelos bons arcanos, parece que a marca falhou. Ainda não temos tanta certeza assim, a verdade é que Califax está suspeitando de atividades dos Darkstalkers pelas redondezas de Garia. E é ai Wimbley que você entra. Você deve descobrir o que esses malditos querem por aqui.

-O quê? Você tá querendo que eu morra é isso? Seria melhor se você pegasse uma faca e cortasse minha garganta!

-Calma Wimbley você sabe que consegue, é o único que consigo lembrar que pode fazer esse trabalho e ter uma chance de sair vivo, você foi o maior de todos os ladrões. Você será muito bem recompensado.

-Aqueles eram outros tempos Allan, o que eu fazia era necessário. Hoje graças a Sylvia sigo um caminho digno e honesto, como disse antes, estou aposentado e não tem nada que possa me oferecer que me faça mudar de ideia.

Wimbley chegou onde Allan queria, ele havia mordido a isca e agora era tarde pra voltar atrás.

-É uma pena, eu lhe daria a chance de ir para Estrália conhecer os imortais. Quem sabe até convenceria um Justicar Celestial a lhe dar uma permanência fixa por serviços prestados? Desculpe então em incomodar Sr. Wimbley. Eu e os irmãos Benjamins estamos de partida, afinal eles merecem ver sua mãe.

-Espera ai ninguém sai ainda, você... você disse Estrália?

-Disse – Allan levanta-se da cadeira – Desculpe-me por fazê-lo perder seu precioso tempo Wimbley, mas agora tenho que ir já está ficando tarde. Amanhã passo para pegar a ração de Ágata.

-Obrigado Wimbley, estava delicioso seu bolo de milho – agradecia Samuel. Lucas estava fumaçando só de pensar naquela historia biruta que acabara de ouvir e esqueceu-se de agradecer a hospitalidade do Meio-Homem.

-Vamos andando, não quero perder o horário de visitas – comenta o Justicar caminhando em direção a saída – Passar bem Sr. Wimbley.

E assim os três saem da casa. Não deram nem sete passos e a porta logo atrás se abre com Wimbley do lado de fora e fechando sua casa.

-Allan espera! – diz ainda travando os mecanismos, já que a porta não tinha chaves e nem fechadura – não quero que se percam nos labirintos fétidos com as crianças. Tem uma passagem que leva direto aos portões de Garia, de lá podem ir ao Curandaris para visitar Sylvia, posso também se preferir leva-los direto pra lá por um dos túneis.

Garia era toda interligada por essa rede de tuneis e seus esgotos, ninguém da superfície sabia disso é claro, a não ser que um túnel desses dê algum problema ai alguns poucos trabalhadores teriam que descer e ver os intermináveis túneis se não fosse por isso ninguém saberia a existência desses túneis. Logo Wimbley pega o caminho mais curto e menos fedorento, ali se alguém se perdesse e o que não é difícil, estaria em sérios apuros para voltar para a superfície.

-Pronto. Agora e só abrir essa grade e estarão de volta a superfície – diz o Meio-Homem já resolvendo o problema com um grampo que pegou de seu bolso – Só um minuto... Aha consegui!

-Obrigado Sr. Wimbley. Parece que não perdeu o hábito – comenta Allan

Samuel e Lucas não deram uma palavra se quer, Samuel estava ainda muito encantado com tudo que estava acontecendo, parecia que estava vivendo um sonho, já Lucas parecia estar bem triste e com medo que o “sonho” se transformasse em um pesadelo no qual não conseguia acordar.

-Justicar Allan! – grita Wimbley antes de perdê-los de vista no meio da multidão – Um segundo, espera ai!

Wimbley corre em direção do Justicar e os garotos.

-Eu aceito sua oferta – diz com ansiedade o Meio-Homem.

-Eu Sei.

-Pois tenham uma boa tarde que eu tenho muito que fazer agora. Antes prevenido do que despreparado, esse é o meu lema. – Wimbley sai divagando sobre sua perigosa missão e do que ele iria precisar para concluí-la.

Enquanto Samuel estava deslumbrado com as pessoas que facilmente poderiam ser temas de algum filme de aventura fantástica, Lucas estava preocupado com sua mãe. Quanto mais Allan os levava para perto do Curandaris (essa é a casa de cura, uma espécie de hospital de Garia) mais sentia um aperto no coração, era como se soubesse que algo muito ruim estivesse acontecendo e que ia piorando a cada passo que dava. Então ficou gelado ao ver o grandioso prédio de mármore branco, algo lhe dizia para não entrar, mas ao mesmo tempo ele queria saber a verdade, é como no velho ditado de Lisarb: “Tolo é aquele que tem condições de saber da verdade e a rejeita pelo medo que ela pode ocasionar”.

-Chegamos – fala Allan – Talvez não seja necessário realmente visita-la.

-Eu quero vê-la. – disse Lucas – Nada que você fale me fará mudar de ideia.

Não existia nenhum estabelecimento perto da casa de cura, ela ocupava um quarteirão inteiro e tinha uns nove andares. Se Lucas não tivesse puxado Sam, ele estaria ainda ali na frente da rua vendo um animal que parecia um tigre branco todo rajado como uma zebra, esse animal servia de montaria para um homem que passeava pelas ruas, antes de Samuel comentar, Lucas o arrasta pra dentro do Curandaris.

Para ser uma espécie de hospital, o Curandaris era um lugar perfeito. Logo na entrada havia uma recepção e na recepção havia um grupo de velhas que estavam aguardando sua vez de entrar e serem atendidas. Ali na recepção era arejado e bem iluminado, talvez fosse magica, mas os garotos nunca saberiam.

Um homenzinho careca estava conversando com a atendente, ela era atenciosa e deveria ter a idade de Sylvia. Todos ali pareciam conhecer Allan, logo acenaram e sorriam pra ele. A atendente logo despacha o homenzinho e se dirige para falar com Allan.

-Esses são os filhos do antigo oráculo?

-Sim, Elaine, esses são Lucas e Samuel Benjamim – disse Allan colocando as mãos nos ombros dos dois.

-Então suponho que tenham vindo visitar Sylvia – diz Elaine com uma cara séria – Entrem, Meieve está cuidando dela. Andar nove, corredor de internação grave, a primeira porta do lado direito de quem entra. Não é permitida a entrada de visitas depois das vinte horas.

-Obrigado. – Allan empurra os garotos pra dentro.

Ali emanava um ar de tranquilidade, descanso e alivio. Apesar dos pacientes chegarem com dores ou com alguma enfermidade, algo os tranquilizavam e o confortavam, talvez fossem o conforto e a certeza que ali eles estariam sendo bem tratados. Lucas sabia que logo ia ter respostas para sua angustias, Samuel estava entretido com o que parecia ser uma aula de um “medico” para seus três alunos. Ao chegarem no “levaporte” (um daqueles atalhos iguais ao que existiam na estação da lua) Samuel começou entender que estava em um lugar onde as pessoas que estão enfermas vão para se curar.

O nono andar era ainda mais calmo, ali como em todo Curandaris tinham plantas e flores mesclados com a arquitetura, o diferencial desse andar para os outros era o silencio absoluto e quase não se via uma pessoa. Logo Allan estava parado na frente da primeira porta a direita como a recepcionista ensinou. Lucas entra assim que Allan abre a porta, Samuel fica do lado de fora perplexo, somente agora percebera que a paciente que foram visitar era sua amada mãe. A benção da ingenuidade por ter pouca idade o protegera de sofrer antecipadamente como seu irmão. Meieve estava ao lado da cama em uma cadeira, ela estava ali dês que Sylvia chegou ao Curadaris desacordada, na esperança que Sylvia melhorasse. Mais foi Lucas que entrou de rompente e a fez levantar da cadeira na qual estava lendo um relatório de evolução de Sylvia.

-Mãe? – Lucas se aproximava de Sylvia para examina-la, ela estava com algumas bandagens e uma mancha preta aparecia e ia por todo seu corpo. Antes de chegar ao corpo inerte de sua mãe Meieve o abraçou, nesse momento as lagrimas brotaram de seus olhos angustiados.

-Ela está viva? – perguntara Lucas com a voz abafada por causa do rosto afundado no ombro de Meieve.

-Está meu querido.

Allan se aproximara daquela cena, já Samuel ficou paralisado do lado de fora da sala.

-Ela vai ficar bem?

-O feitiço que a pegou é um tipo de necromancia poderosa. Isso somente o tempo irá dizer – diz agora Meieve fitando Lucas nos olhos – Estamos aqui dia e noite para reverter a situação de Sylvia, farei tudo que estiver ao meu alcance para cura-la.

-Quem fez isso a ela?

Agora foi a vez de Allan responder:

-Suspeitamos que tenha sido Kaz’Mor, Lucas. Parece que ele recuperou uma parte de suas forças e o atacou diretamente com a intenção de ativar a marca da perdição.

Lucas voltou-se sua atenção para Sylvia, é difícil tentar explicar o que ele sentiu naquela hora, só quem já perdeu algum ente querido ou passou por uma dor semelhante pode entender, apesar de ser apenas um adolescente sabia que não podia fazer nada para ajudar sua amada mãe. Foi então que Samuel entrou na sala, chocado e assustado. Sam não estava entendendo o porquê que Lucas estava chorando daquele jeito, ele nunca vira seu irmão chorar daquela forma.

-Nãão... Mãe. Mãeezinhaa, nããão. Mano por que ela não acorda pra nos abraçar, sou eu mãe, Samuel – parecia que não importava mais aquele mundo mágico tão fantástico e Samuel teria trocado tudo pra que isso não tivesse acontecendo – Acorda mãeeee, eu prometo comer tudo e não deixar mais nada no prato mais acordaaa, por favor. Allan – grita desesperado – Faz ela acordar – então ele também desaba em lagrimas. Sam estava com tanta dor por ver sua mãe naquele estado que não conseguia nem abrir os olhos, Lucas segura o choro, se aproxima de seu irmão e o abraça.

-Sam tudo vai ficar bem, eu prometo. – dizia mesmo com a cara inchada de ter chorado, ele sabia que deveria ser forte, mais forte do que nunca, tudo por seu irmão que estava precisando tanto dele naquela hora – Prometo que iremos ficar bem. Ela vai ficar bem.

Aquela seria a noite mais triste, até agora, dos irmãos Benjamins. Nenhuma criança deveria perder seus pais antes de se tornarem adultos. Por mais que Allan tentasse tirar os dois de perto de sua mãe eles insistiram pra ficarem e somente porque Allan é um Justicar eles conseguiram passar a noite ao lado de sua querida mãe que estava em coma por causa de um poderoso feitiço.

CONTINUA...

RBDiogo
Enviado por RBDiogo em 10/12/2012
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