As cronicas de Luz e Trevas, Lucas Benjamim e o Livro Necronomicon (Cap.1-Acidente mágico)
1-ACIDENTE MÁGICO
Haviam se passado quase treze anos desde que os Benjamins vieram para o nosso mundo e Sylvia tinha encontrado sua irmã adormecida, mas ainda assim era muito difícil a adaptação e o que tornara ainda mais complicada era a proibição de fazer magias. Isso não impedia que Sylvia de vez em quando usasse um pequeno truque ali e outro acolá, nada que os paladinos da nova ordem mundial percebessem.
As fotografias em cima dos móveis, ou penduradas em um painel na parede mostravam que o tempo passara. Treze anos antes as fotografias mostravam uma família grande com duas mães, cada uma delas segurava nos braços um bebê, um com a cabeça toda dourada e bochechas rosadas e o outro com cabelos negros, um homem grande com roupas coloridas sorria por cima de seu bigode escuro, havia outro mais sério que nunca sorria nas fotos, esse exibia uma barba cheia e completamente dourada, com o decorrer do tempo pouco a pouco Cristopher ia sumindo nas fotografias dando espaço para o mais novo integrante, Samuel Benjamim, em uma única foto a família inteira estava reunida, um garoto com cabelos lisos e dourados que quase tocavam os ombros estava com um sorriso tão largo que seus olhos estavam fechados, o mesmo homem que nunca sorria parecia está com um semblante mais leve no rosto estava logo atrás do menino sorridente, ao seu lado Sylvia com seus cabelos cacheados segurava uma criança que dormia com suas bochechas rosadas, e agora mostrava um menino grande com cabelos loiros na altura dos ombros brincando de pescar na praia com um menor, esse tinha uma franja loira que caia sobre sua testa e tão risonho quanto o primeiro, as fotos mostravam sua mãe sempre com um sorriso incompleto em seu rosto e o homem sério havia sumido por completo das fotografias, em algumas fotos a outra família aparecia, Tiago era maior que Lucas e sempre aparecia sorrindo enquanto os outros dois estavam circunspectos, e quando os dois apareciam sorrindo o garoto com o topete preto ficava com a cara de poucos amigos, havia fotos de churrasco com todos e Martha segurava uma linda menina com os olhos da cor verde esmeralda.
Apesar de Lucas ser o mais velho, continuava dormindo, mas não por muito tempo. Seu irmão mais novo era seu despertador pela manhã, assim que dava seis em ponto Samuel acordava, e era o som de sua voz ainda sonolenta que fazia as primeiras tentativas de acordar Lucas.
-Bora mano, acorda!
Lucas acordava mais continuava debaixo dos lençóis preguiçando.
-Já está na hora de acordar – dizia Samuel puxando seu lençol descobrindo-o, então seu primeiro movimento acordado era se encolher em posição fetal.
Lucas ouviu o som do chuveiro e finalmente tenta despertar bocejando e ficando sentado na cama, estava completamente assanhado com seus longos cabelos nos ombros, ficava ali sentado sem se mexer até Samuel sair do banho, e somente depois de tomar um banho bem gelado era que Lucas acordava. Depois de terem tomado banho e estarem vestidos com a farda iam para a cozinha onde sua mãe estava preparando o café da manhã.
-Vocês já estão acordados? – diz Sylvia sempre pontualmente as seis e meia quando tinha o primeiro contato com os dois.
-Eu sim mãe – diz Samuel com um sorriso e corria para receber um abraço e um beijo na testa
-Bom dia mãe – fala Lucas cheirando os sanduiches de presunto e queijo que ela estava preparando, a mesa dos Benjamins nessa hora estava quase completa só faltava os sanduiches saírem da assadeira.
-Bom dia meu querido – ela abria a assadeira e colocava o misto no prato de Lucas e dava-lhe um barulhento beijo na bochecha, depois de ver seu primogênito com um sorriso no rosto, coloca o próximo sanduiche no prato de Samuel.
Depois de uns dez minutos quase todos já haviam acabado suas refeições menos Samuel, e sua mãe quase que em uma rotina diária o censura.
-Samuel coma tudo!
-É que eu já estou cheio.
-Você não tomou o leite e o misto você só comeu o presunto.
-Mãe, prometo que amanhã eu como tudinho – implorava ingenuamente
-O que eu falei sobre prometer o que não pode cumprir?
-Há mãe tem muita comida você sabe que eu e Lucas nem gostamos de comer pela manhã – argumentava o menino
-Não é verdade, eu como tudo. Tá vendo não tem nada no prato – se defendia Lucas
-É mais você passa mal no ônibus, e sempre diz que não deveria ter comido tudo.
-Está certo, podem ir escovar os dentes antes que eu mude de ideia. – como em um relâmpago os dois arrastam suas cadeiras pra trás e correm em direção ao banheiro. Lucas colocava um banquinho para Samuel poder escovar os dentes olhando-se no espelho. Samuel era magro com joelhos ossudos, cabelos castanhos aloirados e olhos dourados igual ao do seu irmão. Lucas ficava ali supervisionando se estava escovando os dentes direito. Depois dos dois escovarem os dentes pegavam suas mochilas no quarto e sua mãe preparava-lhes o lanche para levarem para a escola. Mais ou menos uma vez por semana tio Aroldo tinha que comprar coisas na cidade, e vinha lá de sua fazenda na serra, aproveitava para dar carona aos dois sobrinhos e ver se Sylvia estava precisando de alguma coisa.
-Não sei como sua mãe deixa você ficar com o cabelo desse tamanho isso é desleixo! – sempre falava seu tio Aroldo, ele ainda não havia se acostumado com o visual de seus sobrinhos – E você tem que pentear seu cabelo, não pode ficar assanhado assim!
Os irmãos Benjamins eram os mais diferentes de suas respectivas turmas, Lucas era o único homem de cabelos longos e Samuel era sempre o mais assanhado, o menor não tinha culpa seu cabelo nascia para todos os lados fazendo sempre parecer que estava assanhado. Seu primo Tiago era duas turmas a frente de Lucas, mesmo assim sempre implicava com o garoto chamando-o de menininha e frango, juntava os braços balançando-os em formato de asas e chamando de “PÓ PÓ, Lucas frangote, PÓ PÓ” ficava andando em círculos e fazendo um desempenho onde todos que viam riam – claro menos Lucas e Samuel.
Lucas segurava a mão de Samuel, juntos desciam as escadas e esperava seu tio na calçada do prédio. Um prédio pequeno feito de tijolos vermelhos e com um muro branco havia dois portões que davam direto na avenida, o numero 2180 ficava estampado no muro sem guarita. Nos dias que seu tio não dava carona os dois tinham que atravessar a rua e pegar um ônibus até o terminal, de lá pegava outro até a escola, eles estudavam no Santo Inácio, um colégio de padres franciscanos. Ao longe dava para avistar a caminhoneta vermelha do tio Aroldo, ele vinha com Tiago sentado na frente. Tiago parecia mais com sua mãe Martha do que com o pai Aroldo, só a cor do cabelo herdara do pai e o usava com um topete bem modelado com gel. Tiago era vaidoso e extremamente egocêntrico, gostava de chamar atenção de todos com suas atitudes e sua aparência. Tiago sempre fora grande para sua idade não era nem gordo nem magro com um rosto grande e afilado seus olhos eram da cor esverdeados, era o típico garoto que qualquer adolescente caia de amores, obviamente se ele não fosse tão idiota e sonso. Tia Martha dizia sempre que Tiago era um anjinho – os irmãos Benjamins diziam “Um capeta disfarçado de anjinho”.
Lucas abre a porta e ajuda Samuel entrar no carro.
-Bom dia frango!
-Tiago! Você quer ficar de castigo? – repreende tio Aroldo
-Bom dia – diz Lucas já segurando a roldana que abaixava o vidro, ele sabia que isso iria despentear ou pelo menos incomodar seu primo.
-Levanta essa joça ai, tá assanhando meu cabelo – já dizia tentando levantar a roldana mesmo com Lucas na frente.
-É bom vocês dois pararem antes que eu perca a paciência. – depois da bronca Lucas levantou o vidro e ia encarando Tiago que ficava com um ar de risonho por ter ganhado a disputa. O Caminho é breve até ao colégio. Samuel ia entre os dois, mas sempre calado para não causar nenhum problema. Os dois Benjamins eram bem obediente aos mais velhos, certo que vez ou outra Lucas desobedece alguma ordem mais o normal é ele obedecer.
Ao chegarem Samuel ficava na ala do ensino fundamental, ele fazia a terceira série, existiam quatro turmas da terceira serie, de A á D e uma especial para alunos avançados e mais inteligentes, a turma E, a de Samuel. Lucas e Tiago continuavam, passavam pela cantina e subia uma sequencia de escadas de azulejos azuis, depois de subirem as escadas, para alivio de Lucas, os dois se separavam. Lucas ia para um lado e Tiago para o outro. Lucas fazia a oitava serie, e como seu irmão é mais inteligente que a média, por tanto sua turma era a 8° E, já Tiago nunca gostou muito de estudar e sempre passava se arrastando, sua turma, o segundo ano turma D que era o pesadelo de todos os professores.
-Tenha uma boa aula Mariquinha! – disse Tiago dando umas tapinhas nas costas de Lucas, e saiu segurando o riso. Assim que Lucas entra em sua sala todos começaram a rir dele, era obvio que a atitude de seu primo era incomum e o tinha pegado uma peça novamente, logo ele olha para traz procurando algo pregado em sua camisa, então tira o papel e lê o que tinha escrito “Sou mariquinhas filho de um frango com uma galinha” aquela brincadeira havia passado dos limites, os risos de seus colegas de sala enchiam seu coração de raiva, o que veio a seguir aconteceu tão rápido que ninguém viu como foi: num segundo, todas as janelas trincaram os vidros e os ventiladores param de funcionar, as luzes piscavam freneticamente, os risos cederam para gritos desesperados e as crianças saiam correndo para fora da sala, menos Lucas, todos estavam soltando urros de horror.
Lucas sentou-se quando percebeu que estava só, a sala estava toda quebrada, no fundo sabia que sua raiva havia se manifestado e aquela não era a primeira vez que algo esquisito acontecera com ele. Frequentemente ele enxergava milhares de partículas de luz transparentes dançando no ar, ou ele jurava ter ouvido um passarinho dizer o seu nome e uma lagartixa dizer “que delicia” ao comer um inseto.
O primeiro a chegar foi o coordenador que ficou em estado de choque ao ver tamanha destruição.
-Mas o que aconteceu aqui – ele não parava de repetir – não é possível.
As aulas foram suspensas naquele dia, e Sylvia estava falando com o coordenador pelo telefone, ela não podia pega-los estava no trabalho e não podia sair, para sustentar seus filhos Sylvia começou a trabalhar em um salão de beleza e logo se destacou ganhando muito cliente, ganhara tantos que teve que montar seu próprio salão. Como conhecia os princípios básicos de alquimia suas tinturas eram as mais belas e duradoras que poderiam existir, usava pequenos truques mágicos para estilizar os cabelos das madames, era tão procurada que começaram á vir todos os tipos de pessoas, certa vez ela sem querer errou um composto químico e o usou em um senhor que quase não tinha cabelo no dia seguinte o senhor voltou com uma cabeleira que parecia de um astro de rock, veio somente para agradecer aquele “milagre”. Todos só queriam ser atendidos por Sylvia e por isso ela recebia umas vinte pessoas diariamente, até o homem “cabeludo” vinha periodicamente com medo de seus novos cabelos caírem.
Lucas e Samuel estavam sentados uma ao lado do outro, o papel da brincadeira de Tiago estava sobre a mesa, Tiago entra com o diretor Aldo Cavalcante, um homem com uma voz nasal irritante, magro e com alguns fios pretos no cabelo onde o tom prata predominava.
-Fique aqui com seus primos, vou tentar falar com seu pai para vir busca-los – do lado de fora acena chamando o coordenador.
-Vocês por aqui? O que fazem na sala do diretor?
-Se você não percebeu as aulas foram suspensas – diz Samuel o que era bem obvio fazendo Tiago parecer burro.
-E vocês não fizeram nada? – os dois balançavam a cabeça. Para sorte de Lucas ninguém sabia de seu segredo misterioso ele escondia de todos inclusive de seu irmão e de sua mãe, o diretor pensava que a estrutura do prédio onde a escola funcionava estava comprometida por isso ele suspendeu as aulas para a segurança dos alunos.
-Tiago da próxima vez que... – Lucas é interrompido por Tiago, seu primo vê o papel na mesa do diretor e começa a rir.
-Da próxima vez o quê você vai fazer, ir chorando para sua mãezinha ou vai procurar seu pai? – debocha Tiago – Ah desculpe me esqueci, vocês não tem um pai são filhos de uma chocadeira.
Como da vez anterior tudo aconteceu muito rápido para alguém perceber o que estava acontecendo, um pequeno tremor trinca as paredes, as luzes da sala recebem uma sobrecarga de energia e explode, um peso de papel se atira acertando Tiago na testa que leva as mãos ao rosto ao se curvar de dor. O coordenador e o diretor entram na sala para tirar as crianças, estavam desesperados. Foi uma correria só.
-Corram o prédio vai cair! – dizia Aldo ao fazer sua corrida desesperada para fora do prédio. O coordenador ajudava Tiago que continuava com uma mão na testa, Lucas e Samuel foram andando para fora do prédio.
-Como você fez aquilo? – pergunta Samuel quando os dois estavam caminhando sem a presença de ninguém.
-Fiz o que?
-Eu vi todas aquelas luzes saindo de você – afirma com convicção
Antes que Lucas respondesse o coordenador lembra-se deles e volta sozinho.
-Vamos corram o prédio vai cair! – ele estava apavorado tanto quanto todos era uma confusão geral, muita gente correndo.
Tio Aroldo estava nervoso e suado, estava levando os garotos para casa após Tiago ter sido tratado no hospital não foi um ferimento grave, mas estava com um roxo na testa e havia levado três pontos. Lucas estava arrependido pelo o que aconteceu. Samuel estava empolgado ele nunca havia visto tantos bombeiros entrando e saindo do colégio, o caminhão grande com escadas maiores que o próprio caminhão, as sirenes quase o tinham feito esquecer o que viu na sala do diretor e como toda criança logo que chegaram em casa foi arranjando outra coisa pra fazer com seu irmão, ambos nem tocaram no assunto.
Mais tarde antes de dormir sua mãe recebe um homem todo vestido de preto, parecia um agente secreto dos filmes de espionagem, usando um terno impecável, gravata, calça social e sapatos pretos, somente a blusa de dentro era branca como a neve. Os dois meninos se espremem no corredor para tentar bisbilhotar a conversa dos adultos. As únicas coisas que conseguem ouvir é sobre um tal “protocolo”, e que da próxima vez nem Karavajal poderia ajuda-los.
-Não se preocupe isso não o correrá novamente – se desculpa Sylvia – foi um descuido que não se repetirá.
-Lembre-se de todos os protocolos e os siga se quiserem continuar por aqui.
-Você não gostaria de entrar e tomar uma xicara de café? – diz educadamente
-Não obrigado, tenho muito trabalho a fazer parece que houve uma grande violação de protocolo em uma escola na Aldeota.
-Serio? Que escola foi?
-Me desculpe, mas eu não posso falar.
-Então tá, tenha uma boa noite. – praticamente Sylvia fecha a porta na cara do homem, ela estava tendo um leve pressentimento sobre esse assunto e pressentimentos de antigos oráculos geralmente estão corretos mesmo quando tenham perdido seus poderes divinatórios.
Eles conheciam tão bem sua mãe que sabia quando ela estava brava com alguma coisa, ou melhor, brava com eles. Lucas não entendia o que aquele homem e os protocolos tinham haver com a mudança repentina de humor de sua mãe. Os dois já estavam debaixo dos lençóis quando ela entrou no quarto.
-Lucas e Samuel vocês estão acordados? – pergunta a mãe
Os meninos ficam sentados com cara de que não sabiam do que estava acontecendo.
-Quero que vocês me digam o que realmente aconteceu na escola – os dois se entreolham, Sylvia conhecia muito bem aqueles olhares.
-Qual de vocês vai falar primeiro?
Samuel nunca entregaria seu irmão, e outra ele tinha medo de sua mãe colocar os dois de castigo durante as férias inteiras.
-Falar o que? Acon...te...ceu al...guma coisa – gaguejou Lucas, ele era um péssimo mentiroso e não gostava nem um pouco de mentir.
-Lucas não me faça de besta, seu coordenador me ligou falando que o prédio da escola foi quase todo destruído – aquilo era um verdadeiro exagero e mesmo assim os bombeiros disseram que os acidentes foram causados por um sobrecarga das correntes elétricas causando danos nas estruturas do prédio e que nunca houve um real perigo de desabamento e por tanto a escola iria voltar a seu funcionamento normal, isso foi o que passou na televisão mais cedo antes dos garotos irem para o quarto.
-Mãe você tá falando que eu destruí a escola? – disse Lucas quase chorando como se ela pudesse ver a verdade sobre o que realmente aconteceu. Depois de Sylvia pensar um pouco percebe que era impossível um garoto ter feito um estrago tão grande. Mesmo assim ela se aproxima levanta a blusa do pijama de Lucas e procura alguma marca ou sinal estranha em seu corpo.
-Que é que você tá fazendo mãe! – fica assustado Lucas. Sylvia acaba não achando nenhuma marca ou sinal desconhecida, e solta um suspiro de alivio.
-Eu me assustei – explica – há quanto tempo eu não canto mais para vocês dormirem?
-Dês que Cristopher foi embora – afirma Lucas mesmo sabendo que Cristopher era seu pai, ele se recusa a chama-lo de pai.
-Lembrei! Faz quase cinco anos, Samuel tinha apenas três anos.
-Mãe essa não foi a ultima vez que você cantou pra gente – corrige Samuel – você sempre canta, só que no ultimo mês você anda muito ocupada.
-Não digo dessas canções bestas para crianças dormirem. Eu não gosto dessas! Gostava quando ela cantava musicas de magia de uma terra distante. Gostava daquela que o cavaleiro branco derrotava o cavaleiro negro com sua espada, ou aquela que fala sobre uma terra distante cheios de perigos e magia. Você lembra mãe?
-Não são para crianças! – diz em resposta – Eu gosto, acho-as lindas adoro escuta-las antes de ir dormir me faz sonhar com meu pai.
Samuel sempre sonhava com um homem grande, com uma barba cheia da mesma cor dourado de seus cabelos longos, ele sempre vinha triste dava boa noite beijava-o na testa e ia embora, não era um sonho tão ruim assim já que o sentimento que o garoto sentia quando acordava era bom, Samuel só lembra-se de Cristopher pelas fotos do painel.
-Ah me esqueci que você é criança.
-Lucas Benjamim! Pode parar por ai – fala Sylvia
-Mãe o que aconteceu com o papai? – pergunta Samuel.
-Ele nos abandonou – responde Lucas antes de Sylvia responder – quando mamãe eu e você mais precisamos, ele simplesmente foi trabalhar e não voltou mais!
-Não é bem assim Lucas, ele teve que partir e me prometeu que assim que desse ele voltaria para nos pegar, seu pai nunca quebrou uma promessa e não iria ser dessa vez que quebraria – queria Sylvia acreditar nas suas palavras, ele nunca havia quebrado uma promessa mais essa estava demorando muito para ser cumprida, quase treze anos se passaram e mesmo assim ela ainda acreditava na promessa feita antes de partir de Garia.
-Vocês venceram vou cantar a balada da princesa que se transformou no oraculo de Garia.
Pigarreou para limpar a garganta antes de começar a cantar, essa era a canção que foi feita para ela, essa era um resumo de sua história, Sylvia ouvia-a pela primeira vez na voz do menestrel Bard, na taverna: Canções do Bardo, na época que a ouviu pela primeira vez estava com Cristopher comemorando a aceitação dele na academia dos Justicares do Ocidente e foi uma surpresa total ouvir o resumo de sua vida em uma canção, ela nunca havia esquecido esse dia.
“Ela veio de outro mundo e foi adotada por um rei
Vários duelos aconteceram por sua mão
Mas seu coração não era de ninguém
Ela não sabia o quão adorável ela era
Então eu tive que encontra-la, e dizer eu preciso de você
Foi então que a sombra chegou profundamente
Dois saltos numa semana
Eu aposto como acha que isso é engenhoso, não acha?
Voando alto sem chances de errar
Observando todo chão abaixo desabar
Você se mataria por reconhecimento
Se mataria para nunca, jamais errar
Você quebrou outro espelho
Você está se transformando em algo que não é
Ela só não queria ficar sozinha
Ele só não queria ficar mal
Ele só não queira ficar sozinho
Ela só não queria ficar mal
Ela só queria entender o que estava em suas mãos
E ele caminha ao longo da estrada do amor e da vida
Sobrevivendo se conseguir
Juntos com todos os pesos de todas as palavras que ele não disse
Acorrentado por seu nome em todos os lugares que ele não deseja estar
O sangue do irmão e marido derramado, liberta da prisão
E quando encontra o sol eles não têm sombra
Ela só não queria ficar sozinha
Ele só não queria ficar mal
Ele só não queira ficar sozinho
Ela só não queria ficar mal
Quando contaram os demônios
Vi que havia uma para cada dia
Com os bons nos meus ombros
juntos afastaram os outros
Moscas estão zunindo na minha cabeça
Abutres circulando os mortos
E essa foi a herança da guerra
E com a justiça as sombras recuaram
Sempre digo que tudo tem um preço
O tempo nos dirá quando, nós diremos quanto
E digo que tudo fazia parte de um grande plano”
Antes de Sylvia acabar de cantar, os dois meninos já estavam dormindo e não viram sua mãe chorar, aquela era uma boa e dolorosa lembrança de seu passado e de Cristopher.
Continua...