As cronicas de Luz e Trevas, Lucas Benjamim e o Livro Necronomicon (Prólogo)

PROLOGO

A casa da família Benjamim ficava na Rua Aurora Nascente, N°3, eles não eram uma família normal e todos seus vizinhos sabiam disso especialmente por eles terem orgulho de serem magos dos arcanos e mistérios, e terem frequentado Arcania, a universidade mágica de Garia.

Nessa ocasião uma chuva torrencial despencava do céu negro sem nenhuma estrela, Sylvia disputava com os trovões quem gritava mais alto. Não era atoa que o antigo oráculo o fazia, ela estava dando a luz ao seu primogênito Lucas, as dores de um parto normal são agudas, ela estava suando frio e tendo contrações dolorosas, no quarto, duas parteiras estavam a auxilia-la nessa tarefa árdua.

-Vamos respire – dizia a parteira mais nova – Coloque força dessa vez, vamos lá querida você consegue – então Sylvia fazia bico e acelerava sua respiração.

-No três, um, dois...

-HAAAAAAAAA

A família Benjamim era uma família tradicional nas artes arcanas, sempre tendo dois ou mais talentos em cada geração. Sylvia além de ser uma maga, era uma Précognita do nível máximo que poderia existir, uma espécie de oraculo, tinha o poder de prever o futuro ou pressentir coisas que ainda iria acontecer, ela sabia antes mesmo que já seria um menino e já havia escolhido um nome: Lucas Benjamim. O pai de Lucas, Cristopher é um Justicar do Ocidente, uma espécie de Juiz-Soldado que tinha autorização de usar magias para manter a paz e a justiça em todo o território da Terra Alta, somente graduados em universidades magicas poderiam ser Justicares e mesmo assim deveriam passar pelos testes da academia dos Justicares. Apesar de tudo isso os dois escondiam um segredo terrível, uma traição que nenhum dos dois tinha orgulho.

A traição ocorreu antes mesmo de se tornarem o que são hoje, aqueles eram tempos difíceis e sombrios, onde um senhor terrível liderou uma horda de Mortos-vivos e alguns demônios e tentou invadir a Terra Alta a procura das joias das Almas. Cristopher traiu seu irmão mais velho, roubou sua mulher e assumiu suas responsabilidades de único herdeiro de Springfall. Com a ajuda de sete grupos de Justicares e Califax, Allan, Lina e Karavajal eles conseguem destruir o senhor e expulsar suas hordas. Os Benjamins estremeciam só de pensar o que poderia acontecer se sua traição fosse descoberta, talvez o menor dos problemas seria a vergonha de terem escondidos fatos importantes de seus amigos.

A maioria dos amigos da família dos Benjamins estava ali na sala com Critopher. Allan estava no canto da sala perto da janela por onde olhava a rua vazia, molhada com vários espelhos d’agua no chão que vibravam em inúmeras ondulações a cada pingo que despencava, Califax estava sentado inclinado para frente com os cotovelos apoiados sobre a coxa, suas mãos unidas sustentavam o peso da cabeça, Elizabeth Engels estava tomando maná uma bebida feita pelos anjos, pelo menos é o que diziam, ela estava tranquila e tentava acalmar Cristopher. Os gritos e os trovões faziam o nervosismo aumentar a cada ribombar.

-Eles já deveriam ter chegado! – impacienta Cristopher

-Karavajal sabe o que faz e Meieve está com ele, logo eles chegarão.

-Eles já estão aqui, pode ficar calmo Cristopher – avisa Allan vendo um senhor com um sobretudo branco entrando pelos portões externos da mureta da casa, ele estava acompanhado por uma mulher esguia e de passos ágeis. Sua expressão era severa.

Estavam encharcados quando entraram e receberam as ondas de calor que a lareira da casa produzia, as luzes magicas das lâmpadas iluminavam a sala. Allan e Califax cumprimentam os recém-chegados sem esquecer as etiquetas.

-O que houve? Vocês demoraram a chegar!

-Houve alguns contratempos – fala Karavajal apesar da falta de respeito de Cristopher – Meieve você pode ajudar as parteiras antes que Cristopher tenha um ataque?

-Sim grão Mestre – então a mulher ágil com a pele da cor de uma árvore entra no quarto que Sylvia estava em processo de parto.

-Desculpe Grão mestre minha falta de trato.

-Não precisa se desculpar só não entendo essa sua tristeza.

-Tenho medo... – por um minuto todos na sala ficam em silêncio –...Tenho medo do que ele pode se tornar.

Como em um prenúncio, um choro de um recém-nascido avisava que Lucas havia chegado ao mundo, BUAAAAAAAAA, BUAAAAAAAAA, Meieve abre a porta com um sorriso largo em seu lindo rosto, apesar de está com as mãos sujas de sangue.

-É um lindo menino Cristopher, saudável e normal.

-E Sylvia?

-Está tudo bem com ela também.

Cristopher um pouco mais aliviado entra no quarto, Meieve fecha a porta.

Califax conhecia todas as expressões humanas e inumanas, sabia exatamente o que alguém sentia só em olhar para ela, sabia também que Cristopher estava infeliz e perturbado com algo, via uma expressão dura e desconfiada em Karavajal. Talvez fosse o passado de Cristopher o atormentando, mas Califax sabia que algo estava errado só não sabia o que exatamente.

-Grão mestre, o que está acontecendo? – pergunta Califax

-Os Justicares celestiais estão aqui! Parece que alguns Darkstalkers passaram pela barreira em Endor, mandei o grupo Águia verificar os recentes boatos, e eles ainda não voltaram.

-E o que isso tem haver com Sylvia? – indaga Allan

-Eles querem garantir que o garoto não irá sofrer nenhuma influencia maligna – enquanto Karavajal fala os outros Justicares ouviam atentamente – é por isso que os celestiais estão aqui, querem certificar que Lucas não desenvolva a marca da perdição.

-Qual as chances do corpo do garoto ter sido infectado com magia negra? – pergunta novamente Allan com receio do que poderia ouvir depois

-Uma boa chance Allan. Devemos manter os olhos no garoto até ele despertar sua essência mágica – disse o grão mestre, preferindo nitidamente essa alternativa.

-Não Karavajal! Devemos fazer da forma como os celestiais querem é mais seguro para eles e para nós. – dizia a única que poderia contestar Karavajal como igual, apesar de Karavajal não se importar com as hierarquias, Elizabeth Engels talvez fosse mais velha que o grão mestre e mais nova do que uma mulher de trinta anos, pelo menos na aparência. Ela havia recusado o atual cargo de grão mestre da ordem dos Justicares do Ocidente antes de Karavajal aceita-lo.

-Ela tem razão grão mestre – concordava Meieve.

O choro no quarto estava diminuindo de intensidade, Sylvia estava muito feliz para perceber que sua vida e a do seu filho estavam sendo decididas ali em sua sala por seus amigos.

-Karavajal você sabe que na Terra Média magia é estritamente proibida, lá o garoto nunca iria desenvolver o despertar mágico – a voz melodiosa de Engels parecia sabedoria aos ouvidos do grão mestre – além do mais todo o poder divinatório dela foi perdido com a gravidez, Sylvia não é mais um oráculo, e ela sabe sobre as restrições e consequências de fazer magias no outro mundo. Lá a Nova Ordem Mundial e seus paladinos sempre estarão vigiando-os por nós, é mais seguro do que deixa-los aqui.

-A senhora já sabia o que seus primos queriam? – Allan pergunta como se para ele aquilo fosse uma novidade.

-Sim, Allan. Eu me reuni com alguns celestiais para tratar sobre o assunto, não sabemos ao certo o que pode acontecer com o garoto e se o despertar iria realmente trazer a marca, porém é melhor tratar da doença ainda quando está no início – fala Engels.

Apesar da aparência de pouca idade todos tinham um respeito enorme com a meio-celestial, o seu ar sábio e seus olhos radiantes violetas eram atordoantes, sua face parecia ser esculpida por algum gênio da arte, alguns diziam que meios-celestiais nasciam com asas, a verdade é que ninguém sabia ao certo sobre esses híbridos de anjos com os homens, existem tantos boatos que poderia tentar escreve-los todos neste livro e mesmo assim não preencheria todos

-A Senhora esteve com eles e não falou nada pra nós? – comenta Meieve, espantada pelo que acabara de ouvir, ela realmente não esperava que Elizabeth Engels estivesse a frente desse plano, já que ela havia sido a professora de Sylvia em Arcania.

-Não havia necessidade, eles são de uma instância superior a nossa. A ordem dos Justicares Celestes não precisam se reportar a ninguém e a nenhuma ordem que não venha de Kether.

-Apesar de não concordar com essa decisão – o grão mestre faz uma breve pausa – Será exatamente isso que será feito – fala Karavajal sombrio como a própria noite. Aquela não era uma noite normal, estava mais escuro e frio, sem um ponto luminoso no céu e ventos de cortar a alma, de vez em quando um trovão iluminava os inúmeros espelhos d’águas que se formaram nas ruas e calçadas, as chaminés trabalham arduamente para atrair o calor para dentro das casas espantando o frio enregelante – Allan providencie com a Nova Ordem Mundial as documentações necessárias de Sylvia, Cristopher e Lucas para a permanência deles na Terra Média, Califax pegue uma permissão e procure algum rastro consanguíneo de Sylvia para traçar um plano de vida para a família Benjamim – o grão mestre para por um momento antes de terminar – Angels consiga três meses com seus primos, esse é o tempo mínimo para conseguirmos realizar uma reinserção completa e sem danos a Sylvia e Cristopher.

-Verei o que posso fazer Karavajal.

Cristopher sai com um bebê todo embrulhado em seus braços, o recém-nascido estava dormindo o sono dos justos, a criança não se preocupou com o barulho a sua volta, suas bochechas rosadas procurava institivamente o calor do corpo de seu pai.

-Venha aqui Allan! Venha segurar seu afilhado – disse Cristopher passando aquele pequeno e frágil embrulho.

-Ele não é fofo Padrinho! – dizia Meieve com entonações de afago em sua voz.

Todos na sala pegaram e fizeram algum carinho em Lucas, Karavajal foi o único que se recusou a pegar o menino nos braços, toda vez que ficava preocupado ele começava a divagar em seus pensamentos, nem Califax sendo um dos maiores Mentalistas seria capaz de entrar na mente do Grão Mestre e conseguir tirar proveito de alguma informação útil naquela tempestade de pensamentos, ele pensava tantas coisas ao mesmo tempo e de uma forma tão rápida e profunda que nem cem pessoas conseguiriam acompanhar seu raciocínio. Uma única coisa estava clara para Karavajal, ele deveria manter a família Benjamim sobre vigilância apesar dos Paladinos policiarem o outro mundo. O grão mestre sabia que Lucas seria o alvo dos Darkstalkers, uma grande sombra estava se erguendo a leste de Garia, os celestiais sabiam disso, e é claro que Karavajal também.

Quando Sylvia acordou na segunda-feira estava ansiosa para ver seu filho, em vez disso vê um velho sentado em uma cadeira ao lado de sua cama, a idade de Karavajal era um mistério, mas sua aparência não era a de um simples ancião, apesar de seus cabelos prateados longos que usa todo pra trás amarrando em um estilo moderno, suas costeletas eram compridas, seus olhos azuis claros tinham um olhar cintilante e profundo como se pudesse ver o interior das pessoas, seu robe branco, longo e pesado tem runas vermelhas na parte de trás, ainda usava o casaco imponente dos Justicares por baixo, suas botas cano longo com fivelas e salto o deixavam ainda mais imponente. Onde está Cristopher? Pensa Sylvia ao ver que seu marido não estava na cama, apesar da pergunta não era novidade isso acontecer nos últimos meses.

-Bom dia Karavajal! A que devo essa honra tão cedo da manhã? – mesmo aturdida Sylvia sabia como se comportar, ela sabia que ele não deveria está ali tão cedo se isso realmente não fosse importante.

-Bom dia Sylvia. Vim ver como vocês estão, onde está Cristopher?

-É uma boa pergunta! – brinca com a situação Sylvia. Antes da conversa continuar, um choro desesperado de fome vem lentamente se aproximando da porta que estava aberta, o quarto era bem amplo com uma varanda grande que dava para o jardim. “Não chora pequenino mestre, Irish levar pequenino mestre para a Mestra” repetia isso desesperadamente uma criaturinha, ela estava fazendo um esforço enorme para manter Lucas nos braços. Essa criaturinha é um familiar, o familiar de Sylvia. Um familiar geralmente é uma criatura mágica ou algum animal ligado a um senhor que cede energia em troca de servidão. O familiar de Sylvia era um Leprechau chamado Irish, Leprechaus são pequenos do tamanho de uma perna de um humano adulto e são bem carismáticos, Irish usa uma cartola verde, alguns tufos de cabelos vermelhos saiam da cartola de uma orelha á outra, usava botas longas pretas e um cinto com uma enorme fivela ornamentada em ouro.

-Irish! O que você está tentando fazer?

-Irish levar o pequeno mestre choroso para a mestra fazer o pequeno mestre parar de chorar – diz Irish entregando Lucas a sua mãe, Karavajal abre um pequeno sorriso ao ver a tamanha presteza do pequenino familiar. Ao se aninhar nos braços de Sylvia o menino parecia saber que ali, só pelo calor da pele e do perfume de alfazema era sua mãe que o segurava. Lucas procura institivamente em um ato reflexo o seio de sua mãe, como se fosse um passe de mágica o recém-nascido para de chorar.

-Me parece que você tem um excelente familiar Sylvia

-Irish é mais que um mero familiar grão mestre. Ele é como se fosse da família, eu e Cristopher o temos como um sobrinho – o Leprechau estava muito orgulhoso do que acabara de ouvir, obvio que aquele sentimento era reciproco, mestre melhor que Sylvia era difícil de achar, a maioria dos mestres tratam seus familiares como um animal de estimação, como em uma relação de simbiose.

-Irish as suas ordens! – o pequenino faz uma reverencia o que faz Sylvia e Karavajal rirem silenciosamente.

-Vejo que você fez um excelente trabalho com seu familiar, ele lhe serve com um enorme prazer e amor – fala o ancião – Obrigado pelos seus serviços caro Leprechau, mas se quer realmente ajudar procure o mestre Cristopher e fale que eu gostaria de vê-lo – quando o grão mestre acaba de falar, Irish olha para sua ama esperando algum sinal, um pequeno menear positivo com sua cabeça aprovava as ordens.

-Se permitem Irish, Irish ir – então o pequenino retira sua cartola deixando a mostra sua enorme careca, o pequenino era tão calvo que só tinha tufos de cabelos na parte inferior de sua cabeça.

-Kazdabra! – fala o pequenino. Então “Zaapt” sua cartola o suga para dentro e depois desaparece.

-Então grão mestre, como andam os preparativos para a viagem? – Karavajal pega em seu sobretudo as documentações.

-Aqui são as documentações de permanência exigidas pela Nova Ordem Mundial – entrega os documentos e já pega outros – Esses outros são as identidades e registros que usam para identificar os adormecidos no outro mundo. Tudo já está preparado, dentro de uma semana sua irmã adormecida irá recebê-los.

-Irmã?

-Sua mãe teve vocês duas com um adormecido chamado Bruno, antes de se casar com o senhor de Defereal. Você não deveria ter mais idade do que seu filho tem agora quando isso ocorreu então antes de fazer a travessia ela deixou sua irmã, Martha, com seu pai no outro mundo.

-Karavajal, eu não quero ir! Aqui é o meu lugar – diz Sylvia balançando Lucas em seus braços

-Será mais seguro para você e seu filho

-Grão mestre eu me sinto mais segura aqui ao lado de meus amigos – então Sylvia fraqueja, seus olhos enchem de lagrimas. Karavajal sabe que aquela atitude não era normal, Sylvia sempre fora forte.

-O que houve?

-Eu tenho medo – as lagrimas quentes escorrem pelo seu rosto rosado – sinto que se eu for algo terrível irá acontecer... – então Cristopher e Irish entram na sala e cumprimenta o grão mestre, ele olha para sua mulher e vê seus olhos verdes cheios de tristeza. Sylvia enxuga suas lagrimas e muda completamente de expressão ao ver Cristopher.

-O que está acontecendo aqui? Por que minha mulher está chorando? – “BUAAA” “BUAAA” Lucas começa a chorar logo após Cristopher estourar, ele olha para Karavajal esperando alguma resposta, antes que o grão mestre responda seu coração bate mais forte e seu sentimento de proteção passa a ser o de raiva, ele começou a suspeitar que Sylvia houvesse o traído e lhe entregado contando seu segredo para o ancião.

-Preste atenção com quem você está falando Cristopher! – levanta a voz Karavajal, ele parece crescer e ficar aterrorizador – Eu não sou qualquer um, sou um amigo – então volta a ficar sublime e calmo novamente. Cristopher rapidamente muda seu humor e percebe que realmente estava fora de controle, então se ajoelha e pede perdão ao grão mestre.

-Não é a mim que você deve pedir desculpas caro Cristopher – então o justicar repara que Sylvia estava assustada e Lucas chorando. Algo errado está acontecendo com ele, dês do incidente com o necromante ele têm se sentido cansado e abatido. Nem mesmo a chegada de seu filho pode trazer felicidade e tranquilidade para seu coração.

-Me desculpe meu amor, eu não tive a intenção.

Apesar de saber que havia algo errado ali, Karavjal não tinha como saber o que era.

-O que está acontecendo com você Cristopher?

-Eu não sei Grão mestre – responde arrependido e agora era a vez dele romper em lagrimas. Sylvia entrega Lucas para Irish e o envolve em seus braços. Dês que seu filho nasceu Cristopher tem tido pesadelos horríveis. Tão horrível que se quer contou para sua mulher, todas as noites ele sonhava que Sylvia morria e era culpa de Lucas.

-Sylvia prepare as suas coisas e de Lucas. Vocês dois devem partir agora

-E Cristopher? – pergunta Sylvia

-Ele deve ficar. Por enquanto ele irá visita-la todo mês – o ancião fala de uma forma misteriosa e com um olhar de suspeita

-Irish vá pegar as coisas de Lucas – pede Sylvia. O leprechau sai agilmente pela porta levando a criança.

-Você sabe que Irish não poderá ir também né? – lembra o grão mestre

-É... eu sei – as palavras quase não saem engasgadas em sua garganta. Sylvia sabia que teria que ser forte como sempre havia sido. Só que dessa vez era diferente, ela agora tinha um filho para cuidar e acabara de saber que o teria que fazer sozinha sem ajuda de seu marido e do seu querido familiar.

A lua ia alta no céu acompanhada por inúmeras estrelas. O meio de transporte na Terra alta era um tipo de carro movido a energia mágica, uma espécie de carruagem sem cavalos, algumas lembravam até os carros da década de 20 do nosso mundo, os menos afortunados andavam de carroças ou tinham uma mula, era comum também ver nobres usando animais mágicos e exóticos como montaria. Sylvia ia sentada na parte traseira da carruagem “mágica”, observava pela janela as ruas vazias, tendo um ou duas pessoas que não estavam em suas casas. Cristopher ia ao seu lado segurando sua mão macia.

-Não se preocupe meu amor – Sylvia olha os olhos dourados de seu amado – Você sabe que eu te amo né? – a ultima precógnita de Garia olhava para seu amado com uma cumplicidade que nem precisou responder para o Justicar se sentir amado. Sylvia era ruiva com cabelos cacheados nas pontas, tinha um rosto delicado com um nariz afilado, seus olhos verdes esmeralda realçava sua beleza. Então a carruagem para. O coração dos dois estava apertado e por mais que Sylvia tentasse segurar, lá estavam novamente suas lágrimas quentes escorrendo pelo seu lindo rosto, Cristopher com sua mão envolvendo a face direita de sua amada, enxuga carinhosamente o resultado de suas lamurias.

–Eu prometo que irei te buscar. Você e Lucas são as coisas mais importantes pra mim, nada pode nos separar – a porta da carruagem é aberta por Karavajal. Antes de descer com o bebê, Cristopher dá um beijo na testa de seu primogênito, “Meu filho, nunca desista de seus sonhos” diz para Lucas em um baixo tom. O garoto não estava nem ai, no fundo sabia que aquele homem era o seu pai e por isso estava risonho e tentava, mesmo que desajeitadamente pegar o rosto daquele homem. Aquilo roubou um meio sorriso do duro justicar.

-Vamos Sylvia não temos muito tempo – lembra o ancião do lado de fora, ao seu lado estava o prontamente e cheios de bagagens na mão, Irish. Ele tinha bagagens em todo canto de seu corpo, ele era o mais entusiasmado para fazer essa viajem, ele nunca havia conhecido outro canto que não fosse Garia e a cidade dos Arco-íris. O Leprechau estava vestido com um casaco verde por cima de um colete amarelo, seu lenço amarelo da sorte estava pendurado em seu bolso do casaco.

-irish já está preparado! Pronto para fazer a travessia! – respondeu prontamente. O familiar de Sylvia não sabia que não iria junto, a precógnita estava aguardando o momento certo para dizer, só que ainda não teve coragem para falar sobre o assunto. Sylvia desce da carruagem, repara na empolgação do seu querido familiar, e depois consegue achar forças no rosto austero do grão mestre.

-Irish! Eu te libero de todas suas obrigações para comigo, Eu... – Sylvia sabia que aquilo devia ser feito, no outro mundo criaturas mágicas não são aceitas – ...Sylvia Benjamim de Defereal o liberto dos serviços de familiar – essas poderiam ser simples palavras se não fosse pelo brilho mágico e o efeito que teve sobre o pequenino, parecia que um grande peso invisível foi retirado de suas costas, as suas duas pulseiras com o símbolo em alto-relevo da casa dos Benjamins, um urso negro, abrem-se e caem no chão fazendo um som agudo de metal caindo.

-NÃO! Irish não querer ser Libertado! Irish fez alguma coisa de errado! – o Leprechau chorava desesperado ele amava servir, ele se ajoelha e pega as pulseiras tentando coloca-las novamente.

-Não adianta Irish, ela te libertou agora você é um ser livre dono de suas próprias vontades – explicava Karavajal

-Irish não querer ser livre, Irish ter vontade de continuar sendo familiar de Mestra! – ele estava soluçando de tanto chorar – Por favor, mestra leve Irish com você, Irish ser bonzinho. O que será de Irish sem a ama? – apesar de ser triste Sylvia sabia que aquela era a coisa certa a se fazer e só foi por isso que ela não voltou atrás.

-Tome conta dele Karavajal, ele é um bom Leprechau – então ela pega uma única mala que Irish carregava, o pequenino segura a mala forte, e para de chorar.

-Então minha mestra, deixe Irish a servir pelo menos uma ultima vez? – disse delicadamente. Sylvia larga a mala e segura a sua emoção.

-Você sempre será mais que um serviçal Irish. Claro, se esse é seu desejo você pode continuar a me servir, mas não como familiar. E sim como um verdadeiro amigo. – falou Sylvia depois de conseguir forças para as palavras atravessarem sua garganta apertada por tantas emoções. Critopher já havia saído da carruagem, dá um longo abraço em Sylvia e Lucas. Antes de voltar para a carruagem O justicar dá um longo beijo demorado em seus lábios vermelhos. Irish pegou quase todas as malas de sua antiga ama e seu filho, o pequenino empilhou o máximo de bagagens que conseguia, curvava-se para trás como uma forma de distribuir melhor o peso para o seu corpo, Sylvia sabia que essa seria a parte mais difícil, mesmo assim deu as costas para seu marido e andou com passos determinados em direção a estação da Lua. Karavajal estava ao seu lado e a acompanhava, deveria ser tarde da noite, quase ninguém estava nas ruas, irish estava parado esperando Sylvia chegar.

-Pronto Irish, daqui em diante eu mesmo levarei – disse Karavajal para o ex-familiar. Irish entrega as malas, o pequenino estava choroso não conseguia olhar para outro canto que não fosse o chão.

-Mestra, Irish desejar uma boa sorte.

Sylvia se ajoelha – Olha pra mim - levanta o rosto do Leprechau delicadamente com sua mão – Erga a cabeça meu amigo, nunca deixe a tristeza te abater, olhe sempre pra frente e se cuida para poder ver Lucas crescer. – então essas foram as ultimas palavras de Sylvia antes de entrar na estação. A estação estava vazia, sua arquitetura era excepcionalmente diferente de toda Garia, ela era a única que se parecia com a estética de nosso mundo. O chão era todo de granito cinza com alguns símbolos no chão, existiam placas avisando as plataformas que levavam as pontes da lua.

-Plataforma 7 – fala Karavajal verificando mais uma vez a cópia do bilhete. Um homem com um terno preto recebem os dois.

-Boa noite. Poderia ajuda-los em alguma coisa?

-Sim, estamos procurando a plataforma 7.

-Você deve ser Karavajal o grão mestre dos justicares do ocidente e ela deve ser Sylvia o antigo oráculo.

-Sim – responde o ancião

-Ela já sabe de todos os protocolos?

-Sim, ela já está informada.

-Mas por via das duvidas sempre é ...

-Se não me engano a ponte será aberta em alguns minutos e só ficará alguns segundos ativa, então se não se incomoda vamos pular esse protocolo – Karavajal interrompia o homem – Chame seu superior que eu me resolvo com ele.

-Eu poderia ver as documentações? – o homem de preto verifica as documentações entregas por Sylvia – Me acompanhem, por favor.

Sylvia nunca havia entrado na estação e por isso nunca havia percebido como era grande, painéis com histórias de batalhas entre criaturas mitológicas e homens, várias escadas que davam acesso ao segundo andar, muitas portas que levavam para plataformas diferentes e é uma dessas portas que o homem leva Kravajal e Sylvia, ao entrarem Sylvia consegue ver um grande túnel, ele deveria ter pelo menos uns sete metros de altura, com uns três de profundidade, três runas brancas estavam logo na entrada do túnel, um deles fica em cima e centralizado da passagem e os outros dois mais embaixo, mas de lados opostos faziam uma espécie de triângulo. Outro homem todo vestido de preto estava esperando-os.

-Boa noite. Poderia ver os bilhetes e os documentos, por favor? – esse segundo homem parecia ser mais velho que o outro, tinha uma pele mais escura da cor de bronze. Depois de verificar os documentos e receber o bilhete o homem diz que já está na hora, o alinhamento estava perfeito. Uma luz prateada acende a runa da esquerda, logo a da direita estava emitindo a mesma luz. Fazendo um gesto e entoando palavras mágicas o homem de preto que estava na frente do túnel faz com que a ultima runa acenda, um clarão vindo do fim do túnel cegou Sylvia, assim que volta a enxergar ela percebe que agora no final do túnel tinha uma espécie de um túnel menor, esse parecia ter sido pintado já que suas bordas eram irregulares e tremulantes, dessa imagem quase que liquefeita ruídos brotavam.

-A ponte está aberta! – grita o homem de preto tentando superar os ruídos produzidos pelo portal.

-Sua irmã está a sua espera – encoraja Karavajal – não tenha medo eu estarei olhando por vocês

-O que estão esperando! A dobra não ficará ativa por muito tempo! –alerta o homem da cor de bronze.

-Grão mestre, cuide de Cristopher e Irish. Diga para Cristopher que esperarei até que ele cumpra sua promessa.

Então ela começa a fazer a caminhada mais difícil de sua vida, á passos vagarosos, porém determinados Sylvia chega á trinta centímetros do portal que a suga instantaneamente para dentro do túnel menor. Ao chegar do outro lado do portal ela percebe que o pequeno túnel dava em uma porta, assim que o portal se fecha a porta acende uma luz verde e abre automaticamente. Essa porta dava em uma sala onde deveria ter umas dez pessoas pegando suas malas em uma esteira rolante, algumas pegavam as malas colocavam em carrinhos e iam em direção aos vidros escuros, quando chegava perto, as portas que também eram de vidro abriam-se uma para um lado e a outra para o outro. Sylvia percebe que seu filho estava dormindo confortavelmente em seus braços. Outro homem de preto com óculos escuros dava as boas vindas, e logo ela recebeu a ajuda de um rapaz que estava vestido com uma farda azul e branca e tinha seu nome escrito no crachá, esse jovem foi bem prestativo pegando as malas e colocando no carrinho, assim ela prosseguiu.

Ao atravessar a porta percebeu que havia pessoas ansiosas e felizes aguardando do outro lado, foi então que percebeu que um homem robusto de meia idade com um espesso bigode, estava vestido com roupas coloridas e segurava uma placa com um: “Sylvia Benjamim” escrita a mão com uma caneta atômica da cor vermelha. Ao seu lado uma mulher de olhos verdes e cabelos loiros cacheados nas pontas segurava uma criança que não passaria dos três anos de idade, ela estava dormindo em seus braços com a cabeça no ombro, Sylvia tinha a certeza que aquela era sua irmã não restava dúvidas.

-Meu Deus Martha! Ela é a sua cara – disse o homem quando Sylvia chegou perto do casal.

-Oi, acho que você deve ser Martha minha irmã – diz Sylvia.

-Pensava que você viria com seu marido?

-Ele teve que ficar por causa de uns problemas no trabalho – o homem de bigode pega o carrinho. Eles começam a sair daquele amplo salão cheio de cadeiras conjuntas da cor azul, vários quiosques com luzes e nomes de suas empresas brilhavam com a luz de suas propagandas, o chão era o mesmo granito cinza da estação de Garia. Sylvia não conseguia ver utilidade para tantas escadas juntas com o mesmo objetivo, uma bem ampla e imóvel, e duas rolantes, uma descia e a outra subia. Ela se assustou com a voz que ecoava em todo aquele amplo salão “Dim, Dom” “O voo 713 da TAM acaba de chegar” “Dim, Dom”. A recém-chegada pensava que tudo aquilo era um tipo de mágica que usava um estilo diferente do que ela conhecia, Martha sentiu um pouco de pena ao ver sua irmã mais nova impressionada daquela forma, ela devia ser algum tipo de matuta, agora ela reparava melhor nas roupas antiquadas que ela estava vestindo, pareciam saídas de um filme de Hollyhood da década de 20, eram bonitas mais ultrapassadas.

-Aroldo amanhã, temos que sair para fazer compras urgentes! – fala Martha se referindo a sua irmã caçula

Sylvia não sabia quanto tempo passaria com sua irmã, tão pouco quando voltaria a ver o amor de sua vida. Ela estava ali com seu único filho sem saber qual seria seu destino. E foi assim que a família Benjamim veio parar em nosso mundo, ela não tinha noção que Cristopher a visitaria periodicamente pelo menos uma vez durante o mês e nem que teria outro filho com ele depois de cinco anos. A verdade é que sua irmã sempre o ajudou muito e as duas se amavam mesmo que tardiamente.

Continua...

RBDiogo
Enviado por RBDiogo em 08/12/2012
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