S & M Mistérios - Capitulo 1
Swel
A avenida estava quase deserta a não ser por alguns carros irremediavelmente estacionados e esquecidos ali por todo o dia. Por alguns velhinhos sentados no banco da praça. Alguns garis nos seus bucólicos afazeres, lutando contra o vento no intuito de juntar as folhas, enquanto este as espalha, com uma rústica vassoura de galhos e folhas.
O comércio anda devagar.
O único animado era Swel. Ainda não havia iniciado o seu trabalho tão sonhado nem havia solucionado nenhum caso, mas estava confiante de que qualquer hora aquele telefone ia tocar.
O seu escritório era uma das salas da humilde casa que havia locado. Ficara fechada por três anos desde que sua última moradora fora levada para um lar de velhinhos.
Estava rudemente adornada. Os apelos de Letícia, a moça da cantina, para que enfeitasse a sua casa com flores, não foi literalmente ouvido, já que Swel havia comprado um único vaso de planta. Que por sinal já estava murcha.
A claridade, vindo de uma única janela na lateral era mórbida.
O resto da casa não tinha móveis.
Swel pensou em uma biblioteca, uma secretária, um assistente, um laboratório, enfim, mas não havia verba ainda. E o seu primeiro caso dependia de uma ligação.
- Trimmm!
- S & M Mistérios, posso ajudar? – foi sua primeira abordagem de um possível cliente.
- Quero marcar uma hora, por favor.
Foi às duas da tarde do outro dia que uma mulher corpulenta compareceu a consulta agendada.
- Por favor, senhora. Sente-se!
Uma poltrona de couro fora arranjada.
Swel providenciou um café médio, com açúcar. Enquanto se servia ela explicou o caso.
- Meu marido faleceu há alguns anos. Teve um infarto, foi o que o médico disse. Mas desse dia pra cá, oh...! – a mulher começa a soluçar. Ameaça entrar em prantos – Vamos, acalme senhora Margot – Swel tenta anima-la. – Conte-me o que aconteceu.
- Oh! Doutor. Posso chama-lo assim, né? – Swel acena que sim – estou envergonhada, posso estar ficando maluca. Meu marido dizia que era sensitivo e que via coisas. Eu nunca acreditei nisso, só que depois que ele morreu, penso ter visto coisas, fantasmas.
- É natural que esteja com medo, senhora. – Swel oferece uma água para a mulher. – Veio ao lugar certo. Tudo será investigado. Se há um mistério será solucionado.
Depois das despedidas formais e de pegar os dados da cliente, Swel, munido de capa e chapéu a la Sherlock Holmes ou a la Poirot, deixa seu escritório e caminha até uma Lan house próxima. Ainda não haviam instalado internet no seu escritório.
Swel acessou um site de pesquisas. Buscava informações sobre o caso. Durante a sua sessão de uso precisou pedir informação ao rapaz da Lan por duas vezes. Ao se despedir o rapaz lhe chama a atenção.
- Você não é o Doutor Mistério?
- Senhor Swel de Marco. – respondeu num tom ríspido.
- Calma, não quis ofendê-lo – responde o rapaz, sorrindo – Acabo de pedir demissão. Só gostaria de saber se não está precisando de um assistente? Percebi que tem um pouquinho de dificuldade com... – o rapaz reluta em dizer – e eu sou bom em mistérios?
- Como é seu nome? – foi a resposta.
- Marcel.
- Não se importa de começar não recebendo?
- Como assim? Eu não vou trabalhar de graça.
- Estou no primeiro caso. Não posso te dar garantias. Se quiser começa amanhã e só vou pagar se solucionarmos esse caso e a cliente sair satisfeita.
- Trato feito! – ele sorriu novamente. – te vejo amanhã.
O rapaz deu meia-volta e pegou sua bicicleta. Antes de sair fez um aceno para o dono da Lan pela porta de vidro. Quando o seu ex-patrão o viu ele fez um sinal de “banana”.
Antes que o rapaz tomasse distância pela calçada Swel lhe deu uma última recomendação.
- Venha vestido a caráter.
Pela manhã Marcel encontrou o portão aberto, porém a porta estava fechada. Encostou sua bicicleta na parede lateral e esmurrou a janela.
- Doutor!
Ele acaba de ser acordado.
- Bom dia Marcel! Quero que faça um café.
- Peraí – espanta-se Marcel – Não temos uma secretária?
- Por enquanto somos nós dois, caro Watson. – disse o doutor – Lembra-se da verba?
- Temos internet pelo menos?
- Também não.
- Ah meu Deus!