Elena e a Borboleta

A menina chorava, sentada no tronco caído. Escondia o rosto com as mãos, por simples força do hábito. Pois pensava que não havia ninguém ali para vê-la, chorando como estava.

Mas ela logo descobriu que estava muito errada nesta suposição.

- Menina, ei, menina. - Disse uma vozinha fina próxima ao seu ouvido.

A menina levou um susto, empertigou-se, enxugou rapidamente as lágrimas com as costas das mãos, e buscou com seus grandes olhos castanhos o dono daquela voz esquisita.

- Quem está aí? - Perguntou enquanto olhava para todos os lados.

Era um pequeno bosque, o lugar onde estava. Era o que ela chamava de Meu Lugar. E era para lá que ela ia quando estava triste, várias vezes, ou quando estava feliz, algumas vezes. Sempre que tinha um sentimento que precisava ser compartilhado, era ali que ela ia expressá-lo, ainda que só houvesse ela e a natureza no bosque. No Meu Lugar ela via esse sentimento fluir, alcançar as árvores, a grama, os cogumelos, os pássaros e, quando era muito forte o sentimento, até as nuvens e as estrelas no céu.

Tinha por volta dos 12 anos; época em que a vida dava sinais de que não era tão simples quanto ela achava que fosse até ali. Tinha pensamentos, esperanças, medos e tristezas que precisavam ser divididos, compreendidos, mas seus pais trabalhavam o dia inteiro, e discutiam entre si quando chegavam cansados e estressados do trabalho. Achava difícil por em palavras o que sentia, e as vezes que tentara fora repreendida por sua mãe que estava esgotada, e ainda ocupada, e não deveria ser incomodada com assuntos banais de pré-adolescentes.

Mas quanto mais sozinha ela estava, menos se sentia preza, sufocada dentro de si, naquele lugar. Era ali que seu coração cantava e sua imaginação corria. Mesmo nos dias tristes, o Meu Lugar tinha este efeito confortante.

Cada pedacinho dele, incluindo a velha corda, que antes fora um balanço, pendurada na Grande Árvore, onde ela brincara na primeira infância, parecia ouvir o seu pranto, e compreendê-la. O Meu Lugar não a julgava nem acusava, só a ouvia e deixava o sentimento fluir. Falava a mesma língua de seu coração, e isso fazia seu sofrimento espalhar-se, deslizar por cada folha, cada ramo do bosque, até que de tão esticado, desaparecia como um líquido numa superfície espessa. Com a alegria era diferente: parecia multiplicá-la, como vários espelhos refletindo um mesmo feixe de luz.

Mas nunca houvera voz ali. Aliás, o silêncio sempre fora um dos fatores que tornavam o lugar tão agradável para ela. Quem estava falando agora?

- Oi? - Disse a menina. - Quem é você? Onde você está?

- Bem aqui, no seu ombro. - Respondeu a vozinha.

- Aaaaaai! - Gritou a menina, levantando-se, sacudindo-se e batendo os ombros.

- Não se assuste, não a farei mal.

- Você é o quê?

- Eu não sei. Você sabe o que você é?

- Claro que sim, todo mundo sabe quem é! Eu sou uma menina! - Disse, e agora ela podia ver com quem estava falando. Era uma borboleta, que voou de seu ombro antes de ser atingida e pousou no galho de uma Aceroleira. Era laranja como um sol de verão.

- Você é uma borboleta!? - Exclamou a menina.

- Não, querida. Não “sou”, só estou.

- Está?

- Isso mesmo. Já estive larva, já estive lagarta, já estive pupa, e hoje – sobrevoou e, com um sorriso, pousou mais próximo da menina – veja, estou borboleta!

- Tá, mas o que é pupa? - Perguntou a menina, cerrando os olhos.

- É um lugar onde ficamos sozinhas, apenas com os nossos sonhos e esperanças, até que eles se transformem em asas.

- Ah, um casulo, mas como assim? Quer dizer que asas de borboleta são sonhos?

- De certa forma, sim. Não sabia? Acha, se me permite a falta de modéstia, que elas são bonitas assim, à toa? - Disse a borboleta balançando suas asinhas laranjas.

- Mas você é um inseto, e isso quer dizer que você não fala, só fica por aí voando... você não sonha, não pode sonhar.

- Então, eu não sou um inseto, porque eu falo, como você pode ver. - Disse a borboleta com um sorriso no rosto. - De qualquer forma, por que isso é tão importante? Eu estou aqui, não estou? E estou falando...

- É... é... é... mas... então... o que você é?

- Já disse que não sei. Sei o que eu estava, imagino e sonho com o que estarei, mas nunca sei o que sou – sei mais ou menos o que estou. A verdade é que não consigo ver-me bem no agora, só quando já passou, só quando já passei. Entendeu?

A menina se achava inteligente e não queria passar uma mal impressão para aquela borboleta que acabara de conhecer, logo, embora estivesse confusa, disse:

- Claro que sim, todo mundo sabe disso.

- Que bom! Essa é mesmo uma boa época, se o que diz é verdade.

- É claro que é!

- Mas mesmo em épocas boas ainda encontramos motivos para ficar triste, não é mesmo, menina?

- Meu nome é Elena, e eu não estou triste, só estou – suspirou e se sentou cruzando os braços – sozinha.

- Estava, agora não está mais, porque eu estou aqui, e estou com você.

- Mas você é uma só borboleta...

- E você é “só” uma menina, mas eu aceito sua amizade mesmo assim.

- Como? Eu não lhe ofereci minha amizade, coisa nenhuma, não posso ser amiga de uma borboleta... uma borboleta falante ainda por cima... vão dizer que eu sou maluca! Nunca vou contar isso a ninguém!

- Quem vai dizer?

- Dizer o quê?

- Que você é maluca...

- Todo mundo, oras!

- Mas você não estava sozinha? Quem é esse todo mundo que surgiu agora?

- Bem... eu não sou exatamente sozinha... eu só... só...

- Não entendo, Elena.

- Eu me SINTO sozinha, eu não VIVO sozinha! Entendeu?

- Não mesmo. Parece muito confuso para mim.

- Deve ser porque você é só uma borboleta, você não sabe o que é ser uma menina...

- De fato, eu não sei. Como saberia? Eu não sei nem quem estou neste momento, como saberia como é ser você? Mas muito me espanta o fato que você me revela: o dos humanos serem capazes de saber quem são e, além disso, saberem como os outros se sentem...

- Eles não sabem! - Gritou Elena – Se soubessem...! - Parou de falar como quem segura as lágrimas, e continuou, falando mais baixo - eles não sabem... não sabem como eu me sinto, por isso eu venho para cá, para este lugar onde não tem ninguém... ninguém para não saber.

- Mas você me disse agora mesmo que sabia como é ser uma borboleta, você disse “você é só uma borboleta”, e que por isso havia coisas das quais eu não sabia, como falar e sonhar, por exemplo.

- Isso mesmo. Você é só uma borboleta, mas, mesmo que saiba falar, você nunca vai saber como é difícil ser uma menina.

- E por que não?

- Porque... porque... porque você nunca foi uma menina, como iria saber?

- Então, você já foi uma borboleta, Elena? - Disse a borboleta laranja, empolgada, abanando as asas.

Elena ficou desconcertada, percebendo que caíra numa armadilha.

- Não. - Não havia desculpas para dar, nem palavras para dissimular.

- Então você não sabe o que é ser uma borboleta, e, lembre-se, nem eu, que “sou” uma, como você diz, sei o que é.

- Você é muito estranha, sabia? - Disse Elena.

- Obrigada, Elena, você também é.

A menina ficou com o rosto vermelho como um tomate maduro.

- NÃO SOU NÃO! NÃO SOU NADA! - Gritou Elena, e levantou-se correndo, voltando a chorar.

Havia uma ladeira no terreno gramado, por onde ela desceu correndo. Na metade da descida ela tropeçou e caiu, ralando os joelhos e as mãos.

- Desculpe, Elena, eu pensei que 'estranho' fosse uma coisa boa, um elogio, querida. - Disse a borboleta laranja, aproximando-se de Elena.

- MAS NÃO É! - Gritou - É uma coisa muito ruim! É horrível ser estranho, ninguém gosta de você na escola! - Dizia Elena em meio a soluços, sentando-se, abraçando-se com os seus joelhos ralados - e você fica o tempo todo sozinho – soluçou – e acaba conversando com uma borboleta idiota!

- O que quer dizer 'estranho'? - Perguntou a borboleta, ignorando a raiva, o choro e o xingamento da menina.

- Quer dizer... diferente... fora do comum... essas coisas...

- Então eu estava certa! É mesmo um elogio! E você também estava certa, quando disse que eu era estranha; eu estou mesmo estranha!

- Mas isso é ruim...

- Ruim? Como você reagiria se encontrasse com uma menina igual a você, vestindo este mesmo vestido e com esta mesma voz de maçã, como você se sentiria, Elena?

- Voz de maçã? - Perguntou Elena, parando de chorar por um momento, encarando a borboleta.

- Como se sentiria?

Ela pensou, pensou, e disse:

- Seria... seria estranho, eu acho, muito estranho.

- Mais estranho do que encontrar uma criança diferente, não é mesmo?

- Sim. Com certeza.

- Então o que você chama de estranho é normal, o que você chama de normal é estranho.

Elena meditou um pouco naquelas palavras.

- Venha, Elena, vamos dar uma volta.

Depois de um tempo, Elena levantou-se e estendeu a mão para a borboleta pousar.

- Como é seu nome? - Perguntou Elena.

- Flor Laranja.

- Que nome bonito.

- Obrigada. Elena também é um nome bonito, e é diferente, nunca tinha ouvido um como esse. Gostei. É como provar de um novo nécta. - Elena abriu um sorriso.

Enquanto elas caminhavam pelo bosque, que ficava apenas um pouco afastado da área movimentada onde Elena morava, a borboleta laranja falava.

- Veja estas árvores, Elena.

- Sim.

- Quantas delas estão iguais?

- Todas elas, as mangueiras são iguais umas as outras, assim como os coqueiros, os pés de acerola... as outras...

- Sim, se olharmos de longe, sim. Elas têm tronco, galhos, ramos, folhas, e dão os mesmos frutos. Mas não estão assim, tão iguais, quando as vemos de perto, as conhecemos e ouvimos as suas vozes.

Elena pensou em revelar o fato de que árvores não falam, e, portanto, não têm vozes, mas...

- Se chegarmos perto de cada uma delas – continuou a borboleta – veremos como seus troncos, galhos, vozes e corações estão únicos. Mesmo cada folha, cada folhinha, filha de uma mesma árvore, está única, em suas formas, tons de cor, e aromas, embora seja preciso muita sensibilidade para perceber isso.

- Por que você sempre diz “estão” em vez de “são”?

- Porque se tem uma coisa que uma borboleta aprende na vida é que nada nesse mundo é. Tudo “está”, Elena. Você não é uma menina, assim como não é “chorando”.

- Como é que é?

- Há pouco, você chorava, mas já não chora mais. Você estava chorando, e não “era chorando” ou chorona.

- Hum.

- Você está uma menina, mas antes, você estava um bebê, mais antes ainda, estava sonhando no ventre de sua mãe, e no futuro estará uma mulher, ou em um lugar que não sabemos. Assim é tudo o que nasce neste palco, com todos os atores que são chamados para esta peça, Elena. Mesmo a própria terra é assim. Os céus, os ventos, o calor, o frio, as estações, tudo está, Elena, nada é.

- Acho que entendi...

- Você não é só uma menina, você está uma menina, mas pode vim a estar muito mais, se assim quiser, assim como estava um bebê, e hoje veja como está.

- Basta, simplesmente, que...rer?

- Sim, claro. O que você chama de “simplesmente querer” é uma das forças mais poderosas de um ser.

- Mas eu não queria ser tão chorona... e mesmo assim, sou...

- Então não pense que é chorona, porque, repito, nada “é” nesse mundo, tudo muda, tudo passa. Vou te contar a história da lagartixa que pensava que era uma pedra. - Disse a borboleta ao avistar um lagarto ser atingido por um raio de sol que escapou entre as folhas de uma árvore.

- Um belo dia – começou a borboleta – uma lagartixa sentou-se em cima de uma pedra e tentou contemplar o seu reflexo num lago, mas não se viu. Sua cor era tão parecida com a da pedra que ela não conseguia separar o que era lagartixa e o que era rocha. Instalou-se assim na mente dela a ideia de ser uma pedra. E ideias, Elena, são como sementes, se encontram um solo favorável, e se são regadas, crescem e crescem muito. E também, assim como num jardim, as más ideias nem sempre precisam ser plantadas nem regadas, são como ervas daninhas que brotam, crescem e espalham-se, somente pelo do jardineiro deixar de cuidar do jardim. Assim aconteceu com a lagartixa que passou a ter certeza de que era uma pedra. E fim.

Elena passou um tempo fora do ar, e então, como se despertasse, perguntou:

- Fim? - Disse intrigada. - Mas não pode ser o fim, isso não é uma história, isso, isso, não é nada!

- Tem razão. Assim são as pedras, e assim são aqueles que pensam que são firmes e imutáveis como elas. Nossa amiga lagartixa passou o resto de sua vida parada em cima daquela rocha, até que todos seus amigos passaram a acreditar que ela era mesmo uma pedra, e deixaram de a visitar e falar com ela. Ela podia ter escalado muitas árvores, conhecido muitos lugares incríveis, feito amizade com muitas outras lagartixas e formado uma família, mas ela achava que era uma pedra, e pedras não fazem esse tipo de coisa.

- Que triste. - Disse Elena.

- Nós não somos nada, Elena, mas estamos uma porção de coisas. E aquilo que acreditamos, cresce dentro de nós e torna-se o que nós somos, ou estamos, de fato. Eu não ganhei essas asas à toa. Por muitos e muitos dias enquanto estava lagarta, eu sonhava voando acima da copa das árvores. Na pupa, esses sonhos eram ainda mais vivos e reais, e, veja, aqui estou, com asas e o céu aberto para mim, mas não sou, pois um dia deixarei de estar.

Elena pensou.

- Eu também? - Disse ela por fim.

- Sim. Tudo em baixo do grande azul. Veja, Elena, ideias, sonhos, pensamentos, são o que constrói o que chamamos de realidade. Então, a realidade assim como os sonhos, também é mutável, inconstante, passageira, e, sim, embora para muitos não, ela pode ser encantada. Existem dois mundos que encaixados formam um só, uma cria o outro, e vice-versa, constante, infinita e poderosamente.

- O mundo real e o mundo dos sonhos?

- Isso mesmo. A realidade inspira o sonho, o sonho inspira a realidade. Você sonha com o que vivencia no mundo real, e trás para o mundo real o que experimenta, ou cria, nesses sonhos. No fim, são um mundo só. Algo muito maior que eu e você, que não podemos ver por cima, para saber como se parece. Só vemos o que nos é permitido ver.

- Isso é sério mesmo? Os adultos parecem achar a vida, o mundo, tão chatos. Mas acho que na verdade são eles que são uns chatos, não é?

- Como uma pedra?

- É.

- Não são apenas as lagartixas que sofrem deste mal terrível. Sem sonhos a vida é chata, Elena. Mas é preciso coragem para viver os sonhos, quanto se está acordado, e assim cumprir o verdadeiro objetivo deles. Sabe, Elena, quando eu sai da pupa com minhas asinhas amaçadas, tive muito medo.

- De quê?

- De viver meus sonhos. Porque neles, enquanto eu estava protegida no casulo, não havia perigos, não havia dor, não havia limites, só um grande céu aberto e florestas e jardins coloridos ao meu dispor. Não é assim desse lado, que chamamos de real. Por isso tive medo. Passei um tempo parada, depois andando, até finalmente conseguir voar realmente alto e para longe.

- E como conseguiu? Como perdeu o medo?

- Confiei nos meus sonhos. Sabia que, se eu era capaz neles, era capaz aqui também, do outro lado. Entendi que a única coisa que havia entre o que eu sonhava em estar, e o que eu estava, era o medo – mas sempre somos, ou estamos, a mesma pessoa, deste ou daquele lado. Com essa confiança, dei meu primeiro salto. Com este primeiro salto, tive ainda mais certeza, e assim fui, cada vez mais longe, cada vez mais alto.

- Eu gosto de sonhar... Gosto daquele lugar onde você me encontrou. Ele, de alguma forma, me entende. Acho que ele é minha pupa.

- Isso é bom, Elena, isso é maravilhoso para dizer a verdade!

- Mas só ele, ninguém mais, me... me aceita. Tanto é, que eu não diria isso que estou a dizendo para mais ninguém. Todos querem que eu seja... que eu seja de alguma forma que eles querem. Do jeito que eles acham que é certo ser. Querem que eu seja como eles. E eles... eu não sei quem são, ou o que tentam ser. Acho que nem eles sabem.

- Olha, Elena. Entendo como pode ser difícil. Mas tudo o que você pode fazer é não deixar de sonhar, e não deixar de acreditar que, aqui desse lado, tudo é igualmente possível, basta querer, e livrar-se do medo. Está chegando a hora de eu ir embora, Elena. Mas foi ótimo te conhecer e termos essa conversa.

- Eu também gostei, Flor Laranja, você é bem legal.

- Apesar de ser só uma borboleta, não é?

- Nos veremos novamente? - Perguntou Elena, sorrindo.

- Acredito que não. Não da mesma forma que estamos aqui. Mas você ainda poderá me encontrar.

- Como? Onde?

- Você saberá o caminho, apenas acredite, e não se esqueça de mim. Adeus, Elena. E nunca se esqueça disso, escreva se puder:

Os sonhos mostram aquilo que você é capaz, acredite neles e voarás!

As duas sorriram e se despediram.

Elena voltou para casa. Cuidou dos arranhões e sentiu-se melhor pelo resto do dia e da noite. No dia seguinte, logo cedo, correu até o Meu Lugar, ansiosa para ter mais uma conversa com Flor Laranja, embora achasse que não fosse mesmo vê-la novamente. Sentou-se no tronco caído e esperou, esperou, e nada.

A borboleta já não estava lá. E Elena sabia que ela não voltaria tão cedo.

Porém, havia uma flor laranja como um sol de verão que brotara bem próxima ao tronco caído. No meio do botão da flor, havia uma semente.

Elena colheu a semente, que era, conforme Elena a movia em sua mão, ora laranja, ora dourada e parecia emitir uma fraca luz, mesmo na sombra. Após fazer isso, a flor murchou e desapareceu. Elena plantou a semente no quintal de sua casa.

A borboleta se fora, mas havia ali uma lembrança daquele estranho encontro. Lembrança esta que brotou e cresceu junto com a menina. Uma grande árvore de frutos laranjas e dourados, cresceu daquela semente. As folhas eram laranjas, no verão, amarelas, na primavera, vermelhas, no inverno e douradas no outono. Os frutos eram maçãs, mas com aquelas cores e sabores, nunca alguém jamais tinha visto.

Elena cresceu e tornou-se escritora, ficou famosa tanto por suas histórias, quanto pela suas maçãs laranjas e douradas, que ela compartilhava com seus amigos mais próximos, e que, diziam, comer uma maçã daquelas era como provar de uma história doce, como morder um sonho lúcido.

Suas histórias, entre elas uma série denominada “As Aventuras da Borboleta Laranja”, encantavam crianças de toda parte do mundo e alguns adultos que ainda viviam nos dois lados da vida.

Muitas delas eram ecos daquilo que a borboleta a dissera e mostrara, além de árvores crescidas das sementes-ideias plantadas pela borboleta na imaginação de Elena naquele dia.

Poucos amigos ela fez ao longo da vida, é preciso que se diga, mas esses poucos eram verdadeiros, eram pessoas que viviam, assim como ela, assim como a borboleta, dos dois lados, nos dois mundos que na verdade são um só.

Elena aproveitava os momentos em que podia ficar sozinha para criar, embaixo da árvore de maçãs, que era seu novo Meu Lugar - uma vez que o bosque já não mais existia (não mais estava) naquela época. Ali, ela sonhava, tecia suas histórias e plantava seus sonhos - exercia aquilo que aprendera da inesquecível borboleta Flor Laranja.

Aprendera a fechar o casulo e a sonhar com as asas que queria ter.

E, quando saia dele, não tinha medo de voar.

Davyson F Santos
Enviado por Davyson F Santos em 01/12/2012
Reeditado em 03/12/2012
Código do texto: T4014436
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