A MENINA E O POETA IV - A Crise
IV
A Crise
Como a ansiedade era grande e o desejo de rever o poeta maior do que sua capacidade de esperar; certo dia, a menina resolve ir novamente à casa do poeta e não o encontra. Frustra-se. Pergunta aos vizinhos. Havia seis meses que o poeta mudara. Ela não se apercebera disso. Afinal de contas as cartas, e-mails e bate-papos pela Internet transcorreram normalmente naqueles meses.
- Já tem aproximadamente uns seis meses que o senhor Alex Guima mudou-se do prédio...
O porteiro informava distraidamente à pequena garota, pondo atenção na ansiedade que a dominava.
- Mas ele não deixou nenhum telefone de contato; uma informação qualquer que me ajudasse a descobrir seu paradeiro?
- Não! Nos primeiros dois meses ele até que retornou algumas vezes para acertar algumas pendências com o locador do imóvel. Depois disso, não mais o vi...
Ana Luíza olhava firme para o senhor, que instalado na portaria do Edifício, ganhava uns ares de autoridade naquele momento que a incomodava bastante. Encarava o porteiro, o tanto que a sua timidez permitia, mas não se convencia de que Alex Guima tinha desaparecido assim tão abruptamente.
- Se pudesse ajudar, bem que o faria, pois percebo a sua vontade de encontrá-lo...
O porteiro arrematou a conversa, enquanto a garota se despedia e se encaminhava para a porta principal do prédio. Ela ia embora levando junto uma decepção tamanha.
É claro que ele sabia mais informações de Alex Guima do que expusera naquele momento. Recebera, porém, orientação expressa do escritor para guardar as suas cartas e passar-lhe todas as informações úteis, preservando sua privacidade. O porteiro seria regiamente recompensado se colaborasse com o escritor.
Ana Luíza ganhou a rua e foi caminhando à esmo pela calçada, na indefinição angustiante dos que caminham sem rumo, portando pensamentos dissociados do espaço físico que ocupam. Naquele instante duas orientações distintas se percebiam nela: o corpo vagava comandado mecanicamente pelos pés e a mente viajava tartamudeando esperanças provindas de um coração desassossegado.
Foi nesse transitar descompassado, por entre carros e gentes da urbis, que a garota, após mais de meia hora de perdição, achou-se sentada nos fundos de uma lanchonete, comendo um sanduíche e pensando na vida. Ainda não atinara o quanto o poeta estivera presente em sua vida nos últimos meses e o quanto ela se tornara dependente dos seus escritos, do seu estilo literário, da sua filosofia de vida, da sua visão de mundo.
É exatamente neste momento de procurá-lo e não encontrá-lo que a menina se dá conta de que não consegue mais viver sem o poeta. Toma um susto! E diz de si para si: “Não pode ser. Ele tem idade para ser meu pai. Será que estou apaixonada por ele?” Instaura-se uma profunda crise em seu ser interior.
Não se sabe por que cargas d’água, mas a menina está perdidamente apaixonada pelo poeta e só agora, no momento de desejar encontrá-lo e não poder satisfazer esse desejo, que vê o quanto sua vida está ligada à dele e o quanto ele lhe é importante.
Paralelamente o poeta fica sabendo que a menina está à sua procura. Tudo indica que a sua decisão de se mudar era exatamente por que se percebera gostando da garotinha. Como não tinha coragem de assumir a verdade dos fatos, decide por sumir do mapa. Pára de se corresponder com a menina. Cessam os e-mails. Muda o MSN. A menina se desespera.
______________________________________
(*)Observação: Se deseja continuar a ler o conto em seu próximo capitulo, A DECISÃO, acesse o link abaixo:
http://www.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=400565