Salve Jorge!
 
Ele nascera em vinte e três de abril, dia de São Jorge. Sua mãe dizia que na hora em que ele veio ao mundo, soaram os foguetes em homenagem ao santo protetor e ela então modificou seus planos, o menino que deveria ser Marcos passou a se chamar Jorge. Saudado por foguetes e rojões que iluminaram e coloriram o céu, nasceu Jorge. Salve Jorge!
- Esse menino será um guerreiro, vaticinou o pai.
Um garotão de quatro quilos e cinquenta e seis centímetros, bonito e forte, era  o segundo filho do casal.
Aos três anos ele estava enorme, corria e falava tudo, mas ainda procurava o peito da mãe e reclamava quando ela lhe oferecia em troca uma mamadeira. Ele sugava com volúpia todo o leite do peito e depois ainda tomava a mamadeira, insaciavelmente. Não tinha hora  nem lugar, lá estava ele mamando, no ônibus, na fila do banco, até na hora em que a mãe ia ao banheiro. Quando ela se recusava a lhe dar o seio, ele gritava ameaçador:
- Vou falar com meu pai, você quer me matar de fome!
Jorginho parecia com sua mãe, uma mulata vistosa, cheinha sem ser gorda, que se olhava no espelho e se intitulava de gostosa. De olhos castanhos e cabelos finos, muito encaracolados, podia ser classificada como morena queimada ou mulata clara. Seu nome, Isaura.
O pai, também mulato sarará, quando estava com os cabelos crescidos parecia-se com o personagem do Chico Anísio, o Coalhada, aquele jogador de futebol. Seu nome era Maurício, seu apelido, Coalhada.
Eles sempre moraram numa vila no subúrbio de Marechal Hermes,  no Rio de Janeiro, numa casa de vila que ele herdara dos pais.
Jorginho tinha um diferencial, era um mulatinho de olhos verdes, o que chamava a atenção de todos, e o tornava mais faceiro.
São os olhos do meu bisavô, dizia o pai...
A vila, como a maioria das vilas, tinha uma única entrada e saída, mas com formato arredondado, tendo no centro uma área de lazer usada por todos os moradores. Nessa área havia uma quadra de esportes,onde meninos e adultos jogavam bola, faziam  e comiam churrascos.
Naquela tarde iriam disputar a final de futebol de salão entre os times dos que moravam no lado direito, com os que moravam no lado esquerdo da vila. Os ânimos estavam exaltados e ninguém queria perder   porque havia rivalidade entre eles.
Coalhada liderava o lado direito e jogava na linha e Navalhada, que tinha uma cicatriz no rosto, jogava no gol e liderava os jogadores que moravam no lado esquerdo.
Jorginho estava no colo do padrinho, o Zequinha Frajola, apelido que tinha desde novo por ser todo manhoso, e ter  também olhos verdes, como Jorginho.
Final de jogo, empate de quatro a quatro e pênalti a favor do time da direita. Coalhada se prepara para bater a penalidade, quando Cicatriz, olhou bem dentro dos olhos de Coalhada, virou-se em direção onde estava Frajola e Jorginho,  e disse:
-  Pai e filho vão assistir eu agarrar essa bola, seu corno!
Os dois se atracaram e houve uma briga generalizada entre os dois times e os assistentes. Cicatriz levou uma cacetada na cabeça, não se sabe de quem e foi levado desmaiado para o Pronto Socorro, chegando lá sem vida.
A polícia não conseguiu apurar a autoria do crime que foi classificado resultante de tumulto generalizado.
Coalhada vendeu a casa  e se mudou com a família, está morando em Madureira, Isaura atualmente usa nos olhos, novas lentes verdes e o compadre Frajola, sempre fiel, nunca deixa de estar junto do afilhado...
Salve Jorge!